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          |  Reprodução 
              do cartaz da campanha |  NippoBrasil 
        - Por que decidiu se candidatar?Iolanda Keiko Ota - As três milhões de assinaturas que 
        recolhemos ao longo de um ano e meio (cobrando maior rigidez em casos 
        de crimes hediondos) me levaram à candidatura. Na época, 
        eu atendia mães, crianças vítimas de violência, 
        então ficava preocupada, achávamos que alguém iria 
        abraçar nossa causa e faria algo, e isso não ocorreu. Esse 
        foi um dos motivos que me levaram a ser candidata a deputada federal.
 Nippo - 
        Qual o balanço geral de sua primeira campanha?Iolanda - Essa campanha foi maravilhosa. Mesmo em um curto espaço 
        de tempo, logo começou a ganhar força, e não teve 
        muita ajuda do partido, foi na base do voluntariado mesmo. Eu ia fazer 
        campanha nas ruas, entrava em comércios, meu marido ia para um 
        lado e eu ia para o outro, as pessoas queriam multiplicar isso, levando 
        nossos santinhos. Adesivamos nosso carro e as pessoas também 
        queriam adesivos. Nos paravam na marginal, na Zona Leste. Foi uma campanha 
        gostosa de se fazer, pois tivemos muita aceitação de pessoas 
        que nos abordavam na rua e diziam voto em vocês, amo 
        vocês. O telefone não parava de tocar, o site teve 
        muito acesso, foi um trabalho voluntariado que ganhou corpo e chegou nesse 
        número de votação, de 213.024 votos. Se eu tivesse 
        tido mais tempo, mais disposição na mídia, eu teria 
        um número ainda maior. E não consegui ir ao interior, só 
        ficamos em São Paulo, onde nós moramos. Então foi 
        muito bom, esse amor dos voluntários, dos amigos, da vibração 
        dos eleitores
 Nippo - 
        Como foi a participação de seu marido nesse processo?Iolanda - Ele também é uma figura persistente e foi 
        o meu maior incentivador. Seu Ota é forte, nós 
        conversamos muito, trocamos ideias, amadurecemos e chegamos num consenso. 
        Sou firme, ele também é, então deu tudo certo.
 Nippo - 
        O expressivo número de votos surpreendeu você?Iolanda - Eu achava que ia entrar devido ao meu trabalho de 13 anos 
        (na ONG), mas não esperava essa votação expressiva, 
        então me surpreendeu, sim. Quero dirigir a minha eterna gratidão 
        a todos, e vou dar o melhor de mim para que as pessoas fiquem honradas 
        e sintam que aquele foi um voto consciente.
 Nippo - 
        Quais são seus planos na Câmara Federal?Iolanda - Uma bandeira minha é contra a violência, para 
        termos uma lei mais rígida contra crimes bárbaros, hediondos, 
        para quem mata crianças, violenta mulheres.
 Nippo - 
        E quais medidas concretas podem ser adotadas?Iolanda - No Brasil, quem mata 15, 20, pega no máximo 30 anos 
        de cadeia, mas existe a progressão penal, que é um direito 
        que o preso tem, que diminui para 2/5. Fazendo as contas dão 12 
        anos no máximo. Para os crimes bárbaros, a meta é 
        elevar de 30 para 100 anos e aplicando os 2/5, serão 40 anos. Também 
        acredito que existem múltiplas causas que levam a pessoa a ser 
        violenta, então outra bandeira que eu gostaria de levantar é 
        a prevenção à violência. Quero apoiar uma educação 
        de qualidade no período integral e cursos técnicos nas escolas 
        públicas. Vou instituir o Dia nacional do perdão, 
        pois eu acho que o ódio é o que destrói, corrói 
        as pessoas. Percebemos que algumas dessas pessoas violentas nada mais 
        são que crianças que viram e sofreram violência dentro 
        de casa (não são todos os casos). Também vamos criar 
        a Semana da cultura e da paz, onde vamos rever o amor ao próximo, 
        resgatar valores importantes, valorização da vida, conscientizar 
        a importância da paz e da força do perdão na nossa 
        vida. É um conjunto de leis que irá se chamar Ives Ota para 
        promover a paz e a justiça no Brasil.
 Nippo - 
        Como encara o fato de ser a primeira mulher nikkei a ser eleita. Isso 
        a deixa com mais responsabilidade?Iolanda - Eu nunca tive vontade política. Porém, alguns 
        anos após a fatalidade, recebi muitos convites para a política, 
        mas eu ainda estava me curando da dor. Agora achei que era a hora de me 
        candidatar. Estou muito orgulhosa por ser a primeira nikkei eleita, pois 
        eu tenho só a agradecer aos meus ancestrais.
 Nippo - 
        Como é o contato da senhora com a comunidade?Iolanda - Achei que a comunidade nikkei teve uma boa aceitação, 
        muitas pessoas abraçaram a causa de forma voluntária. Tive 
        apoio de presidentes de clubes, então foi uma corrente do bem. 
        Participei de festas e festivais japoneses, fui conversar com o eleitor, 
        fui buscar voto.
 Nippo - 
        Quais as atividades desenvolvidas no dia a dia pelo Instituto Ives Ota?Iolanda - Nós temos treinamentos de equilíbrio mental, 
        através da reconciliação, a terapia do perdão, 
        pois as pessoas têm duas mentes: o consciente e o subconsciente. 
        O consciente é o que estamos fazendo agora. O subconsciente é 
        aquele que entra na nossa mente sem a nossa ordem, que são as coisas 
        negativas que acontecem, coisas que são jogadas na nossa mente. 
        O treinamento visa tirar esses acontecimentos do pensamento. Temos atividades 
        no Dia das Crianças, na Páscoa, quando distribuímos 
        8 mil ovos para as crianças, o Natal que fazemos na pracinha do 
        Ives. Damos também palestras na Fundação Casa, em 
        escolas da periferia, igrejas. No cotidiano da instituição, 
        temos atendimento psicológico para as crianças de escolas 
        públicas. São cinco profissionais que atendem essas crianças, 
        fazendo terapia. Conversamos com elas, com os pais, é feita uma 
        terapia do perdão com os pais. Todo ser humano é divino, 
        o que camufla é o sentimento ruim, de mágoa, rancor, vingança. 
        Então essa terapia é uma terapia de equilíbrio mental, 
        faço dinâmicas, pois a criança só vai melhorar 
        se o pai melhorar. É um trabalho conjunto, não adianta darmos 
        condições para crianças se elas chegarem em casa 
        e a mãe está bêbada, batendo nos filhos, então 
        trabalhamos essa interação para conscientizar. As psicólogas 
        fazem treinamento com eles, usam os brinquedos que temos na instituição 
        e eu faço essa parte de tirar o ressentimento.
 Nippo - 
        A senhora é muito ligada à religiosidade. Como isso a ajudou 
        no conforto após a tragédia com seu filho?Iolanda - Eu posso dizer que, se não houver fé, se não 
        acreditarmos em Deus, a gente não sai do problema. Porque tudo 
        é Deus. Eu não tenho uma religião específica, 
        um sectarismo religioso, mas eu acredito muito em Deus. Eu vejo muita 
        coisa boa, gosto da filosofia Seicho-no-ie, também gosto do budismo, 
        pois sou oriental, então carrego muito do culto aos nossos ancestrais. 
        Tenho certeza que Ives está abençoando toda essa corrente 
        do bem, acredito que essa minha entrada no Congresso vai ser uma coisa 
        boa.
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