(Foto:
Cristina Izumi Sagara)
Ao
caminharmos sobre a areia à beira-mar... cada um de nós
deixa uma trilha única de pegadas... Há aqueles
que conscientemente ou propositadamente pisam com mais força,
para tentar marcar suas pegadas mais profundamente, assim como
também há aqueles que simplesmente deixam suas pegadas...
entretanto, no vaivém das ondas elas são simplesmente
apagadas. Profundas ou sutis... as ondas que se quebram sobre
a areia se espalham e encobrem todas as marcas deixadas em seu
caminho. Uma nova trilha de pegadas... uma nova onda... uma nova
pegada... uma nova onda... e assim numa sucessão, infinitamente.
Lembremos que, onde deixamos nossas pegadas, outras pegadas já
foram deixadas um dia e apagadas cada vez por uma nova onda e
ainda que não mais visíveis, trilhamos sobre as
pegadas de nossos antepassados.
Nós,
seres humanos, temos a tendência de querer que nossas próprias
pegadas sejam mais duradouras, mais profundas ou maiores que a
de outros... puro egoísmo e ambição. Olhem
como minha pegada é mais profunda... olhem como é
grande... as ondas não vão escolher a pegada
a deixar ou a apagar... todas serão apagadas igualmente
e, a cada vez, a areia será renovada para marcar novas
pegadas. Ao serem apagadas e se tornarem invisíveis, não
significa que não mais existem simplesmente. Cada pegada
e cada onda foram reais, não se repetirão jamais
e ficarão marcadas no coração de cada um
daqueles com quem tivemos o privilégio de compartilhar
cada momento destes. Há acontecimentos, encontros e momentos
que só podem ser experimentados por cada um de nós
num determinado momento e numa determinada situação
muito singular... o ciclo da grande mãe-natureza deveria
nos servir como um precioso exemplo no qual nós seres humanos
poderíamos buscar lições de como viver e,
assim, poderíamos viver simplesmente num mundo sem apegos.
Belas
pegadas... no momento que marcadas sobre a areia, a luz
do sol ou do luar fazem brilhar nossa trilha num instante de beleza
ímpar. Se pisadas de qualquer jeito... não há
sol ou luar que as façam reluzir... serão apenas
buracos cavados na areia.
As
ondas vão e vêm apagando as pegadas... arredondando
as arestas, polindo os pedregulhos e quebrando-os em grânulos,
ressetando a areia para novos passos que traçarão
novos caminhos e novas pegadas.
Enquanto
existir a Terra, existirá a areia por onde um dia andamos...
enquanto houver areia, por mais invisíveis... nossos passos
bons ou ruins... estarão ali marcados em cada
grãozinho de areia.
A própria
História... é uma sucessão de preciosas pegadas
que não mais existem no mundo físico, entretanto,
sabemos que, num determinado momento, existiram e que efetivamente
fazem parte do dia-a-dia de nossas vidas.
A
ponte...
Ao ver uma ponte antiga, uma pessoa disse: ¨ Mas
que ponte mais feia e velha! Congestionada com tudo que
é gente..., enquanto no mesmo momento, do outro
lado da ponte, uma outra pessoa admirava esta mesma ponte:
E pensar que esta ponte tão antiga resguarda
os passos de todos os seres que por ela atravessam... crianças,
idosos, homens, mulheres, gatos, cachorros... dias de sol,
de chuva, de neve, de tempestade ou ventania... dá
passagem para todo e qualquer ser que por ela precise passar,
independente de qualquer condição....
E nós, seres humanos!? Conseguimos em qualquer situação
dar passagem a outro e manter constantemente a compaixão
em nossos atos!? O ser humano tem a maravilhosa capacidade
de ver e sentir o belo... e, ao despertarmos para esta capacidade
que existe em cada um de nós, torna-se possível
compartilhar esta capacidade com outros... aprendemos a
praticar a compaixão. Ao lembrarmos que uma situação
pode ser considerada por diversos pontos de vista, aprendemos
a ceder, a compreender o outro e também a discernir
que buscar o lado positivo das coisas em qualquer situação
traz luz ao nosso dia-a-dia.
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