(Foto: Divulgação)
Famoso
pela produção de soro contra picada de cobras, aranhas e
escorpiões, o Instituto Butantã, vinculado à Secretaria
da Saúde do Estado de São Paulo, começa a explorar
também o mundo aquático, para buscar uma maneira de neutralizar
o veneno de peixes peçonhentos (aqueles que, além da glândula
do veneno, têm um aparato inoculador, no caso, espinhos). Os estudos
tiveram como ponto de partida o Thalassophryne nattereri, um peixe
comum nas regiões Norte e Nordeste do País, conhecido como
niquim, ou peixe-sapo, que vive em águas salobras (encontro de
mar com rio).
Hoje, as pesquisas
também abrangem o bagre (animal marinho e de água doce)
e o peixe-escorpião (marinho), presentes em quase todas as regiões
do Brasil, e a arraia (marinho e de água doce), comum na região
norte. A produção de um único soro para neutralizar
o veneno de todos esses peixes é uma das possibilidades em verificação.
Os estudos
sobre peixes peçonhentos colocam o Brasil entre os pioneiros no
tema. Em todo o mundo, apenas a Austrália desenvolve soro para
veneno de peixe. Lá, os acidentes causados pelo stone-fish (peixe-pedra),
do mesmo gênero do peixe-escorpião, comum no Oceano Índico,
são tratados com soro.
A previsão
é que o soro leve cerca de um ano para começar a ser usado
em clínicas. Isso porque ele depende da avaliação
e da autorização de um comitê médico. E precisará
de mais dois anos para se tornar um soro comercial.
De acordo com
a bióloga Mônica Lopes Ferreira, que coordena os estudos
sobre peixes peçonhentos no Butantã, embora os peixes sejam
de espécies diferentes, o soro para o niquim também se mostrou
eficiente contra os efeitos causados pelo Thalassophryne maculosa.
O niquim vive
principalmente em águas salobras, comum em regiões onde
há encontro de águas marítimas e fluviais. Tem aproximadamente
15 cm de comprimento, é mais largo na altura das nadadeiras peitorais,
mais fino na parte de trás e não tem escamas, mas é
coberto por muco. Costuma enterrar parte do corpo na areia, em águas
rasas e é bastante resistente. Chega a ficar de 8 a 12 horas fora
da água.
Por sua coloração
acinzentada, é comum ser confundido com a areia. Possui dois espinhos
na região dorsal e um em cada lateral, recobertos por uma glândula
de veneno. Esses espinhos são vazados e, quando o peixe sofre pressão,
como no momento em que é pisado por um pescador, a glândula
desce e o veneno é liberado pelo espinho. É como se
ele aplicasse uma injeção, diz Mônica.
A gravidade
do ferimento varia de acordo com a quantidade de veneno liberada. Além
de fortes dores, causa edemas, bolhas e até necroses no membro
atingido.
Bagre
é o peixe que mais causa acidentes
Segundo a pesquisadora,
a maior incidência de acidentes com peixes peçonhentos no
Brasil se dá com o bagre. Comestível e comum no Brasil,
o bagre causa acidentes principalmente em pescadores. Os ferimentos, porém,
são mais leves que os causados pelo niquim. Causam muita dor e
edemas, mas não chegam a provocar necroses.
Já as
arraias são bastante perigosas. Comuns tanto em águas pluviais
quanto marinhas no Nordeste brasileiro, as arraias têm um ferrão
na cauda capaz de provocar edemas, hemorragias e necroses. Se não
tivesse o veneno, a arraia já causaria ferimentos graves,
diz a pesquisadora.
Isso porque
o animal, quando se sente ameaçado, usa a cauda, que é como
um chicote, grande e serrilhado, causando cortes semelhantes aos de uma
faca. Esse quadro se agrava com a presença do veneno,
explica Mônica Lopes Ferreira.
Peixe-escorpião
pode levar à morte
Considerado
o pior dos peixes peçonhentos, o peixe-escorpião é
capaz até de levar à morte. Isso porque além dos
ferimentos locais, também pode causar efeitos sistêmicos,
ou seja, afetar coração, pulmão e rins. A gravidade
do acidente depende da quantidade de veneno inoculada.
Cada espinho
libera grande quantidade de veneno, e os ferimentos com mais de três
espinhos são considerados muito graves. Podem causar taquicardia,
dispnéia (dificuldade de respiração), convulsões
e morte.
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