por
Kátia Sattomura / NippoBrasil
O Consulado
Geral do Japão em São Paulo emitiu, até agosto
deste ano, 19 vistos para yonsei (quarta geração).
O número de solicitações, no entanto, não
é divulgado pelo organismo internacional.
A quantidade
de aprovações está longe da expectativa traçada
pelo governo japonês: 4 mil yonseis por ano. Os pré-requisitos,
que não são poucos, podem ser as causas do baixo
índice de 1% do limite estabelecido. No geral, com dados
de diversos países - incluindo o Brasil - já foram
concedidos 43 vistos para nikkeis da quarta geração
desde a liberação em 1 de julho de 2018, segundo
o jornal Nikkei Nihon-Keizai.
Para o professor
Ângelo Ishi, do departamento de sociologia da Universidade
Musashi, no Japão, os números podem ser desanimadores
para filhos de sanseis (terceira geração) e favoráveis
ao governo japonês. "As condições severas
impostas aos yonseis são parecidíssimas com os requisitos
para os estagiários do tipo 1. Moral da história:
o governo não quer nem nikkeis, nem outros estrangeiros,
morando em definitivo no Japão. O governo quer dekasseguis
no sentido original da palavra, de ir embora o quanto antes do
país tão logo façam um pé-de-meia",
diz.
O rigor imposto
aos yonseis também assusta o docente nikkei, neto de japoneses
e radicado há mais de 20 anos no Japão. "Não
há qualquer lógica que consiga justificar por que
alguém da quarta geração seja tão
diferente de alguém da terceira geração,
até porque a própria noção de ascendência
é relativa e as populações nikkeis têm
uma extraordinária diversidade. Um segundo ponto que pode
ser levantado - e eu sei que isso pode gerar polêmica -
é o exemplo de países como a Itália, que
não impõe qualquer limite de geração
para um descendente de italianos pedir a cidadania. E note que
aqui estamos falando de cidadania, de ganhar o passaporte, algo
muito mais valioso do que um visto."
Estudioso
no assunto do comportamento dos residentes estrangeiros no Japão,
Ishi acompanhou de perto todo o desenrolar da liberação
de visto para yonseis e, inclusive, chegou a sugerir alterações,
mas sem muito sucesso. Uma delas foi quanto à limitação
da idade, de 18 a 30 anos. Em resposta, o governo justificou:
"queremos que os yonseis aproveitem os conhecimentos e experiências
adquiridos no Japão para atuarem longamente como um elo
entre o Japão e as sociedades nikkeis no exterior; por
isso, estabelecemos a mesma faixa etária dos vistos de
Working Holiday".
"O que
podemos ler nas entrelinhas desta resposta? Que o governo conta
claramente com o retorno dos yonseis para o Brasil depois de um
ou mais anos no Japão. E não está contando
com eles para atuarem como uma ponte nas relações
bilaterais (por exemplo, Brasil-Japão) no sentido amplo,
mas sim como agentes para (re)vitalizar as comunidades nikkeis",
afirma Ishi.
Se modificações
não ocorreram para a questão da idade e para a liberação
do cônjuge, o governo japonês, por outro lado, facilitou
a regra do idioma. "O Ministério (da Justiça
do Japão) concordou que bastará que seja 'sootoo'
ou 'equivalente ao' nível 4 para obter o visto e, o N3,
para renová-lo. E seu material explicativo usa o termo
'teido' ("próximo de"), ou seja, as notas de
outros exames também poderão ser aceitas (e não
só o Exame de Proficiência em Língua Japonesa
oficial - JLPT). O governo não pretende ser tão
severo quanto se temia, pois está abrindo uma brecha para
outras formas de comprovação, além do famoso
exame. A ambiguidade dos termos 'sootoo' e 'teido' dá margem
para que a imigração aceite certificados de conclusão
de inúmeros cursos de japonês e, eventualmente, reconheça
quem tiver vencido concursos de oratória ou redação."
Para os yonseis
que pensam em ir para o Japão com esse visto específico,
cujo prazo máximo de permanência no país é
de 5 anos, o Ministério já sinalizou uma prorrogação
aos que estejam aptos e que queiram se candidatar a um outro tipo
de visto ao final desse prazo.
"Minha
leitura é de que o governo espera que uns e outros consigam
um nível tão alto de nihongo (japonês) e de
escolaridade que consigam migrar para a categoria de ryugaku (estudos)
ou de Koodo Jinzai (migrantes altamente qualificados, aquele visto
baseado em pontuações)", conclui Ângelo
Ishi.
Pré-requisitos
para o 1º visto
Idade entre 18 e 30 anos
Não
ter ficha criminal no país de origem
Ter
boa saúde e ter plano de saúde
Não
levar a família
Comprovar
capacidade de subsistência no Japão (poupança
própria ou emprego previsto)
Ter
reserva financeira para a viagem de retorno
Comprovar
proficiência básica do idioma japonês (nível
4 no JLPT)
* No Japão,
o yonsei deve ter um "assistente de recepção",
que deverá aconselhá-lo sobre o aprendizado da cultura
japonesa e a vida no Japão, assim como ajudá-lo
com procedimentos de imigração, entre outros assuntos.
Renovação
do visto (máximo 5 anos)
Fazer
ao "assistente de recepção" relatórios
mensais sobre aprendizado da cultura japonesa e situação
de trabalho
Passar
em exames de domínio do idioma em níveis intermediário
(2º ano) e intermediário-avançado (3º
ano)
Mais informações
no site do Ministério da Justiça do Japão:
www.moj.go.jp/nyuukokukanri/kouhou/nyuukokukanri07_00166.html
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