Como a maioria das decisões é tomada em momentos
de rebeldia, seja na adolescência, seja no inconformismo
assumido daqueles de mais de 40 anos, muitas vezes as pessoas
definem aquilo que não querem, mas não têm
claro o que preferem da vida. Não querem, por exemplo,
um trabalho que exija viagens ou detestam mexer com números,
ou ainda não gostam de lidar com gente o dia inteiro.
Mas eliminar opções não significa que
você tenha encontrado alguma. Além de saber o que
não preferimos, temos de definir aquilo que preferimos:
a nossa vocação.
Como você vai se sentir melhor no jogo da vida: sendo
um goleiro, um defensor ou um atacante? Querer transformar um
artilheiro em goleiro será um problema para o jogador,
para o time e para toda a torcida! A pessoa tem de estar onde
se sente melhor e onde seus talentos podem ser usados plenamente.
Isso não significa que o atacante não possa ajudar
a defesa, nem que o defensor não ajude o ataque, mas
o importante é que cada um siga e desenvolva a sua verdadeira
vocação.
Para encontrar a sua vocação, é preciso
controlar a ansiedade e aprender a conhecer melhor a si mesmo.
Na maior parte das vezes, quando oriento algum executivo ou
empresário numa fase em que é preciso redefinir
suas prioridades de vida, percebo que mal começo a responder
a uma pergunta e ele já está levantando outra
questão. Nesse tipo de busca, escutar é algo importantíssimo
para descobrir nossa real vocação, especialmente
quando essa voz de fora consegue despertar a voz interior.
Reservar alguns momentos para ficar em silêncio é
fundamental para avaliar a própria vida e encontrar novos
rumos. Gilberto Gil canta numa de suas canções:
Se eu quiser falar com Deus, tenho que ficar a sós.
Ele sabe que é preciso estar consigo mesmo para ouvir
o Deus que existe em nosso interior. Devemos procurar um lugar
silencioso, uma praia, talvez uma montanha, mas também
pode ser o nosso quarto, longe de revistas, livros, televisão,
computador, e ficar sentados ou caminhar para escutar essa voz
interior, geralmente abafada pelas preocupações
e correrias cotidianas.
Você é o único que pode criar esse tempo
para pensar em sua vida. Não fuja de si mesmo. O grande
encontro é com você. A pessoa que precisa conhecer
hoje é você, com sua alma, com suas reais preferências.
Se conseguir vencer a tentação de fugir, terá
a chance de se encontrar consigo mesmo. É um encontro
solitário. Nesse silêncio interior, começam
a aparecer alguns arrependimentos, algumas lembranças
do passado, e isso é ótimo! Você já
está de novo no seu caminho. É hora de quitar
algumas dívidas consigo mesmo e perceber que ainda há
muito por fazer. Chegou o momento de ter uma conversa especial
com a própria consciência. E aí... Muita
sinceridade e boa sorte!
Se você já consegue escutar a si mesmo, faça,
agora, algumas reflexões. Que tal conhecer melhor suas
ideias acerca do futuro? Vale a pena visitar seus sonhos de
adolescência. O que faltou para realizá-los? Será
que eles ainda estão vivos dentro de você? O que
gostaria de fazer de verdade na vida? Analise esses desejos
independentemente das chances de torná-los realidade.
Na busca da vocação, é bom também
conversar com outras pessoas, mas dê prioridade sempre
para ouvir a sua consciência. E não queira tomar
decisões com muita rapidez. Deixe a decisão amadurecer.
Não adianta, por exemplo, entrar precipitadamente numa
faculdade para se arrepender dois meses depois. Há sempre
um intervalo entre a conversa íntima e a tomada de decisão.
É claro que podemos sentir angústias nesse meio-tempo.
Por isso, paciência é fundamental. E, quando fizer
a sua escolha, saiba que ela é somente o princípio
de uma longa caminhada.
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