por
Kátia Sattomura / NippoBrasil
A crise
econômica que assola o Brasil e o alto índice de
desemprego - atuais 11,8% ou 12,6 milhões de pessoas -
resulta na crescente mudança de brasileiros para outros
países, como Portugal e Japão.
Os
descendentes de japoneses movimentam, cada vez mais, os aeroportos
neste ano de 2019, rumo ao país de seus antepassados, com
planos a longo prazo e em um perfil bem diferente de antigamente,
do fim dos anos 90, auge do "movimento dekassegui".
Hoje, ao contrário da ida solitária do chefe da
família ou do casal, família inteira compõe
o novo morador do Japão.
"Em
geral, o novo dekassegui é casal jovem, de 40 anos, com
filhos, e que pensa em ficar um longo tempo lá, até
a criança se formar na faculdade. Eu trabalho (com agenciamento
de empregos no Japão) há mais de 28 anos e, no início,
era contra o casal levar criança. Agora, vejo que quem
estuda em escola japonesa e depois volta para o Brasil passa nas
melhores universidades daqui. Mas é preciso muito cuidado
com ela, com a diferença de cultura", diz Tadao Ebihara,
da agência ASP.
A mesma
impressão desse perfil tem Kleber Ariyoshi, da agência
Itiban. "O perfil vem mudando. Hoje, tem muitas famílias
inteiras indo para o Japão, e também aumentou a
procura de pessoas que estão indo pela primeira vez. Essas
pessoas estavam com medo de ir para lá após a crise
de 2008, mas agora estamos com um número bem significativo
(deles)", conta o diretor, que diz que embarca entre 400
e 600 pessoas por mês.
Em
comparação ao ano passado, o diretor Ariyoshi diz
que houve um crescimento de 50% de brasileiros interessados em
trabalhar no Japão, em fábrica de autopeças,
alimentos e eletrônicos, cujo salário médio
é de 250 a 320 mil ienes (US$ 2,3 mil a US$ 3,3 mil/mês).
Esses
valores, no entanto, são resultados de muito trabalho.
Hideto Miyazaki, da agência Miyazaki Tour, ressalta que
só com uma grande quantidade de horas extras é possível
chegar a essas cifras, o que não vem acontecendo hoje em
dia no setor automotivo e de componentes eletrônicos. "Trabalhadores
desses ramos, que têm serviços 'mais pesados', estão
mudando para as fábricas de alimentos, que, dependendo
da época, têm muitas horas extras. São cerca
de 12 horas/dia de trabalho, em pé, mas o salário
base é mais baixo do que os outros setores", avisa.
Para
as vagas acima, o idioma japonês não é essencial,
mas o domínio da língua é um diferencial
para funções com melhor remuneração,
como cuidador de idosos ou na construção civil.
De acordo com Ebihara, o mesmo não se aplica à criança.
"Os pais devem preparar o filho no básico (da escrita)
hiraganá e katakaná. É essencial a criança
saber isso antes de ir para o Japão, onde deve estudar
em escola japonesa. Mas o brasileiro ainda não leva isso
a sério e pensa que 'se dá um jeito'", afirma
ele.
A preocupação
de um melhor convívio social também vem do Japão.
Segundo Kleber Ariyoshi, "os empresários japoneses
me cobraram exatamente isso (estudar o idioma e a cultura) e falaram
que se o brasileiro não se atentar a esse detalhe perderá
espaço para os vietnamitas, que hoje já são
350 mil no Japão contra 200 mil brasileiros". "Infelizmente,
têm muitas pessoas que moraram por vários anos -
10 ou mais - no Japão e não aprenderam a cultura
e o idioma japonês. O percentual de pessoas que foram para
lá e sabem (o japonês) fica abaixo de 10%",
diz ele, lembrando da importância de "fazer um planejamento
de vida para quando voltar ao Brasil".
De
outro lado, o governo japonês também trabalha para
melhor atender aos estrangeiros. A Agência de Serviços
de Imigração do Japão irá investir
US$ 8,85 milhões em 95 cidades que abrigam mão de
obra de outros países. A intenção é
abrir cerca de 100 postos de consulta e assistência. O país,
que no início do ano reviu a lei de imigração,
espera um aumento do número de trabalhadores do exterior.
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