O meu DNA de nikkei acaba sempre aflorando
quando vejo na imprensa notícias que dizem respeito ao Brasil
e ao Japão.
É o caso da taxa de homicídios, que
saiu recentemente nos jornais. Segundo a ONU, o Brasil apresenta
uma taxa de 29,1 homicídios por 100.000 habitantes, enquanto
o Japão apresenta 0,73/100.000. Os baixos índices
no Japão indicam uma sociedade estável, com pouca
desigualdade social, além de reduzido nível de posse
de armas. Enquanto que no Brasil ocorre o oposto. O grande desnível
econômico e estrutural, o tráfico de drogas, a violência
policial e as altas taxas de impunidade da Justiça são
algumas explicações para as elevadas taxas do país.
Tamanha contradição apresenta fatos curiosos: os policiais
japoneses enfrentam problema da falta do que fazer, o que os levam
a dedicarem-se mais a serviços de orientação
e informação ao público do que a atividades
mais penosas e perigosas. No Brasil, os problemas são tantos
que nunca o contingente de policiais será suficiente para
atender às necessidades, geralmente de combate a bandidagem.
Mas, por outro lado , outra contradição
salta à vista: a taxa de suicídios entre os japoneses
é alarmante, chegando a 18,5/100.000, fazendo com que esse
seja uma das principais causas de morte no Japão. E, mais
preocupante ainda porque envolve muitos jovens com menos de 18 anos.
Acreditamos que, por ser o Japão uma sociedade muito regrada,
os jovens são moldados para se encaixar em determinados nichos
existentes. Eles não conseguem expressar ou extravasar seus
verdadeiros sentimentos e, se são pressionados por seu superior,
professor ou até pelos próprios pais, ou se deprimem
ou acham que a única alternativa é morrer. Esses jovens
não têm o jogo de cintura, a maleabilidade e o savoir-faire
do brasileiro, refletindo a grande diferença de cultura existente
entre os dois povos.
E, por ser o Japão considerado um país
do primeiro mundo e extremamente desenvolvido na área da
tecnologia, que seria um diferencial positivo, pode estar piorando
essa situação, contribuindo para o isolamento dos
jovens. No arquipélago nipônico, é comum se
deparar com uma situação conhecida como hikikomori,
um tipo de isolamento social grave provocado pelo alto grau de exigência
da sociedade japonesa. O jovem nesta situação pode
se fechar por completo ao mundo, permanecendo em um quarto por meses
ou até mesmo por anos. Com maior ocorrência entre os
homens, esta é apenas a forma mais extrema da perda de socialização,
na qual o indivíduo evita ou tem receio de um contato tête-à-tête
ou cara a cara com seus semelhantes.
A síndrome do celibato
é outro comportamento que tem se manifestado entre os jovens
quando se trata de relacionamento, nesse caso, com o sexo oposto.
Segundo estudos da Associação de Planejamento Familiar
do Japão, 20% dos homens com idade entre 25 e 29 anos tinham
pouco ou nenhum interesse em relações amorosas, apontando
como causas, a internet e a influência da pornografia sobre
esse estado de coisa. Segundo um outro renomado professor de universidade,
os jovens japoneses têm muito conhecimento, mas pouca experiência
de vida. Não sabem como expressar suas emoções.
Ao mesmo tempo que é um pouco reservado, tem uma disposição
fenomenal para ajudar o próximo e sua comunidade.
Esses são apenas alguns aspectos das enormes
diferenças culturais entre os dois povos, tão próximos
e tão distantes ao mesmo tempo. Países de contrastes,
mas que buscam conviver de uma forma equilibrada e harmônica,
embora, algumas diferenças causem algumas estranhezas e incômodos
para as duas partes .
Não poderia deixar de consignar aqui a enorme
comoção que se abateu sobre o país, com o desastre
ocorrido como o time de futebol da Chapecoense. Diante da estupefação
com o trágico acontecimento e com a dor dos familiares, as
manifestações que se seguiram pelo mundo todo, de
solidariedade, emocionaram de tal forma as pessoas que , mesmo as
mortes traumáticas ocorridas com o nosso piloto Ayrton Senna
e com o Presidente Kennedy não levaram a tamanha consternação.
A demonstração de carinho por parte dos irmãos
colombianos calou profundamente no coração dos brasileiros.
Um gesto tão digno e nobre, que nos dá alento e esperança
de um mundo melhor e mais solidário. No meio de tanta violência,
maldade, ganância, insensibilidade, precisou-se de uma tragédia
assim, para que um grito de esperança despontasse para dar
um pouco de amor e altruísmo a corações e à
uma sociedade empedernidas.
Na proximidade da passagem do ano, os meus agradecimentos
aos queridos leitores e amigos, pela paciência, carinho e
consideração.
A todos , um FELIZ NATAL e um ANO DE 2017 abençoado,
com Saúde, Paz e muita LUZ!
KATSUO HIGUCHI
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