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Conversando de RH

01 de junho de 2016
TEMPOS MODERNOS

Li uma entrevista no Estadão de domingo, da Prof. Susan Neuman, da New York University, onde ela discorre sobre alguns dados que me deixou preocupado, embora não tenha me surpreendido. Segundo ela, fazendo referência a uma pesquisa recente, 44% das pessoas aqui no Brasil não leem regularmente e 30% nunca adquiriram um livro; enquanto, nos EUA, 7 entre 10 norte-americanos leram 1 livro durante o ano anterior e a média de leitura na população geral do país é de 12 livros por ano. “Mas que números tristes”, lamentou a educadora Suzan Neuman, se referindo naturalmente ao Brasil.

Neste país onde o hábito pela leitura não é apreciado nem por um ex-presidente, não é difícil chegar à conclusão que os números revelados não chegam a espantar, mesmo sendo lamentáveis. É de senso comum que o hábito da leitura depende muito das boas lembranças na infância em torno das palavras e histórias ouvidas, estimuladas pelo afeto e exemplos dos adultos. De adultos que ao lado da criança, ofereçam atenção e carinho, que a façam sentir-se segura para explorar o mundo, através da leitura, da conversa e até do ato de brincar. A criança tem necessidade de buscar modelos que indiquem como o mundo funciona; se ela não encontra ninguém ao seu redor habituado a ler ou sem a cultura da leitura, dificilmente terá chances de sentir atraída por livros quando crescer.

É preciso ler e conversar bastante com a criança, mesmo enquanto bebês. E brincar, também; brincar com objetos, não necessariamente brinquedos. Com pedras, terra, água, madeiras, materiais que forçam a criança a improvisar e exercitar a imaginação abstrata e criativa. Nem todos os pais podem passar muito tempo lendo à noite para cada filho. Mas, o importante é dedicar nem que seja alguns minutos, abraçar e beijar a criança olhando os olhos, enquanto abre um livro. Ela guarda essas emoções na memória e vai sempre associar a leitura a momentos preciosos e agradáveis. Ouvir histórias é muito prazeroso. Até os adultos adoram ouvir uma boa história, um “causo”. A criança é capaz de se interessar e gostar ainda mais por elas, já que sua capacidade de imaginação é mais intensa.

Atualmente, com o desenvolvimento dos meios de comunicação eletrônica, ninguém mais fala. Há falta de conversa oral. Entre num restaurante e veja quantas pessoas estão frente à frente, mas com os olhos grudados nos smartphones. Até as criancinhas, normalmente arteiras, estão quietinhas, atentas aos tablets. Não há dialogo, não há bate-papo. Nas ruas, as pessoas andam como verdadeiros “zumbis” , olhando para seus celulares e tablets e esquecendo o resto, como se nada mais existisse, até do farol vermelho muitas veze . Mesmo as amizades se conquistam hoje com a velocidade de um aperto do botão para adicionar mais um amigo; assim como para descartá-lo é a mesma coisa, é só deletar.

Nessas horas surgem as lembranças da infância já longínqua , onde se ouviam histórias contadas pelas tias da escola dominical que, além das passagens bíblicas, narravam lendas do folclore japonês, como “Momotaro, Urashima Tarô, Kaguya Himê, A Lenda do Tsuru, etc.” que sempre emocionavam e clamavam por outras, e das canções nostálgicas que se aprendiam pelas vozes nem sempre afinadas e cheias de sotaques, das vovós, como “Nanatsu no Ko, Teru Teru Bozu, Hotaru no Hikari, etc.”, melodias que até hoje permanecem indelevelmente em nossa memória, como um legado. Ensinamentos que ficam para a vida toda. Os tempos mudaram....

Katsuo Higuchi



Katsuo Higuchi
Profissional de RH; como executivo e empresário , atua
na área há mais de 40 anos. Foi diretor da empresa AVANCE DO BRASIL.
e-mail: rk.higuchi@gmail.com

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