Li uma entrevista no Estadão de domingo,
da Prof. Susan Neuman, da New York University, onde ela discorre
sobre alguns dados que me deixou preocupado, embora não tenha
me surpreendido. Segundo ela, fazendo referência a uma pesquisa
recente, 44% das pessoas aqui no Brasil não leem regularmente
e 30% nunca adquiriram um livro; enquanto, nos EUA, 7 entre 10 norte-americanos
leram 1 livro durante o ano anterior e a média de leitura
na população geral do país é de 12 livros
por ano. Mas que números tristes, lamentou a
educadora Suzan Neuman, se referindo naturalmente ao Brasil.
Neste país onde o hábito pela leitura
não é apreciado nem por um ex-presidente, não
é difícil chegar à conclusão que os
números revelados não chegam a espantar, mesmo sendo
lamentáveis. É de senso comum que o hábito
da leitura depende muito das boas lembranças na infância
em torno das palavras e histórias ouvidas, estimuladas pelo
afeto e exemplos dos adultos. De adultos que ao lado da criança,
ofereçam atenção e carinho, que a façam
sentir-se segura para explorar o mundo, através da leitura,
da conversa e até do ato de brincar. A criança tem
necessidade de buscar modelos que indiquem como o mundo funciona;
se ela não encontra ninguém ao seu redor habituado
a ler ou sem a cultura da leitura, dificilmente terá chances
de sentir atraída por livros quando crescer.
É preciso ler e conversar bastante com a
criança, mesmo enquanto bebês. E brincar, também;
brincar com objetos, não necessariamente brinquedos. Com
pedras, terra, água, madeiras, materiais que forçam
a criança a improvisar e exercitar a imaginação
abstrata e criativa. Nem todos os pais podem passar muito tempo
lendo à noite para cada filho. Mas, o importante é
dedicar nem que seja alguns minutos, abraçar e beijar a criança
olhando os olhos, enquanto abre um livro. Ela guarda essas emoções
na memória e vai sempre associar a leitura a momentos preciosos
e agradáveis. Ouvir histórias é muito prazeroso.
Até os adultos adoram ouvir uma boa história, um causo.
A criança é capaz de se interessar e gostar ainda
mais por elas, já que sua capacidade de imaginação
é mais intensa.
Atualmente, com o desenvolvimento dos meios de comunicação
eletrônica, ninguém mais fala. Há falta de conversa
oral. Entre num restaurante e veja quantas pessoas estão
frente à frente, mas com os olhos grudados nos smartphones.
Até as criancinhas, normalmente arteiras, estão quietinhas,
atentas aos tablets. Não há dialogo, não há
bate-papo. Nas ruas, as pessoas andam como verdadeiros zumbis
, olhando para seus celulares e tablets e esquecendo o resto, como
se nada mais existisse, até do farol vermelho muitas veze
. Mesmo as amizades se conquistam hoje com a velocidade de um aperto
do botão para adicionar mais um amigo; assim como para descartá-lo
é a mesma coisa, é só deletar.
Nessas horas surgem as lembranças da infância
já longínqua , onde se ouviam histórias contadas
pelas tias da escola dominical que, além das passagens bíblicas,
narravam lendas do folclore japonês, como Momotaro,
Urashima Tarô, Kaguya Himê, A Lenda do Tsuru, etc.
que sempre emocionavam e clamavam por outras, e das canções
nostálgicas que se aprendiam pelas vozes nem sempre afinadas
e cheias de sotaques, das vovós, como Nanatsu no
Ko, Teru Teru Bozu, Hotaru no Hikari, etc., melodias que
até hoje permanecem indelevelmente em nossa memória,
como um legado. Ensinamentos que ficam para a vida toda. Os tempos
mudaram....
Katsuo Higuchi
|