Uma crônica da jovem e talentosa Vanessa
Bárbara, no Caderno 2 do Estadão, discorrendo
com humor sobre: "coisas que nunca soube fazer direito, ainda
que continue tentando", fez aflorar uma de minhas frustrações
(e tenho muitas), que é "não saber cozinhar".
Quando muito, um ovo frito, ou um milho cozido, que não necessitam
de muita arte para realizá-los. Tinha mais uma habilidade,
que era fazer pipocas, mas, com o advento do micro-ondas, até
isso me foi retirado. Sinto inveja dos meus amigos Washington
e Eloisa-san, talentosos nessa arte. Tenho até pensado
em recomendá-los para algum desses programas-sensação
na TV, atualmente, um verdadeiro reality show na arte de cozinhar.
O curioso é que, mesmo diante de minha gritante
falta de jeito, sou fã dos programas de culinária,
hoje tão em voga na televisão. Principalmente os "master
chefs" da vida, nas versões tupiniquim, mexicana, australiana
e até argentina. Só não encontrei ainda a japonesa,
mas ela deve existir, com certeza.
A propósito, outro dia, sem querer, por falta
de opção, assisti a um episódio do Master Chef
argentino, cuja prova imposta aos candidatos era preparar um sushi,
segundo as orientações e o ensinamento previamente
apresentados pelo famoso chef Mestre Iwao Komiyama, argentino
e considerado "el mejor chef japonês del mundo residente
fuera del Japón". A maior dificuldade com a qual os
candidatos depararam foi a de encontrar o ponto certo de cozimento
do arroz, detalhe para o qual o Professor Iwao já havia alertado.
Segundo ele, o preparo do arroz representa 70% do sucesso de um
bom sushi. Alguns falharam redondamente, a ponto de um dos jurados,
provando a "obra-prima" de um dos jovens, cujo arroz se
esfarelava em suas mãos, afirmar, sem dó nem piedade,
que aquilo nunca tinha sido um sushi, nem aqui, nem na África.
Ainda a respeito do assunto, no último trimestre
de 2015, na esteira do sucesso do programa de adultos, foi apresentada
a sua versão "Júnior", intitulada Master
Chef Júnior Brasileiro, com a participação
de crianças entre 9 e 13 anos. A Professora Marisa Eboli,
da FEA-USP, em sua coluna de Empregos no Estadão do
último dia 10, fez interessantes observações
sobre as duas competições: Master Chef Adulto e Master
Chef Júnior. Ela observou que as crianças eram muito
mais cooperativas entre si, mesmo em situação de competição.
Era comum ver criança saindo de sua bancada para levar algo
de que outra colega estivesse necessitando. Na prova final, entre
Lorenzo Ravioli, 13 anos, e Lívia Lopes, 12
anos, a disputa foi acirradíssima. Lívia, quase no
limite do tempo, encontrava dificuldade para finalizar sua sobremesa.
Mesmo sabendo que se tratava de uma disputa decisiva, Lorenzo, espontaneamente,
foi até a bancada de sua oponente para ajudá-la a
limpar o prato da sobremesa e, assim, permitir uma melhor apresentação
visual perante os jurados. Lorenzo declarou, mais tarde,
que eles eram concorrentes, mas isso não significava que
eram inimigos.
Enfim, as crianças deram uma lição
aos adultos, com comportamentos e atitudes tão valorizados
hoje em dia no mundo corporativo, como:
- responsabilidade e generosidade;
- companheirismo;
- solidariedade;
- espírito esportivo;
- respeito;
- inocência e seriedade;
- trabalho em equipe;
- competição com ética.
Quem sabe eu ainda consiga preparar uma saborosa
"rabada com polenta", segundo a receita dos citados amigos
no início deste texto! Afinal, sou jovem ainda... para aprender.
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