Acredito que não seja uma exclusividade deste
escriba, mas depois que resolvi afastar-me parcialmente das lides
profissionais (eufemismo de aposentado), sou constantemente assediado
pelas lembranças e mesmo por sonhos, daquele período
no qual , durante mais de 40 anos, estive envolvido com a área
de R.H, como executivo e empresário. Bons e difíceis
momentos, mas impossíveis de ignorar. Daí, provavelmente,
as reminiscências. Sentimentalismo piegas à parte,
não posso deixar de reconhecer que, nessas horas da saudade,
surge como conforto a ideia de um legado que despretensiosamente
possa ter deixado, após o meu afastamento das atividades
diuturnas.
O que seria um legado? Segundo o dicionário,
legado é uma disposição feita em testamento
para beneficiar outra pessoa; é deixar algo, de valor ou
não, para outra pessoa e vem do latim legatus.
A verdade é que todo mundo deixa um legado na vida, intencionalmente
ou não, que pode ser algo bom ou ruim. Isto depende daquilo
que você deixa ou deixou para os seus seguidores; seja para
as empresas onde trabalhou, para a família, amigos, colaboradores
ou admiradores. É um conceito como as outras pessoas pensam
e se sentem em relação a você, após anos
de convivência pessoal ou profissional.
Um legado não se constrói de um dia
para outro; exige uma experiência de vida, construída
dia após dia, durante semanas, meses e anos, quando seu exemplo
de conduta, dedicação, competência e ações
positivas serviram de referência e inspiração
para outros profissionais e amigos. Trabalhando desde os 13 anos
de idade, fui aprendendo ao longo do meu amadurecimento profissional,
a força da reputação, o quanto influenciamos
as pessoas com quem nos relacionamos diariamente, notadamente os
jovens em início de carreira, a importância do que
pensamos e agimos e, sobretudo, como tomamos decisões nas
empresas e como as ajudamos nos seus momentos mais difíceis.
É muito gratificante ser lembrado por ex-chefes, pares e
colaboradores como alguém que deixou uma marca positiva,
de muito profissionalismo e comportamento ético.
Sem falso cabotinismo, surgem-me à lembrança
os vários times de profissionais qualificados que consegui
reunir ao longo desse tempo, alguns iniciando como recém-formados,
outros até como aprendizes , que se destacaram e se desenvolveram
como profissionais talentosos, capazes e competentes. Muitos, mantiveram-se
ligados a mim durante anos, como a Jaudira, o Monteiro, Milton,
Renata, Harumi e outros; e após longa convivência,
foram buscar novos desafios e se transformaram em executivos ou
em empresários de sucesso. Sonia é um exemplo deles,
parceira fiel e com talento na arte de cativar clientes; tem também
a Lia; a Deise, uma batalhadora, de secretária foi ser engenheira
e empresária; a Heliane e seu marido Gilberto, um jovem brilhante,
que de aprendiz chegou a posição de diretor financeiro
em uma multinacional. Sem deixar de mencionar aqueles que, por motivo
de força maior, foram buscar e encontraram no Japão
a segurança que necessitavam, como o Newton, a América
e a irrequieta e polivalente Eloisa. E por fim, dezenas de outros
amigos e clientes, alguns de longas datas, outros um pouco mais
recente, como o Enio, Rafael, Washington, Jo, Gilson, Carlos, Mauro,
Sergio, Bruno, Reny, Mel, Gisele, e tantos mais, aos quais sou muito
grato pela confiança, prestígio e amizade.
A única coisa de valor que podemos
deixar de legado para nossos filhos é o que somos, não
o que temos.
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