Aquele pêssego dourado, desmanchando na boca, ou um caqui
fuyu reluzente, de quase 700 g, frutas tão perfeitas e delicadas,
que nos levam a pensar em obra divina... Quem há de resistir
à tamanha tentação?
Essas verdadeiras obras de arte da natureza não surgem ao
acaso. Tem o dedo e a mão do homem - quantos dedos e mãos
são necessários! Que o diga o meu amigo Eiji, dedicado
fruticultor na região de Piedade, no cinturão verde
próximo à capital.
Seus pêssegos, caquis, morangos, nêsperas, lichias
e jacas, entre outras frutas, encantam pela qualidade e beleza;
frutas às quais tenho o privilégio de saborear diretamente
na fonte, literalmente no pé, no sítio desse amigo,
desde que o conheci, há uns seis anos. Desse contato, aprendi
a admirar o trabalho árduo e incansável, dele e de
toda a sua família, composta pela esposa, filhos e seus pais
já idosos, todos envolvidos na faina diária de cuidar
do pomar, do qual depende o seu sustento. Faça sol, faça
chuva, de noite e de dia, de segunda a domingo, é uma vida
duríssima, de imenso sacrifício, mas digna. Digna
como é a de centenas de outras pessoas neste país,
aquelas que se dedicam à nobre missão, mas, infelizmente,
pouco reconhecida, da agricultura, do cultivo da terra.
Ultimamente, eu vinha percebendo no semblante de Eiji-San uma indisfarçável
preocupação. Com jeitinho, descobri que o desânimo
estava ligado à própria profissão. Os altos
custos dos insumos, a baixa rentabilidade e as intempéries
da natureza vinham desmotivando o amigo, a ponto de ele pensar em
deixar a atividade de campo, iniciada por seu pai há quase
cinquenta anos. Uma cruel e dolorosa decisão!
Uma luzinha acendeu-se na minha cabeça, o que ocorre toda
vez que deparo com flagrantes injustiças. Pensando em ajudá-lo
de alguma forma, ocorreu-me a ideia de sugerir a adoção
de uma iniciativa relativamente nova, que vi implantada em algumas
propriedades rurais, com bastante sucesso: o turismo rural, ou agroturismo.
Com os poucos conhecimentos que tinha sobre o assunto, comentei
com o amigo Eiji e ele, mesmo com um certo receio, comprou a ideia
e se dispôs a implantá-la ainda na safra do caqui,
que ocorre no período de abril a junho. O projeto exigiu
um pequeno investimento na melhoria da infraestrutura do local,
que, convenhamos, era bastante precária (limpeza do galpão,
banheiros, estacionamento), além de exigir a efetiva participação
de toda a família e de alguns parentes, que se envolveram
de corpo e alma no projeto.
De nossa parte, foi feito um esforço no sentido de divulgar
o evento e, graças à valiosa ajuda do amigo Carlos,
com sua vasta rede de relacionamentos, conseguimos levar o primeiro
grupo de "turistas", cujos participantes, a maioria de
terceira idade, tiveram a oportunidade de voltar às origens
e passar um dia verdadeiramente inesquecível. Conheceram
um pomar de caqui (fuyu e guiombo), aprenderam um pouco sobre cultivo
e produção e, mais do que tudo, colheram o fruto diretamente
do pé. Um programa diferente, enriquecido pela amabilidade
e atenção da família, que se desdobrou em bem
recepcionar os visitantes, oferecendo um delicioso café da
manhã, na chegada, e depois, no almoço, um caprichado
obento, tudo feito pelos familiares. Além dos caquis de primeira
qualidade, que puderam colher e trazer, eles puderam adquirir produtos
em conserva elaborados pela família de Eiji-San, como lakyô,
tsukemono, fukujinsukê, caqui desidratado, shimeji etc. O
evento alcançou plenamente os seus objetivos e podemos dizer
que foi um sucesso.
Como dissemos, o turismo rural é uma atividade ainda emergente
no Brasil. O produtor (agricultor/fruticultor/floricultor) tem a
necessidade de agregar valor a seus produtos e de buscar novas fontes
de renda à sua atividade.
No segmento da fruticultura, é possível explorar
a interação dos turistas com o meio rural, que buscam
cada vez mais a contemplação da natureza, respirando
ar puro, conhecendo e vivenciando as rotinas de campo, além
de poder adquirir produtos da terra, fresquinhos. Além disso,
é possível conhecer um pouco sobre o cultivo e a produção
de vários tipos de frutas e praticar o "colha e pague",
muito apreciado no segmento pesqueiro.
Para que um programa ou projeto de turismo rural seja viável
e com possibilidade de êxito, é importante observar
alguns requisitos básicos:
- verificar a aptidão do proprietário rural para
a atividade turística. Ou seja, o proprietário tem
que acreditar e estar disposto a assumir o risco;
- diagnosticar a viabilidade turística da propriedade rural,
levando-se em consideração a capacidade de gestão
do produtor, a capacidade financeira para promover as adequações
necessárias, bem como avaliar a sustentabilidade ambiental
e mercadológica do empreendimento;
- buscar orientação técnica junto a entidades
de classe/governamental e a assessoria de um profissional qualificado
para a orientação do projeto.
É preciso preservar e fixar a atividade do produtor rural,
tão importante e necessária para o País, como
é a industrial ou a comercial. Concorda? Afinal, não
podemos permitir que essas "delícias" desapareçam
de nossa mesa e de nosso cardápio!
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