Nelson Rodrigues já dizia muitos
anos atrás que o brasileiro tem complexo de vira-lata,
referindo-se à nossa baixa autoestima , sensação
que foi reforçada pela onda de pessimismo que antecedeu aos
Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, reverberadas pelas notícias
ainda mais negativas na mídia internacional.
As previsões eram sombrias, que não
teríamos condições de garantir a segurança
das delegações estrangeiras, que as picadas do aedes
aegypiti fariam estrago, que a poluição da Baia
da Guanabara prejudicaria as competições náuticas,
que a movimentação das pessoas seria um caos, enfim,
pintaram de cores sombrias a realização dos Jogos
no RJ.
Mas, como Deus é brasileiro, o desastre que
se anunciava não se confirmou. A Olimpíada foi um
sucesso indiscutível; surpreendeu o mundo e os próprios
brasileiros. Tudo, ou quase tudo saiu bem no Rio de Janeiro, cada
vez mais lindo.
Problemas ocorreram, sem dúvida, e não
podemos negar. Furtos, acidentes de trânsito, morte de um
soldado, descontrole inicial no fornecimento da alimentação,
entre outros males menores. No resto , fez bonito. A Cerimônia
de Abertura, por sua beleza, criatividade e engenhosidade foi o
ponto alto, resgatando a nossa autoestima, tão judiada ultimamente.
Junto com a Festa de Encerramento, ajudou a projetar uma boa imagem
do Brasil, que não é só corrupção,
incompetência e violência. Temos muita gente boa, excepcional
até que, com espírito empreendedor, dá uma
pontinha de esperança no futuro deste país.
De tudo isso, conversando com amigos que tiveram
o privilégio de vivenciar in loco o evento, uma
qualidade se destacou e virou uma referência de coisa positiva
que merece ser copiada, inclusive pelos japoneses que irão
sediar a próxima Olimpíada, em 2020: a cordialidade,
a alegria contagiante dos brasileiros.
A atriz Marieta Severo comentou recentemente:
esse país não perdeu a capacidade de se reinventar.
Os Jogos Olímpicos foram uma demonstração de
garra, de superação e criatividade.
Passados os Jogos, estamos voltando à nossa
dura realidade, de crise política e econômica, mas
que recebeu nesta semana um sopro de esperança pela normalização
da imbróglio presidencial . Esta é a
aparente bipolaridade que compõe a identidade do Brasil,
um país surpreendente.
Até a próxima!
Katsuo Higuchi
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