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Conversando de RH

14 de abril de 2016
Da Balada de Narayama aos tempos atuais

Conversando com Abe-san, de Presidente Prudente, simpática figura que conheci outro dia, discorríamos sobre um tema recorrente, ao menos para mim: a velhice. Percebi que também para ele o assunto causava preocupação. E não estávamos falando de uma possível crise existencial, ou de uma crise da terceira idade. O tema não era sobre esse prisma. Estávamos comentando sobre a preocupação que temos ou devemos ter com os nossos velhinhos, os nossos pais. Da nossa geração à atual, o tempo fez o favor de provocar mudanças radicais na forma de encarar o assunto.

Isso me fez lembrar um filme ao qual assisti há muito tempo: A Balada de Narayama, de Shohei Imamura, premiado em Cannes com a Palma de Ouro. Esse filme retrata, no fim do século XIX, uma tradição que ocorria em um pequeno vilarejo japonês, onde o morador que completasse 70 anos de idade era praticamente eliminado da comunidade, devendo subir ao topo de uma sagrada montanha e aguardar a sua morte. Aquele que se recusasse a cumprir o costume trazia a desonra para a sua família.

Esse é um exemplo extremo de como a velhice era encarada. Ainda se prendendo aos costumes que ocorrem na comunidade nipônica, até hoje, é comum deparar, em certas famílias, com o compromisso que tem o filho mais velho de assumir as responsabilidades da casa, inclusive a de cuidar dos pais já idosos. Quando o "tionam", ou seja, o primogênito, não assumia essa obrigação, muitas vezes, os pais tinham que ser encaminhados a algum asilo, dos poucos que existem até hoje. Esses asilos, infelizmente, não oferecem o conforto de um lar, na maioria dos casos.

Atualmente, não podemos imputar aos nossos filhos essa responsabilidade. O mundo mudou muito. Assim como mudaram as relações familiares; muitos filhos, mesmo jovens, já adquiriram certa independência e deixaram a casa dos pais. E isso se aplica às mulheres; mesmo solteiras, algumas vão buscar o seu espaço lá fora, rompendo o laço umbilical, coisa impensável tempos atrás.

O surgimento do conceito da terceira idade, ocorrido há quatro décadas, por força da nova realidade demográfica do Brasil, provocou uma alteração positiva na imagem do idoso, até então um excluído social. Pesquisas mostram que os espaços estão sendo criados e ocupados rapidamente pela população de meia idade, para que novas experiências de envelhecimento possam ser vividas coletivamente. Exemplos disso são a criação de instituições como a universidade da terceira idade, os spas, os grupos de dança de salão, as viagens turísticas, os grupos recreativos, as academias de Educação Física, ioga, pilates e de hidroginástica, e os espaços de saúde e beleza, que já se encontram no mercado para atender a esse público específico, que está cada vez maior.

Uma boa notícia para os nossos filhos, para os jovens da geração "internet", é o surgimento da implantação de projetos de Co-housing, condomínios residenciais compartilhados, voltados para a terceira idade, como já existem na Europa, no Canadá e nos EUA, onde a convivência social e a qualidade de vida são prioridades. Nesses locais, os pais poderão curtir a tão aguardada aposentadoria, naquele lugar tão sonhado, em meio às flores, ao verde, junto a um pomar, a uma horta, pescando, jogando tênis, gateball, dançando, lendo, contando com profissionais residentes, como cuidadoras, enfermeiras, serviços de limpeza, restaurante, lavanderia... e usufruindo do que eles têm de melhor e mais saudável: o desejo de viver com independência e autonomia. Tudo isso está dentro do conceito que baliza as novas políticas e os negócios voltados para a terceira idade, que tem como principal objetivo fazer com que as pessoas consigam permanecer em casa, ou em uma comunidade, sem que, para isso, precisem de um familiar por perto. Os idosos de hoje preferem, na realidade, morar sozinhos, mantendo-se donos de seu próprio nariz.

Do idoso de Narayama aos dias atuais, envelhecer passou a ser uma benção, e não uma doença, ou um problema.

Katsuo Higuchi



Katsuo Higuchi
Profissional de RH; como executivo e empresário , atua
na área há mais de 40 anos. Foi diretor da empresa AVANCE DO BRASIL.
e-mail: rk.higuchi@gmail.com

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