(Reportagem
e Foto: Helena Saito / ipcdigital.com)
A maioria
dos demitidos vítimas da crise econômica no Japão
trabalhava no sistema de haken shain ou seja, eram terceirizados
com contrato de temporário. Cerca de 150 mil funcionários
estavam empregados dessa forma, dos quais a maior parte era composta por
estrangeiros. Entre os japoneses, apenas 0,06% da mão-de-obra é
terceirizada.
Para Takaharu
Hayashi, esses números mostram discriminação. Ele
é proprietário da empreteira Avance e fundador da NPO Koryu
Net, que, desde 2002, ajuda estrangeiros no trabalho e no cotidiano. Ele
critica a falta de medidas aos estrangeiros por parte do governo central
e espera atitude mais dinâmica dos brasileiros diante da negligência.
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Quais foram
as reivindicações feitas no dia 1º de fevereiro?
Takaharu Hayashi: São três pontos: moradia, apoio à
busca de empregos e educação das crianças estrangeiras.
Agora, a intenção é submeter a proposta às
autoridades de diversos setores do governo, como o Ministério do
Trabalho. Estamos também organizando um abaixo-assinado. Já
conseguimos 5 mil assinaturas. Uma das metas é tornar evidente
a presença da comunidade estrangeira aos japoneses. Na minha opinião,
os brasileiros têm feito muita cerimônia diante da situação
crítica. O índice de demissões pode chegar a 80%,
enquanto entre os japoneses não deve passar de 0,06%. Isso para
mim é, sem dúvida, uma discriminação. Mesmo
diante dessa absurda circunstância, os brasileiros se mantêm
passivos.
Por que
acha que os brasileiros mantêm essa postura?
Hayashi: Eles estão sendo aproveitados pela sociedade japonesa.
Se, por exemplo, realizarem passeatas e isso for divulgado em jornais
e TVs, a preocupação com a demissão deles pode aumentar.
As empreiteiras não têm nenhum interesse que os brasileiros
fiquem bem informados, criem união e sejam solidários. Se
tomarem conhecimento de regulamentos japoneses, eles ficarão espertos
e podem causar inúmeros problemas. Essa é também
a razão pela qual as empreiteiras se mudam para diferentes locais.
Como fica
a situação dos trabalhadores que são contratados
apenas como haken shain?
Hayashi: Os brasileiros podiam ser efetivados, mas os empregadores
japoneses não querem se relacionar diretamente com eles. Isso também
é visível na hora de alugar apartamentos. O Japão
quer os nikkeis para trabalhar ou ter moradia por intermédio de
uma empreiteira (haken gaisha), principalmente as empresas japonesas.
Para amenizar o número de demissões, o governo japonês
decidiu dar um subsídio de ¥ 1 milhão por pessoa que
a empresa tenha efetivado, algo inaplicável aos estrangeiros, que
tampouco têm o treinamento profissional direcionado a desempregados
que recebem o seguro-desemprego. Muitos brasileiros não recebem
esse benefício e não sabem desse direito. Mesmo que não
tenham sido contribuintes do seguro social, se as empreiteiras pagarem
os meses retroativos, eles teriam esse direito.
E quanto
à situação educacional, que tipo de apoio o senhor
quer?
Hayashi: Nos preocupa a evasão escolar das crianças
brasileiras. Em Gifu, quase 200 crianças deixaram escolas brasileiras,
mas são poucas as que se transferiram às escolas japonesas.
Sabemos que a educação de todas crianças e adolescentes
na fase escolar (de 7 a 14 anos) é obrigatória de acordo
com a constituição japonesa. A obrigatoriedade de estudo
é um direito humano, mas, enquanto os estrangeiros não tomarem
uma iniciativa para lutar por esse direito, a sociedade japonesa não
vai fazer nada.
E quanto
à recolocação em empregos, como seria?
Hayashi: O programa para entrada de nikkeis no país para suprir
a indústria não deveria mais ser aplicado nos dias de hoje.
Em Minokamo (Gifu), por exemplo, foi realizada uma feira de empregos na
qual compareceram 800 brasileiros para cerca de 15 vagas. Isso mostra
a falta de demanda. Um problema que ficou evidente para a contratação
dos estrangeiros é o de não falar japonês. Isso é
culpa do governo, que não tem estrutura para ensinar o idioma.
A Alemanha não permite a contratação de estrangeiros
se a empresa não garantir estudo de 600 horas da língua
alemã. Está na hora de o Japão elaborar uma medida
para aceitar estrangeiros com visto permanente (eijuuken).
Mas e os
cursos de língua japonesa oferecidos gratuitamente por NPOs e pelas
prefeituras?
Hayashi: Faltou o governo transformar isso em regra. Por exemplo,
para renovar o visto, poderia ter sido estabelecida a obrigatoriedade
de 200 horas de aulas de japonês. No início de aprendizagem
de qualquer assunto, nada é interessante, por isso é necessário
estabelecer uma obrigatoriedade. Para os meus funcionários, foi
realizado um curso de japonês nas dependências da fábrica
Murata.
O que o
senhor propõe na questão de moradia?
Hayashi: Em Aichi, foram liberados apartamentos públicos no
final do ano, mas direcionados aos japoneses. No Homi Danchi de Toyota,
não foi liberado nenhum, apesar de haver 380 apartamentos vazios.
Isso porque a Associação dos Moradores (jichikai) era contra
a entrada de estrangeiros nesses apartamentos. Esse procedimento é
observado em tudo que o governo japonês faz, mas não é
enfatizado na mídia local.
Para a solução
desses problemas, o senhor tem algum projeto prático?
Hayashi: Sim. Gostaria de criar um modelo que necessitaria de atuação
intensa das fábricas. Se um empregado é demitido após
oito anos de trabalho, por exemplo, teria meio ano para que fizesse um
curso de aperfeiçoamento profissional para elevar seu nível
técnico. Nesse caso, seria necessário subsídio do
governo. Para não interromper a relação empregado-empregador,
proponho criar uma fundação ou uma organização
controladora (zaidan) que receba ajuda financeira ou investimento de fabricantes
como também do governo. Eu, particularmente, vou investir ¥
100 milhões.
O que espera
dos brasileiros para o funcionamento desse projeto?
Hayashi: A realidade é que eles não têm esperança
em trabalhar sem o intermédio das empreiteiras. Aqueles mais capacitados,
por exemplo, saíram dos conjuntos habitacionais, não voltam
e não fazem nenhuma atividade em prol dos brasileiros.
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