Trabalhadores estrangeiros no Japão: presença ainda
indispensável para o país, segundo especialista
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(Reportagem
e Foto: Redação/IPC com Helena Saito)
Neste ano,
a mudança na Lei de Imigração que abriu as portas
para a entrada de brasileiros no Japão completa 20 anos, enquanto
a comunidade enfrenta a pior crise de sua história. Mas há
o que comemorar, defende Hidenori Sakanaka, que demonstra otimismo em
sua análise. Tenho grandes expectativas para o papel que
os brasileiros vão exercer daqui para frente. Sakata é
o idealizador da reforma na Lei de Imigração de 1990, que
impulsionou o movimento dekassegui. Na época, ele era diretor do
Departamento de Imigração em Tóquio e Nagoia. Hoje
ocupa o posto de diretor no Instituto de Pesquisa de Políticas
Imigratórias do Japão (Jipi, na sigla em inglês),
criado em 2005.
Em entrevista,
em setembro de 2009, Sakanaka disse acreditar que o governo do PD (Partido
Democrata ou Minshutoo) passaria a ver os estrangeiros como imigrantes.
Hoje, mesmo sem nenhuma reforma aprovada, mantém a opinião
daquela época e vai além: a imprensa japonesa também
teria mudado a maneira como trata os estrangeiros e aberto espaço
para a discussão de políticas migratórias.
Mesmo com o
alto índice de desemprego, Sakanaka continua favorável à
entrada de 10 milhões de imigrantes no Japão em 50 anos,
proposta que ganhava força no governo antes da recessão.
Isso porque as vagas em agricultura, assistência a idosos e trabalhos
que exigem habilidade técnica no setor manufatureiro prosseguem
com alta demanda de mão de obra para quem sabe falar o japonês.
O apoio para aprender a língua deve ser fornecido pelo governo,
enfatiza.
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Hidenori Sakanaka: Os brasileiros contribuíram muito
para o crescimento industrial do Japão
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O que há
para comemorar após 20 anos da reforma da lei?
HIDENORI Sakanaka: Os brasileiros devem se sentir orgulhosos, pois
contribuíram bastante para o crescimento industrial, substituindo
a falta de mão de obra japonesa. Além de manter a indústria
automobilística nipônica sólida, também ajudaram
na recuperação do Brasil, ao fazer remessas de dinheiro
numa época em que o País sofria com a inflação.
O que lamento é que, nesse período, os empregadores não
ofereciam apoio ao aprendizado de japonês, o que teria evitado a
situação atual. Também há a questão
das crianças. Os pais deveriam ter decidido mais rapidamente fixar
residência e colocar os filhos nas escolas públicas. Houve
falha também no sistema educacional japonês, que não
possuía estrutura para acolhê-los, como o governo japonês
notou agora, com a recessão. Acho importante que os brasileiros
se formem na universidade, pois isso daria mais segurança aos pais.
Quando propus a criação do Visto de Longa Permanência
(teijuusha), tinha em mente que os nikkeis voltariam à terra natal
de seus pais e avós. Isso significa que entrariam como imigrantes,
e não como dekasseguis, termo que acho inadequado.
Por que
o termo é inadequado?
Sakanaka: Dá a impressão errada de que não é
necessário oferecer apoio educacional ou garantia de seguridade
social nem moradia aos imigrantes.
O que mudou
no Japão com a entrada dos imigrantes?
Sakanaka: Quando estive em Mie, conversei com brasileiras que trabalham
como helper. Elas me disseram que o trabalho é mais divertido que
a fábrica, apesar de ser árduo, e o salário, baixo.
O responsável japonês pela instituição disse
que elas são bem conceituadas, pois respeitam aqueles que estão
auxiliando. Os japoneses precisam ver isso. A contratação
concentrada no setor industrial não foi uma boa ideia, até
porque muitos imigrantes atuavam na agri-cultura no Brasil.
No futuro,
os brasileiros vão continuar vindo ao Japão?
Sakanaka: Vejo um futuro brilhante para os brasileiros. Isso porque
tradicionalmente os japoneses se dedicam à educação
dos filhos, e os nikkeis, como seus descendentes, farão o mesmo
e superarão até mesmo os jovens japoneses. Um outro aspecto
é que, a partir de agora, vários tipos de serviços
devem surgir entre Brasil e Japão, e chegará um momento
em que as pessoas que permaneceram aqui poderão ser úteis
nas negociações comerciais e econômicas entre os dois
países.
Qual sua
opinião sobre a entrada de mais brasileiros?
Sakanaka: Proponho a entrada de 10 milhões de estrangeiros
em 50 anos, a começar pelos parentes dos brasileiros que residem
aqui. Além disso, acho importante trazer mais bolsistas brasileiros,
que, depois de terminarem seus estudos, poderiam optar por trabalhar em
companhias japonesas. Uma outra forma de entrada seria o visto de trabalho
para profissionais altamente qualificados, que já foi sugerido
por um grupo ligado ao Ministério da Justiça ainda
que esse projeto abranja um número pequeno de pessoas.
Quais os
desafios dos imigrantes?
Sakanaka: Os estrangeiros precisam buscar empregos que os japoneses
não querem mais, como trabalhos que exigem alta habilidade técnica
no setor manufatureiro. Um profissional dessa área leva cerca de
oito anos para ser formado. Mas, uma vez que tenha esse conhecimento,
não haverá mais dificuldades, pois existe grande demanda.
Os brasileiros precisam se arriscar em profissões que exigem habilidade
ma-nual. Além disso, aprender japonês e não ficar
trocando de emprego toda hora.
Como está
sua expectativa sobre o PD, depois de meses de governo?
Sakanaka: Continua alta, pois muitos políticos do PD são
focados em direitos humanos e na questão dos estrangeiros, como
os ministros Yoshito Sengoku (Reforma Administrativa) e Mizuho Fukushima
(Consumo, Segurança Alimentar, Natalidade e Igualdade entre os
Gêneros). Outra mudança que observo desde o final de 2009
é na imprensa. Eles começaram a dar destaque à política
migratória, por conse-quência da baixa taxa de natalidade.
Os projetos
do governo para ensinar a língua e oferecer capacitação
técnica são suficientes?
Sakanaka: Embora seja uma boa iniciativa, não é suficiente.
A partir de agora, o Japão deve intensificá-los. No caso
do ensino de japonês às crianças, não deveria
haver um prazo para acabar.
Proficiência
em japonês deve ser requisito para o visto?
Sakanaka: O critério poderia estabelecer o nível 2,
pelo menos, em proficiência ou o estudo de japonês por meio
ano antes de vir (ao Japão). Ao mes-mo tempo que exige o idioma,
o governo deveria criar cursos em cooperação com empresas,
incluindo alguns voltados às crianças. Essa mudança
também estimularia a criação de escolas de língua
japonesa no Brasil.
As empreiteiras
devem existir?
Sakanaka: Está previsto no manifesto do PD o fim do sistema,
e eu concordo. No caso de trazer pessoas do exterior, isso deveria ser
executado por uma entidade pública similar à Hello Work.
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