Mesmo depois de retornar ao Japão, Kobayashi nunca perdeu
o contato com os brasileiros
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Quem
é Toshiro Kobayashi
A admiração que Toshiro Kobayashi tem pelo
Brasil é fruto de 18 anos de vivência no Rio de Janeiro
e em São Paulo, antecedida por dois anos em Salvador, onde
ele cursou o mestrado em Ciências Econômicas na Universidade
Federal da Bahia. No Japão, Kobayashi ocupou o cargo de diretor-presidente
do Banco de Tóquio. |
(Reportagem
e Foto: Helena Saito/ipcdigital.com)
O diretor-executivo
da Associação Central Nipo-Brasileira, Toshiro Kobayashi,
acredita que, assim como ele, há muitos outros japoneses com vivência
no Brasil que poderiam ajudar a comunidade brasileira no Japão.
O ex-bancário defende a importância de ações
unificadas das associações que, atuam em diversas regiões
do arquipélago e sugere a criação de uma confederação
para reunir essas entidades, melhorando, assim, o nível de assistência
aos brasileiros. Kobayashi também cobra maior responsabilidade
das empreiteiras, que deveriam dar mais apoio aos imigrantes garantindo,
inclusive, o seu retorno ao Brasil.
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NippoBrasil
- O que o senhor acha necessário fazer para ajudar os brasileiros?
Toshiro Kobayashi - A crise, principalmente nos setores eletroeletrônico
e automobilístico, deixou os brasileiros numa situação
mais difícil em relação aos japoneses, por eles estarem
fora de seu país de origem. Para amenizar os problemas dessas pessoas,
as empreiteiras precisam assumir responsabilidades e garantir-lhes a moradia
e o financiamento da passagem de retorno ao Brasil. Afinal, até
agora, elas tiveram um lucro significativo com essa mão-de-obra.
Nippo -
Quais são as outras providências a serem tomadas?
Kobayashi - Se o brasileiro pretende ficar no país, é
importante que ele assimile a cultura e os costumes japoneses, estude
o idioma e faça amizade com a vizinhança, além de
procurar aproximar-se das autoridades locais. Digo isso com base em minha
experiência. Enquanto estive no Brasil, procurei aprender o português,
li muito sobre diversos temas e ainda me preocupei em fazer amigos. Para
ajudar as crianças, os governos precisam assumir sua parte de responsabilidade
na questão educacional. O ensino brasileiro cabe ao Brasil; o Japão
precisa revisar a lei que, hoje, exclui as crianças estrangeiras
do ensino obrigatório. Outra providência a ser tomada é
em relação à política para estrangeiros. É
preciso obrigar esses trabalhadores a se inscreverem na Previdência
Social, para que assegurem o recebimento de benefícios como o seguro-desemprego.
Nippo -
O que o cidadão japonês pode fazer em relação
aos estrangeiros?
Kobayashi - Os japoneses precisam mudar sua forma de pensar em relação
aos estrangeiros, precisam ser mais abertos e cosmopolitas. Se queremos
aumentar a entrada de estrangeiros no país, é importante
criar uma sociedade em que todos possam se relacionar mais facilmente.
Temos muitos japoneses que moraram no Brasil, ou que simpatizam com a
cultura do país e querem ajudar os brasileiros. Este é momento
para reunir forças e impulsionar o movimento de apoio aos brasileiros.
Nippo -
Como o senhor pretende reunir essas pessoas?
Kobayashi - Hoje, como faço parte da diretoria da Associação
Central Nipo-Brasileira, pretendo criar uma confederação
das associações que se encontram espalhadas pelo país,
desenvolvendo atividades em prol da comunidade.
Nippo -
Há diferenças entre os japoneses que imigraram para o Brasil
e os brasileiros que foram para o Japão?
Kobayashi - Os imigrantes japoneses procuraram se adaptar à
sociedade brasileira, matriculando seus filhos nas escolas públicas
do País e sem deixar de lhes proporcionar o ensino do japonês.
Tradicionalmente, os japoneses valorizam muito ao educação.
Sei das dificuldades e dos motivos que levaram os brasileiros para o Japão,
mas lamento o fato de a maioria não se interessar em se aproximar
dos japoneses. Eles também não se preocupam muito com o
estudo dos filhos, porque eles próprios não sabem se vão
ficar ou se vão voltar para o Brasil. Por isso, é fundamental,
antes de tudo, definir um plano de vida, de longa ou de curta permanência,
para não comprometer o futuro das crianças.
Nippo -
Qual é o seu ponto de vista sobre as políticas voltadas
aos estrangeiros no Japão?
Kobayashi - O importante é os políticos mudarem radicalmente
sua forma de pensar sobre o ingresso de estrangeiros no país, e
não deixar a tarefa de revisão da lei nas mãos de
oficiais do governo. Mas, para que os políticos possam atuar de
modo mais ativo e conseguir melhores condições de vida para
os estrangeiros, é necessário que os eleitores mudem sua
forma de ver as pessoas que vêm de fora. Empresas e órgãos
públicos também devem mudar os procedimentos voltados aos
estrangeiros, além de dar abertura a novas ideias.
Nippo -
A recuperação da economia japonesa deve demorar para acontecer?
Kobayashi - Acho que o país deverá se recuperar da crise
mais rápido do que imaginamos, porque os bancos japoneses não
têm muitos investimentos nas ações de subprime. Se
a bolsa de valores melhorar, a economia deverá reagir até
meados de 2010. Precisamos é de um pouco mais de paciência.
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