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NB / Antônio José do Carmo / Divulgação
CASTILHO
- Está começando a temporada de pesca sub-aquática
no Rio Paraná, um esporte considerado radical e que reúne
cada vez mais adeptos dessa aventura na região dos grandes
lagos hidrelétricos. Nas represas, há perigos como
o de ser atacado por uma cobra sucuri, famosa por engolir bezerros
e gente, ou o de ficar enroscado em vegetações remanescentes
da inundação ou aguapés formados pela poluição
orgânica.
Essa
prática também exige cuidados com a arma, um arpão
de lança afiada que pode ferir o caçador, ou o companheiro
sem prática que pode ser confundido com um peixe. As melhores
pescarias são feitas à noite, nas tocas de pedras
nas quais os grandes exemplares saem à procura das presas
menores que se escondem em busca de proteção.
Milton
Akaoshi, 44 anos, técnico em computadores, já mergulhou
no mar em Miami (EUA), onde começou a praticar esse esporte,
mas diz que foi no Rio Paraná, em Castilho, interior de
São Paulo, onde descobriu a emoção mais forte.
Nos lagos, eu não pratico a caça, tenho medo
de cobras como a sucuri, afirma.
Correnteza,
leito de pedras, baixa visibilidade de 4 a 6 metros e uma flecha
poderosa, cuja ponta aguda entra, mas trava na hora saída,
tornando impossível qualquer tentativa de se desvencilhar
da captura. Akaoshi coleciona fotos dos peixes que capturou nos
últimos quatro anos. A média de peso foi de 23 kg.
A maioria deles das espécies mais caras do mercado: jaú
e pintado, dourado e pacu. Os ambientalistas não
gostam e me criticam, mas minha pescaria é dentro da lei,
afirma o mergulhador. Em sua opinião, quem destrói
a fauna aquática são os pescadores de superfície,
que usam redes de malha fina e retiram na água os filhotes.
A legislação
ambiental proíbe a pesca subaquática para quem utiliza
cilindros de oxigênio. Mas, para quem desce abaixo do nível
das águas segurando o fôlego, a caça com uso
de arpão e outras ferramentas está dentro dos limites
legais.
Akaoshi
fica até um minuto e meio debaixo dágua. Não
fumar nem beber álcool exageradamente contribuem para se
ter um bom desempenho. Mergulhar sozinho ou acompanhado por um
ou dois amigos no máximo também é uma das
recomendações. Muita gente mergulhando no
mesmo lugar pode gerar confusão e dúvidas na hora
de fazer o disparo da arma, afirma.
Na
maioria das vezes, ele mergulha com Edson Elias Pereira, o futuro
cunhado que trabalha como agente penitenciário em Andradina.
Pereira considera que uma das limitações desse esporte
é o preço alto dos equipamentos.
Na
lista, tem a roupa de borracha, que é flutuante, e o cinto
de chumbo chamado lastro que, desprendido em caso de emergência,
ajuda a emergir o mergulhador eventualmente fora dos sentidos.
Tem, ainda, arpão, pé de pato, snoker e lanternas
para pesca noturna.
Peixes
encurralados
DESAFIO - Trecho do Rio Paraná: pesca noturna
O
que determina um bom período não é a fartura
de peixes, pois ela é constante nos 6 metros de profundidade,
mas o fim das enchentes, que deixam as águas mais claras,
com maior penetração de luz. No entanto, é
durante a noite que Akaoshi encontra os maiores peixes.
Por
isso, um dos desafios foi encontrar uma lanterna com lâmpadas
fluorescentes, que consomem bateria dez vezes menos que as convencionais.
Além disso, as baterias são recarregáveis
num equipamento que custou R$ 2,3 mil.
O trecho
preferido dos mergulhadores são os 5 km à jusante
da barragem de Jupiá, onde um paredão de 70 metros
de altura impede que os peixes passem de um lado para o outro.
Encurralados depois de subirem o rio na piracema, os peixes retornam
lentamente ou encontram formas de sobreviver naquela região.
Essa
pelo menos é a teoria de Akaoshi, que não vê
a hora de a visibilidade atingir os 5 metros para iniciar a temporada
de caça. Não fomos nós quem criamos
essa situação, foi a barragem sem escada para peixes,
justifica Milton. Neste ano, a temporada das chuvas descontrolou
a programação dos mergulhadores, mas até
meados de junho eles acreditam que a água terá clareado,
permitindo a pesca subaquática até setembro ou outubro.
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