A piscicultura é um dos segmentos da produção
animal que, apesar de relativamente novo, tem se firmado cada
vez mais como uma atividade de exploração economicamente
rentável.
Segundo
a médica veterinária Agar Costa Alexandrino de
Pérez, pesquisadora do Instituto de Pesca órgão
ligado à Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios
(APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado
de São Paulo , a piscicultura vem despontando como
uma excelente opção de agronegócio, apesar
da ocorrência de perdas por mortalidades decorrentes de
problemas sanitários. Isso é conseqüência
do crescimento desordenado da atividade e da falta de medidas
sanitárias corretas, provocando prejuízos econômicos
e produção de pescado com baixa qualidade.
Agar
explica que, para reverter esse quadro, é necessário
um acompanhamento veterinário e um correto planejamento
do manejo zoossanitário, visando a aumentar os índices
de produtividade, diminuindo custos de produção
e oferecendo ao consumidor um produto de qualidade assegurada.
Atualmente,
o principal canal de escoamento da produção de
peixes brasileira, diferentemente do que ocorre no restante
do mundo, tem sido os empreendimentos de pesca esportiva, os
pesque-pague. Por pagarem mais pelo quilo do peixe, esses estabelecimentos
recebem de 70% a 90% da produção, sendo o restante
distribuído em supermercados, peixarias, indústrias
de processamento de filé ou vendido diretamente ao consumidor.
Para
a pesquisadora do Instituto de Pesca, é inegável
a contribuição que os pesqueiros trouxeram para
essa atividade econômica na área de lazer e divulgação
do produto. Entretanto, como mercado significativo para a piscicultura
como um todo, os resultados ainda são insuficientes.
Monitoramento
profissional
Para a ocorrência de doenças infecto-contagiosas
ou parasitárias em um determinado grupo de animais aquáticos,
basta o surgimento de condições estressantes,
que levem a uma queda de resistência dos animais e à
conseqüente instalação de doenças,
sendo que esse quadro será mais grave quanto mais debilitados
estiverem os animais, diz o veterinário Antonio Carlos
de Carvalho Filho, pesquisador científico da APTA.
Para
melhor entender os sintomas clínicos de qualquer doença,
é necessário conhecer o comportamento dos peixes
em seu estado sadio, que é representado por um conjunto
de sinais facilmente identificados, tais como reflexos rápidos
de fuga diante de movimentos bruscos, luz ou ruídos próximos;
olhos movimentando-se para a posição de natação
reflexo dos olhos e manutenção da
nadadeira caudal em posição vertical reflexo
da cauda , quando o peixe é retirado da água.
O
surgimento de doenças pode alterar o comportamento dos
animais e também as funções de relação
e nutrição. Agar Costa explica que, nos peixes,
o prejuízo das funções de relação
alteram a capacidade de locomoção e de equilíbrio,
tornando-as instáveis e apresentando sinais de natação
lenta e desorientada, diferente da postura peculiar do animal.
Os peixes podem ficar isolados do cardume, apresentando hiperexcitabilidade
ou total apatia.
As
funções de nutrição relacionam-se
ao apetite, e a alteração dessas funções
pode indicar a presença de doença infecciosa,
parasitária, anemia e/ou lesão oral. Outros sinais,
como aumento ou diminuição do ritmo respiratório
ou respiração superficial revelam afecções
branquiais ou presença de substâncias tóxicas
no ambiente aquático, que afetam diretamente os animais.
Segundo
a pesquisadora, as manifestações clínicas
são muito semelhantes nas doenças de peixes. Assim,
quando os peixes adoecem, saltam a esmo, batem contra as paredes
do viveiro, apresentam inapetência, projeção
da mandíbula e nadam na superfície.
Causas
ambientais, como a falta de oxigênio, variação
brusca da temperatura e do pH ou presença de produtos
químicos na água, também ocasionam a sintomatologia
de natação na superfície, enquanto para
peixes tropicais, a inadequação da temperatura
nos meses frios provoca vasoconstricção generalizada
e hematomas superficiais, viscerais e na musculatura, levando
os animais a um choque hipovolêmico e à morte.
O
ponto fundamental para preservar a saúde dos peixes é
a prevenção. Assim, são fundamentais os
cuidados higiênicos e sanitários com a água
de abastecimento das instalações, com a alimentação,
com os viveiros e com a aquisição de novos peixes,
ovos e alevinos.
Diagnóstico
de doenças
A observação dos sintomas e a análise de
peixes doentes ou suspeitos de estarem contaminados são
importantes para o diagnóstico de eventuais doenças.
Para
o exame, os animais devem ser transportados na própria
água do viveiro para um laboratório de patologia.
Todo o material deve estar acompanhado de uma ficha contendo
as seguintes informações: localização
da propriedade, alimentação utilizada, espécies
cultivadas, procedência dos animais, valores médios
da temperatura e do oxigênio dissolvido na água,
dados sobre mortalidade quais espécies estão
morrendo, se jovens ou adultas e mortalidade diária,
entre outras.
Mais
informações sobre este assunto podem ser obtidas
no estudo Empreendimentos Piscícolas e o Médico
Veterinário, da pesquisadora Agar Costa Alexandrino de
Pérez agar@apta.sp.gov.br , publicado na
revista Educação Continuada, volume 2, fascículo
2, em 1999, pelo Conselho Regional de Medicina Veterinária
do Estado de São Paulo.