Dr. Otávio A.G. Branchini*
O Brasil talvez
seja um dos países em que a infecção hospitalar
determinou alterações profundas na sua história.
Podemos lembrar as mudanças políticas ocorridas
por ocasião do falecimento do presidente eleito, mesmo
que indiretamente, sr. Tancredo Neves, justamente ao término
do período de ditadura militar, na época das Diretas-Já.
Esse foi um
episódio significativo, mas não isolado, pois as
infecções hospitalares estão presentes no
mundo todo, determinando um gasto de US$ 6 bilhões por
ano nos Estados Unidos, e um aumento de cerca de 30% do número
de dias de internação dos pacientes acometidos.
No Brasil,
os dados são falhos, mas admite-se que sejam tão
importantes quanto nos Estados Unidos.
Por tudo isso,
e seguindo as determinações do Ministério
da Saúde, todo hospital deve ter um serviço de controle
de infecções hospitalares, capacitados e com poderes
de definir e implementar uma série de medidas que resultem
na diminuição e controle dos riscos de infecção.
Muito se comenta
a respeito de infecção hospitalar, mas efetivamente,
o que vem a ser isso? Como se define? Como se pega?
Infecção
hospitalar é toda infecção que se adquire
por ocasião da internação no hospital, ou
que decorre de procedimento cirúrgico ou diagnóstico
feito no hospital. Podem ocorrer vários tipos de infecção
hospitalar, como: respiratórias, intestinais, urinárias,
de ferida cirúrgica, entre outros.
Podem surgir
a partir do terceiro dia de intermação naqueles
pacientes sem infecção por ocasião da admissão,
e não necessariamente se adquire por erros ou por culpa
do hospital.
Na verdade,
todo paciente que necessite de internação, seja
clínica ou cirúrgica, tem alterado seus mecanismos
imunológicos de defesa. Portanto, só por esse fato
já são mais suscetíveis a desenvolver infecções.
Além disso, sua flora intestinal é rica em bactérias
que habitam principalmente o intestino, e que nessas ocasiões
se aproveitam e podem determinar infecção.
Portanto,
nem todas as infecões hospitalares são passíveis
de prevenção, só cerca de 30% delas, mas
a maioria delas (70%) é causada por flora bacteriana endógena,
isto é, do próprio paciente.
Há
certa confusão a respeito de infecções hospitalares,
que podem ser consideradas infecções cruzadas, isto
é, passam de um paciente para outro.
As infecções
cruzadas devem ser prevenidas, mas vários critérios
precisam ser obedecidos para definir o que seja uma infecção
cruzada adquirida dentro do hospital. Essa caracterização
é necessária para se provar que determinada infecção,
que surgiu na internação, é também
cruzada e passível de prevenção, antes de
se culpar por erros, médicos ou hospitalares.
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