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Arquivo NippoBrasil - Edição 161 - 12 a 18 de junho de 2002
Ryuhyoo: O gelo navegante de Hokkaido

A proa do navio Aurora abrindo fendas no gelo
 

Nas janelas do navio quebra-gelos os turistas deliram com as placas de gelo sendo quebradas

(Reginaldo Okada)

Abashiri - Lá em cima no mapa do Japão, encostado no litoral norte de Hokkaido, o mar trinca de frio durante o inverno e fica coberto por uma camada branca até o ponto em que a linha do horizonte enrosca nos olhos.

O Mar Okhotsk, localizado entre Hokkaido e Rússia, não chega a ter iceberg durante o inverno, mas os blocos que se formam nas suas águas podem atingir até dez metros de altura, e pesar toneladas. Em japonês, são chamados de ryuhyoo, que poderia ser traduzido como gelo navegante. A razão desse nome é porque eles “nascem” ainda em águas territoriais russas, a partir de dezembro, e chegam trazidos pelo vento e pela correnteza até as costas de Hokkaido.

As condições geográficas da região, cercada por ilhas enfileiradas, constituem-se em uma espécie de barreira de contenção e impedem que os blocos se dispersem. Em meados de março eles atingem o seu ponto máximo de ocupação, aproximadamente 1.252.500 quilômetros quadrados, e só vão derreter completamente por volta do mês de junho.


Detalhe da proa do barco Garinko-go 2, rompendo o gelo
 
 

Vida Marinha
Navios e barcos fazem passeios turísticos em mar congelado


Cozido de frutos do mar, uma
boa pedida em Hokkaido

O alto grau de congelamento do Mar Okhotsk é devido à grande quantidade de água doce que o rio Amuru, depois de percorrer 4.350 quilômetros no continente russo, despeja no litoral. Essa água, por ser menos densa que a salgada, permanece na superfície e possui maior facilidade em atingir o ponto de condensação, formando placas de gelo que chegam a uma espessura média de um metro no norte do Mar Okhotsk e 40 a 50 centímetros próximo a Hokkaido. Mas elas não são tão sólidas quanto o gelo que é produzido nos congeladores caseiros. No processo de condensação o sal é expelido ou se acumula formando bolhas dentro do bloco, o que os torna porosos e menos compactados.

Os ryuhyoo são responsáveis pela grande proliferação de vida marinha nessa região. O resfriamento que causam na água da superfície do oceano faz com que elas fiquem mais pesadas e afundem, trocando de lugar com a água com temperaturas mais altas que estão embaixo. Esse fenômeno provoca uma movimentação nas camadas mais profundas do mar trazendo para cima minerais que vão servir como nutrientes para os plânctons, a base da cadeia alimentar marinha. A relação é facilmente comprovada nos anos em que os ryuhyoo não chegam até Hokkaido, ou ficam pouco tempo. Nessas épocas, diminui consideravelmente a quantidade de peixes e outros frutos do mar pescados na região.

Durante o trajeto do passeio de barco dá para se ter uma idéia dessa riqueza vendo os numerosos bandos de pássaros que pescam nessas águas e, com um pouco de sorte, até é possível cruzar com algumas focas preguiçosas estiradas sobre os ryuhyoo.

Os produtos marinhos do Mar Okhotsk fazem de Hokkaido um dos lugares mais atraentes do país quando o assunto é gastronomia. Muito famosos são os seus caranguejos, entre eles o tarabagani, o gigante que chega a medir mais de um metro de ponta a ponta de suas patas, os camarões, o hotate (vieira) e uma grande variedade de peixes.


Turistas caminham sobre o mar congelado na cidade de Abashiri


A torre Okhotsk: mirante e aquário “inverso”

Okhotsk Tower

Em Mombetsu, ao lado do porto onde parte o quebra-gelos Garinko-go 2, se pode visitar a Okhotsk Tower, uma torre construída dentro do mar. Dos três andares superiores se tem uma visão de 360º da paisagem, além de exposições de audiovisuais e equipamentos informativos relacionados a essa região. Existe mais um pavimento submerso, a sete metros e meio abaixo do nível do mar, que pode ser considerado um aquário invertido. O visitante é que fica entre os vidros e os animais marinhos em mar aberto. Quando os blocos de gelo chegam às proximidades, é possível enxergá-los por baixo d’água.(Colaborou Satomi Shimogo)

 
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