Visitantes
purificam-se com fumaça de incenso diante das gigantescas
portas de madeira
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(Reginaldo
Okada)
Grandiosidade!
Essa é a expressão que primeiro vem à cabeça
das pessoas que visitam o Todaiji, o mais famoso templo da cidade
de Nara (a capital do Japão entre os anos 710 ao 784).
A dimensão física do santuário está
diametralmente relacionada a sua importância no panorama
político do século 8, quando o imperador Shoomu
(724~749) estabeleceu um forte governo centralizador e o budismo
como religião oficial da nação.
O Todaiji
funcionava como um eminente centro de pesquisa e difusão
da doutrina budista, em especial da linha Kegon, onde os monges
realizavam seus treinamentos e estudos. Era uma espécie
de quartel-general dentro de um sistema chamado Kokubunji,
constituído por uma rede de templos erguidos por ordem
do imperador nas várias outras províncias e ligados
aos clãs que detinham o poder em cada região. Se
por um lado era uma estratégia imperial de dominação
e controle, por outro, através dos Kokubunji e das cerimônias
neles praticadas, orando pela paz interna no País e pela
prosperidade do povo, criou-se pela primeira vez uma consciência
de unidade nacional.
De costa para o Grande Buda se vê a Lanterna
Octogonal e ao fundo o Chuomon (Portal do Meio)
Grande
Buda
O
Grande Buda de Nara sentado
sobre pétalas de lótus
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Entre
as várias esculturas de extraordinário valor artístico
e histórico que constituem o tesouro do Todaiji encontra-se
a imensa estátua chamada popularmente de Nara no Daibutsu
(Grande Buda de Nara) e que está instalada no pavilhão
principal do templo, denominado Daibutsuden.
Hoje,
observando a imponência das construções e
objetos artísticos legados do período Nara, pensamos
o quanto deveria ter sido gloriosa aquela época. Contudo,
as condições sociais e políticas reinantes
não era em nada para se vangloriar. O País se encontrava
tumultuado, envolto em guerras e revoltas internas, epidemias
e desastres naturais.
O imperador
Shoomu acreditava que por meio da religião se poderia pacificar
a nação de tal forma que a população
conseguisse buscar prosperidade, em especial pela devoção
e fé ao budismo. Foi assim que ele teve a idéia
de instituir o sistema dos Kokubunji e de construir uma monumental
imagem de Buda, que fosse um símbolo nacional, ao mesmo
tempo que representasse o poderio imperial.
O Grande
Buda, com altura de 14,98 metros, levou três anos para ser
construído nos arredores do templo Kinshoji, que foi o
predecessor do Todaiji, e finalizado em 749. O pavilhão
que lhe dá cobertura foi terminado em 751, e no ano seguinte
foi inaugurado com uma grande cerimônia de consagração.
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A
imagem da iluminação
Tocar no pé da estátua de madeira da divindade
Binzuru é uma prática entre os fiéis para
ter boa saúde
Dentro do Todaiji existe um tesouro em forma de obras de
arte e esculturas de valor excepcional
O
Daibutsu representa a imagem do Buda Vairocana, o Buda da luz,
da sabedoria e da compaixão infinita. Ela representa o
momento em que Sakyamuni, sentado em meditação sob
uma árvore, alcançou a iluminação
tornando-se um Buda e transcendendo o tempo e espaço. É
baseado nas descrições do Sutra Avatamsaka, que
descreve um mundo generoso, repleto de virtuosidade e povoado
de divindades.
De
acordo com o texto, o canto dos pássaros, as cores das
flores, a correnteza das águas, as formas das nuvens, entre
outras paradisíacas imagens, todas fazem parte do mundo
maravilhoso do Buda Vairocana e de seus ensinamentos que ajudam
a salvar os seres do sofrimento.
Na
base da estátua do Daibutsu existem pétalas de lótus,
como se o Buda estivesse gravitando sobre essa flor sagrada. Simbolicamente
representa o mundo da iluminação narrado
nos textos budistas e reproduz a noção de que cada
ser não possui uma existência isolada, mas que todos
os fenômenos e vidas estão intimamente relacionados
em um universo envolto pela luz da sabedoria do Vairocana.
Tragédias
e glórias
Segundo
uma crença, dá sorte atravessar um buraco
num pilar do templo, que tem o mesmo tamanho do orifício
da narina da estátua do Buda
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Através
dos anos o Todaiji e o Daibutsu passaram por momentos difíceis
até chegar aos dias de hoje como um dos mais famosos símbolos
culturais e religiosos nipônicos.
No
ano 855, um forte terremoto abalou as estruturas do templo e provocou
a queda da enorme cabeça de 5,33 metros da estátua,
que foi rapidamente reparada. Em 1180, depois do agravamento da
relação dos monges com o poderoso clã Taira,
grande parte do Todaiji foi incendiada e reduzida a cinzas.
Sob
o comando do monge Choogen, durante 20 anos houve uma grande campanha
em busca de apoio financeiro para a reconstrução.
Com a ajuda do imperador Go-Shirakawa e do xogum Minamoto no Yoritomo,
entre outras importantes personalidades da época, primeiramente
conseguiu-se restaurar a estátua e, posteriormente, o Daibutsuden,
que foi reinaugurado em 1195. Depois, outras partes do complexo
religioso foram recuperadas e o templo voltou a viver momentos
de glória.
Contudo,
novamente o Todaiji viria a ser atacado por incendiários
das tropas do clã Miyoshi e Matsunaga, em 1567. O grande
Buda voltaria a ficar exposto a céu aberto, recebendo sol
e chuva durante cem anos. Desta vez, a reconstrução
do pavilhão foi possível graças à
iniciativa do monge Kookei, em 1686. Porém, as condições
financeiras não permitiram uma réplica idêntica
à original e o Daibutsuden foi erguido em menores proporções,
sendo reinaugurado em 1709. Portanto, a versão que podemos
contemplar atualmente possui 290 anos. Mesmo tendo sido reconstruído
em tamanho menor o grande pavilhão sustenta o título
de maior estrutura em madeira do mundo atual.
(Colaborou
Satomi Shimogo)
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