Um
bloco das baianas se concentram na área do templo
antes de entrar na avenida
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(Reginaldo
Okada)
As
divindades budistas consagradas no templo Sensooji, do bairro
de Asakusa, Tóquio, devem achar esquisito o mês de
agosto. Não bastasse o sol ardente de pleno verão
que esquenta seus amplos telhados curvilíneos, para infernizar
ainda mais, há vinte e um anos vem acontecendo nessa época
uma algazarra muito estranha à sua volta. A invasão
incomum de um contigente enorme de pessoas e de bandos vestidos
com roupas coloridas - ou seminus - batendo tambor com estardalhaço
e pulando efusivamente sabe-se lá porquê.
Da
mesma forma que é estranho para os deuses do templo, também
é para os seres de carne e osso originários do país-berço
da maior festa profana do planeta. A feição oriental
da arquitetura do Sensooji e a sua função religiosa
não é lá um cenário que combine com
a profusão de sensualidade e alegria que caracterizam o
folguedo do Rei Momo. De qualquer maneira, já que no carnaval
vale tudo, o melhor é aproveitar o ensejo e fazer uma prece
a Buda pedindo para amenizar o carma - de antes e depois da farra
- e cair no samba com a alma mais leve e ágil.
Apesar
da estranha combinação, essa é a sugestão
para um bom programa para os próximos dias na capital nipônica.
Além de se curtir um dos pontos turísticos mais
famosos de Tóquio, pode-se aproveitar para assistir ao
desfile das escolas de samba do Asakusa Samba Carnival, anualmente
programado para o último sábado de agosto.
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Templo milenar
A
exótica e gigantesca lanterna do portal Kaminarimon
é o símbolo do Templo Sensooji
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A história
do Sensooji remonta a mais de mil e trezentos anos. Conta a lenda
que no ano 628 uma estatueta foi achada no fundo do rio Sumida
por dois pescadores, os irmãos Hinokuma. A imagem foi reconhecida
como sagrada e atribuída à deusa budista Kannon.
Protegida em um altar, passou a ser venerada pelos habitantes
da vila que ficava próxima ao rio. Com o tempo começaram
a afluir grande número de pessoas da vizinhança
e de regiões longínquas para rezar diante da divindade.
Por causa da demanda, desde então o templo foi sendo reconstruído
e aumentado várias vezes, tornando-se cada vez mais famoso.
A popularidade
da deusa Kannon no Japão é comparada à da
Virgem Maria no ocidente. Segundo ensinamentos budistas, ela é
símbolo da compaixão e liberta os seres humanos
de vários tipos de sofrimento.
Fervorosos
veneradores da deusa, incluindo ilustres personalidades, fizeram
generosas doações ao templo. No século dezessete,
o xogum Iemitsu patrocinou a construção do saguão
principal e outros prédios, porém eles foram destruídos
em 1945, durante os bombardeios na Segunda Guerra. Novamente os
fiéis manifestaram a arrebatadora fé e patrocinaram
a sua reconstrução, que foi completada em 1958 mantendo
o mesmo desenho do modelo anterior.
Na
entrada principal do templo fica o Kaminarimon, o famoso portal
que foi refeito em 1960, 95 anos após ter sido consumido
por um incêndio. Na parte frontal direita do portal se pode
ver a estátua do Fuujin, o deus vento, e à esquerda,
o Raijin, deus trovão. Pendendo no centro, na abertura
de passagem encontra-se uma lanterna gigante de cor vermelha,
que junto com as lanternas do portal Hoozomon e do prédio
principal se tornaram símbolos do Sensooji.
Depois
de passar pelo Kaminarimon e percorrer uma passarela chamada Nakamise,
que é ladeada por diversas lojas de suvenires típicos
japoneses, chega-se ao Hoozomon, um fabuloso portal com dois níveis
de telhado, e à magnifica torre de cinco níveis
de telhado. Além do prédio principal, que encerra
o belíssimo altar onde se encontrar a imagem da Deusa Kannon,
outras várias construções transformam todo
o complexo arquitetônico do templo Sensooji numa das mais
belas e interessantes atrações turísticas
de Tóquio.
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Asakusa Carnival
A
passagem dos passistas pela frente do portal
Kaminarimon é um dos pontos altos do desfile
Durante
o verão, devido ao intenso calor, decresce acentuadamente
o número de pessoas que visitam o Sensooji, acarretando
uma considerável queda no movimento do comércio
do tradicional bairro de Asakusa. Para atrair os turistas e também
como opção a mais de divertimento, a associação
local dos lojistas resolveu promover um evento bem animado e que
tivesse relação com os dias quentes dessa época.
Foi assim que a entidade, a mais de vinte anos atrás, enviou
para o Brasil alguns representantes para pesquisar o maior
show da terra e criar uma versão japonesa.
No
princípio seria difícil para um brasileiro afirmar
que aqueles blocos possuíssem qualquer vestígio
que lembrasse o carnaval de sua terra natal, mas nos últimos
anos a evolução das escolas de samba que desfilam
em Asakusa tem sido surpreendente, em todos os aspectos. Tanto
é que alguns passistas viajam anualmente para o Brasil
para se aperfeiçoar e inclusive chegam a desfilar em escolas
tradicionais do Rio e São Paulo.
A associação
dos lojistas de Asakusa conseguiu o seu objetivo, até além
do esperado. Nos últimos anos o público que vai
prestigiar o evento tem sido de cerca de 500 mil pessoas, acrescente-se
ainda as 4 mil que desfilam como integrantes dos vários
grupos, blocos e escolas.
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