Nascimento
da arte
A
origem do Chindon-ya remonta há mais de 150 anos. Na cidade
de Edo, atual Tóquio, havia tempo já era comum os
vendedores ambulantes oferecerem produtos gritando e batendo tambor
ou sino. Mas foi quando um deles, o vendedor de balas conhecido
pela alcunha de Amekatsu, se transferiu para Osaka, onde essa
prática ainda não era popular, que principiaria
o estilo de fazer propaganda ambulante.
Amekatsu
fez muito sucesso nas ruas de Osaka tocando alguns instrumentos
de percussão e gritando frases engraçadas, que ao
mesmo tempo eram propaganda das balas que vendia.
Por
volta do ano de 1845, foi proibido em Osaka que os teatros colocassem
cartazes de propaganda das peças pela cidade, e Amekatsu,
vendo uma boa oportunidade para aumentar seus rendimentos, ofereceu-se
para divulgar os eventos. Os teatros conseguiram recuperar o público
e na cidade era só escutar o tilintar do sino e o povo
já corria para a rua, seguindo Amekatsu. Nos anos que se
seguiram, muitas pessoas copiaram o exemplo de Amekatsu como opção
profissional. Em Osaka, eles eram chamados de Touzai-ya e em Tóquio,
de Hirome-ya.
Incrementação
musical
Um
outro fato viria a contribuir para incrementar a atividade dos
propagandistas. Com o fim da era do xogunato e a instauração
de um novo governo na Restauração Meiji (1868~1912),
foi criado o exército japonês no mesmo molde que
os ocidentais, e assim surgiram as bandas musicais militares no
país e a difusão do uso dos instrumentos provenientes
do exterior.
No
período Meiji, o Japão travou guerra com a Rússia
e a China e muitos cidadãos foram convocados para engrossar
as tropas. Após o fim do conflito, vários soldados
que aprenderam a tocar os instrumentos de sopro ocidentais se
viram desempregados e passaram a utilizar seus dons musicais unindo-se
aos grupos que faziam propaganda nas ruas.
Foi
só no início da era Showa (1926~1989) que surgiu
a denominação Chindon-ya, como imitação
do som que o grupo produzia. O chin é a batida
no sino e o don é a percussão do tambor.
A formação clássica era constituída
de, no mínimo, três pessoas: um músico que
tocava tambor e sino, um outro que dedilhava o shamisen e um terceiro
que soprava a clarineta.
Atualmente,
há variadas formações e instrumentos, mas
o número mínimo de componentes ainda costuma ser
de três pessoas, sendo imprescindível o tocador do
tambor e do sino conjugados, que é um instrumento inventado
pelos praticantes do Chindon-ya.
No
início da era Showa, com o advento do cinema, os atores
de teatro popular, que viajavam o país fazendo apresentações,
também começaram a perder seus empregos e encontram
na atividade dos Chindon-ya uma maneira de garantir o ganha-pão.
Sob a influência destes, os grupos ganharam roupas ainda
mais caracterizadas e maquiagens bizarras.
Festival
Nacional
Nos
últimos trinta anos, com a massificação dos
meios de comunicação e propaganda, a atividade dos
Chindon-ya entrou em declínio e é raro deparar-se
com um deles pela rua. Porém, existe um evento na cidade
de Toyama, capital da província homônima, que reúne
os grupos de todo o país, o Zenkoku Chindon Konkuru (Concurso
Nacional de Chindon), promovido anualmente pela prefeitura, sempre
no início da primavera, na mesma época da floração
do sakura, desde 1955. É o único festival nacional
do gênero para profissionais dessa arte.
O local
do evento é o parque em volta do Castelo de Toyama, no
centro da cidade. Este ano, na sua 46ª edição,
participaram 35 grupos, demonstrando que realmente a atividade
vem recuperando prestígio. No mesmo concurso realizado
em 1991 apenas 13 deles se inscreveram.
A festa
vale a pena pelo colorido, pela nostalgia e pela alegria de se
ver uma arte tão original voltando a ser respeitada, ainda
que timidamente. Os tempos mudam, os costumes se transformam,
mas a diversidade cultural típica deve ser preservada e
incentivada como manutenção da personalidade e ponto
de referência de um povo. (Colaborou Satomi Shimogo)
*O
jornalista Reginaldo Okada viajou a Toyama a convite da JAL (Japan
Airlines)
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