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Caderno Budismo

Escolhas... vagueando pelos caminhos...
A mula, sem inteligência, não sabe discernir sobre seus
atos, tampouco medir as conseqüências de seus atos e, por isso, ela apenas segue seu instinto
Foto: Cristina Izumi Sagara

A mula...
Uma mula andava pela beira da estrada à procura de comida. Na margem direita da estrada, avistou o capim que satisfaria sua fome e para lá se dirigiu. No entanto, quando ia começar a comer, seus olhos avistaram, na outra margem da estrada, um capim que lhe pareceu mais vistoso e mais saboroso. Assim, a mula atravessou a estrada para poder comer o capim que lhe pareceu melhor. Entretanto, no momento em que ia começar a comer e a saciar a sua fome, pelo cantinho dos seus olhos viu o capim do outro lado onde estivera e aquilo lhe pareceu deslumbrante e muito mais farto que o lugar onde estava. Novamente, atravessou a estrada e retornou ao primeiro lugar... novamente a outra margem lhe pareceu melhor. Desta forma, a mula continuou indo e vindo de uma margem a outra, perdida em seu objetivo de saciar sua fome para sobreviver... enfraqueceu e, sem comer, morreu no meio da estrada... de fome.

Esta história não conta simplesmente o triste fim de uma mula que foi vítima de sua ignorância, mas ilustra a conduta usual do “tão sábio” ser humano. A mula, sem inteligência, não sabe discernir sobre seus atos, tampouco medir as conseqüências de seus atos e, por isso, ela apenas segue seu instinto e come o que aparece a sua frente, independente de um capim parecer mais saboroso ou não, apenas sacia sua fome para sobreviver e absolutamente nunca diria “... ah! Deveria ter comido aquele outro capim...”.

Por outro lado, no caso do “tão sábio” ser humano, as coisas não são tão simples assim. Para atingir ou cumprir um objetivo, o ser humano, a princípio, questiona-se sobre qual dos caminhos seguir... este é melhor ou aquele é melhor... e ainda leva em consideração perigos, obstáculos, acontecimentos que possam surgir neste ínterim e a opinião alheia em relação a seus atos. Mesmo que a prioridade seja cumprir o objetivo, com tantas coisas a se considerar, o ser humano perde-se em seus atos sem conseguir decidir o caminho a ser tomado e, assim, muitas vezes não conseguimos dar sequer um passo para simplesmente cumprir nossos objetivos.

Um outro conto antigo ilustra a hesitação e a indecisão do ser humano perante uma situação de escolha. Conta-se que uma moça em idade de se casar foi apresentada a dois pretendentes. O primeiro era muito bonito, porém pobre e o segundo pretendente era feio, mas herdeiro de uma família muito rica. A mãe da moça então precisava dar uma resposta à família dos pretendentes e perguntou à filha sobre qual dos dois ela teria escolhido. Para que a filha não ficasse constrangida em responder alto, a mãe levou a filha para o quarto ao lado, instruindo-a para deixar o ombro direito de fora caso a escolha fosse o pretendente A, ou o ombro esquerdo, caso o escolhido fosse o B. Assim, depois um tempo, a mãe retornou para ver a resposta e ficou perplexa ao ver a filha com os dois ombros de fora!

Ao deixar os dois ombros de fora, não significa que ela desejava se casar com os dois... ela expressava seu desejo de se casar com alguém que fosse bonito e rico, ou seja, alguém que fosse a soma dos aspectos positivos dos dois pretendentes, típico de nós, seres humanos ambiciosos e egocêntricos.

 
A essência

No dia-a-dia, nos deparamos com inúmeras situações que podem ser facilmente resolvidas com nosso próprio conhecimento, experiência, ou mesmo através da ciência e da tecnologia, entretanto, existem situações que nos parecem sem solução e nos encontramos num beco sem saída... que fazemos nestes momentos?

Não adianta entrar em desespero e sair fazendo pedidos para todas as divindades que você se lembrar... segundo o legado de um grande mestre do zen-budismo, aqueles que buscam o caminho devem buscar conhecer a si próprio... buscar a si próprio é deixar o ego de lado... deixar o ego de lado é desapegar-se. Ao conseguirmos controlar nossos desejos egocêntricos, livramo-nos dos obstáculos que nos impedem de ver a verdadeira essência dos acontecimentos e, uma vez “resetados” de corpo e alma, conseguimos discernir aquilo que é realmente essencial; a partir daí, em harmonia com nosso “eu”, encontramos forças para superar as dificuldades e o sofrimento que nos afligem.


Créditos: O texto original é de autoria do ex-bispo superintendente-geral da Escola Sotoshu na América do Sul e atual reverendo do Templo Kotakuji (Hokkaido), Koichi Miyoshi, e tradução de Cristina Izumi Sagara.
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