Fotos:
Cristina Izumi Sagara
|
Um córrego
que originariamente tenha quantidade de água suficiente apenas
para lavar um pequeno lenço, ao se fazer uma barragem e ao represar
suas águas, é possível através de um sistema
hidrelétrico transformá-lo em energia e levar um pouco de
luz à escuridão das noites de uma vilarejo ou outro, e nada
mais. Da mesma forma, um ser humano, por mais dotado de habilidade que
seja, ao valer-se apenas de seu dom e tentar fazer isto, aquilo, tudo
ao mesmo tempo, a concentração fica tão dissipada
que o resultado acaba em ... dois pássaros voando e nenhum
na mão..., e o indivíduo atravessa uma vida inteira
sem ter feito algo por completo. Por mais limitado que seja um dom ou
uma habilidade, ao concentrarmos este dom em um ÚNICO caminho,
conseguimos enxergar e observar detalhadamente cada passo e cada centímetro
deste nosso caminho, ou seja, nós nos tornamos peritos do caminho
que escolhemos.
Normalmente,
comemos três refeições ao dia e não é
porque há guloseimas ou bebidas saborosas que deixamos de lado
alguma refeição. O café-da-manhã tomamos de
manhã, assim como o almoço no meio do dia. Não é
possível comer as três refeições de uma vez
só. Ao comermos nossas refeições todos os dias disciplinadamente
no horário correto é que conseguimos manter uma vida regrada
e saudável, correto!? A prática de hábitos corretos
e a disciplina em colocarmos em prática todo o conhecimento que
temos em teoria nos faz verdadeiros conhecedores do caminho que escolhemos
para trilhar.
Na
real necessidade, o verdadeiro aprendizado
Um agricultor
chamado Sankiti estava cuidando de sua roça quando avistou Kengo,
um senhor cego da vizinhança se aproximando. Kengo era um senhor
muito inteligente e vivido e sempre levava a melhor nas discussões
com Sankiti. Olhando para o cego que se aproximava, veio à mente
de Sankiti uma maldosa idéia de se vingar de Kengo pelas vezes
em que teve seu orgulho ferido. Com um sorriso macabro em seu rosto, ficou
à espreita no caminho de Kengo. Assim que ele se aproximou, segurou-o
pelo braço, rodopiou-o por várias vezes e soltou seu braço
justamente na direção contrária em que vinha andando
o cego. Kengo, então, tateou o chão com sua bengala e começou
a andar na direção contrária. Satisfeito com o sucesso
de sua vingança, Sankiti já estava prestes a gargalhar quando,
de repente, Kengo, depois de alguns passos, deu meia volta e começou
a andar na direção correta. Inconformado, porém curioso,
Sankiti perguntou como ele conseguiu achar a direção certa.
Caçoando de Sankiti, Kengo respondeu: Você acha que
sou cego à toa!, e continuou rindo de Sankiti e explicou:
A minha deficiência visual me fez muito mais sensitivo do
que quando eu enxergava. No momento em que você me rodopiou, eu
estava apreciando a suave brisa de primavera que soprava em meu rosto.
Ao começar a andar, percebi que estava na direção
errada e me guiei pela direção da brisa. Sankiti,
inconformado, perguntava-se: Mas a brisa que está soprando
é quase imperceptível, ainda se fosse um vento....
Refletindo sobre o tempo desde que Kengo havia perdido a visão,
Sankiti lembrou-se de que, há muitos anos, o próprio Kengo
vivia se machucando por colidir em obstáculos, mas, com o passar
dos anos, na real necessidade de conviver com sua deficiência, Kengo
desenvolveu percepção e sensibilidade apuradíssimas.
Ao mergulharmos
de corpo e alma na escuridão do conhecimento e ao nos concentrarmos
para encontrar os pequenos vaga-lumes que iluminarão nossos caminhos,
conseguimos apurar nossa percepção para ver, ouvir e sentir
os detalhes do universo a nossa volta e nos tornamos capazes de deliciarmo-nos
mesmo com as pequenas coisas que estão em nossos caminhos, apenas
esperando para serem notadas.
Diz-se que
o verdadeiro agricultor não é aquele que simplesmente semeia,
rega e colhe. O verdadeiro agricultor é aquele que semeia com o
coração, rega e cultiva com o coração e colhe
com o coração, sendo conhecedor da terra que lhe dá
os frutos.
Concentre-se
emum único caminho que só a você cabe, somente a você.
|