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Zazen (meditação): prática deve ser realizada
de forma incondicional e desapegada
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Segundo o
ensinamento Zen, prática e iluminação são,
na verdade, uma coisa só. A prática não deve ser
meramente um meio ou um caminho para se alcançar um objetivo, a
iluminação. A prática (meio ou caminho) é,
por si só, o objetivo (iluminação), assim como o
objetivo (iluminação) por si só é a própria
prática.
É comum
pensar que prática e iluminação são coisas
distintas e que uma sucede a outra, ou seja, que uma é resultado
de outra. Entretanto, no Zen, a prática do zazen (meditação)
é a efetiva prática e, ao mesmo tempo, a realização
do objetivo. E, assim, uma vez que zazen é a prática
e a realização, normalmente acaba se imaginando que deve
haver ainda um objetivo (iluminação) além. Desta
forma, ao se praticar zazen com o simples intuito de alcançar o
satori (iluminação), a prática torna-se um mero recurso
para se alcançar um objetivo e, assim, é até compreensível
que muitos daqueles que praticam zazen acabem criando uma expectativa
de alcançar algo como a iluminação. Mas reflitamos:
se um indivíduo treina como roubar outros, isso não faz
dele um ladrão, esse indivíduo torna-se efetivamente um
ladrão no momento em que roubar algo de outro. O mesmo ocorre com
o princípio prático zazen: a prática em si, em sua
totalidade, é a efetivação do objetivo, a iluminação.
No ensinamento
Zen, busca-se evitar o confronto de prática e iluminação
quando se interpõem desejos terrenos que interferem
na sensatez do pensamento. Toda e qualquer prática, assim como
a própria prática do zazen, deve ser realizada pura e simplesmente,
sem se deixar manchar por pensamentos alheios e livre de qualquer
desejo egocêntrico, natural de nós, seres humanos. Ao praticarmos
um caminho, devemos ser fiéis a nossa escolha e ao que este caminho
nos proporciona, porém sem esperar chegar a um destino, ou seja,
não trilhar meramente para chegar a um destino e, sim, crescermos
com o que encontramos no percurso deste caminho.
Por volta do
séc.VIII, na China, numa ocasião em que o mestre Baso Dôitsu,
durante seu treinamento, praticava solitariamente o zazen, aproximou-se
um mestre de artes que o interrompeu, indagando: Meu caro, é
admirável que o senhor fique aí praticando meditação,
mas, afinal, o que espera conseguir com isto?. Imediatamente, o
monge respondeu: A iluminação!. Ao ouvir a resposta
do monge, o mestre de artes surgiu com uma telha e começou a raspá-la
numa grande pedra, quando o monge indagou por que fazia aquilo. Vou
polir esta telha na pedra e transformá-la num espelho!. E
o monge respondeu: Por mais que você fique polindo esta telha
ela nunca será um espelho! ?. E então o mestre de
artes fitou-o, dizendo: Então, por que o senhor alcançará
a iluminação praticando zazen?. Esta é uma
das histórias que ilustram e advertem sobre fazermos da prática
um simples recurso para obter algo. Qualquer que seja nossa prática,
que esta possa ser realizada de forma incondicional e desapegada.
Ao relacionarmo-nos
com outras pessoas, sempre aprendemos algo e crescemos de alguma forma,
e não é para crescermos que nos relacionamos. Buscamos ser
pessoas melhores e desenvolvidas para que possamos desenvolver bons relacionamentos.
Quando a experiência leva ao crescimento sem que este crescimento
seja o objetivo, crescemos. Sem premeditar o objetivo de nossos atos,
conseguimos pura e simplesmente vivenciar e, vivenciando, sem percebermos,
a experiência passa a ser uma parte de nós. Nós, seres
humanos, somos o somatório de nossas próprias experiências.
Nosso crescimento é diretamente proporcial à nossa vivência.
Que possamos ir fundo em nossas experiências e que possamos viver
intensamente cada uma delas.
Cada prática
é um aprendizado que não tem um objetivo a ser alcançado.
A cada aprendizado, um passo à frente que damos para um destino
sem limites, pois, cada passo dado, é um objetivo alcançado.
Assim, cada um de nossos passos é, ao mesmo tempo, o ponto de chegada
e o ponto de partida para o passo seguinte.
Cada novo dia
sucede um outro dia... cada novo dia antecede um novo dia... como você
vai viver seus dias?
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