Fotos:
Divulgação
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Um viajante
caminhava tranqüilamente pelas trilhas da montanha quando um ruído
estranho o fez parar para buscar a origem. Mas, ao se voltar e olhar para
trás, estremeceu ao ver que um enorme e feroz tigre corria em sua
direção vorazmente. Desesperado, o viajante correu em disparada,
mas qual não foi o seu desespero ao ver que à sua frente
não havia mais caminho, senão um precipício!
Este é o meu fim... pensou o viajante, quase já
desistindo da fuga. Entretanto, num relance, ele notou que havia um cipó
de glicínia enroscado na grande árvore à beira do
precipício e que pendia como uma corda despenhadeiro abaixo.
Isto é uma graça divina, muito obrigado!
E, assim dizendo, pendurou-se no cipó e, por um triz, safou-se
de ser devorado pelo tigre.
Estou salvo! respirou aliviado o viajante, mas, nesse momento,
ele se deu conta de que suas mãos não agüentariam o
peso do seu corpo por muito tempo... Decidiu, então, descer e,
ao olhar para baixo, qual não foi sua surpresa ao se deparar com
uma serpente gigante que o espreitava ameaçadoramente, com suas
presas afiadas à mostra e só esperando para dar o bote!
Novamente acuado, o viajante se balançou para tentar encontrar
um apoio nas rochas... mas novamente foi surpreendido por quatro víboras
que, de sua toca nas rochas, o ameaçavam com suas línguas
vermelhas e bifurcadas, como se o alertassem:
Se chegar mais perto, lhe morderemos.
De repente, começou a sentir uma vibração no cipó
e, ao olhar para cima, algo estava roendo a base da planta que ainda o
mantinha vivo... eram dois ratinhos... um pretinho e um branquinho.
Desta vez, não tenho mais salvação... a morte
é certa e um tremor correu por todo o seu corpo. Nesse momento,
de uma colméia que pendia a uns dois metros acima de sua cabeça,
uma gota de mel pingou e, por acaso, caiu justamente dentro de sua boca.
Humm, que delícia o doce sabor do mel o levou a um
tal estado de êxtase, que o fez se esquecer da realidade de sua
situação desesperadora e sem esperanças.
Qual a mensagem
que está figurada nesta história?
A trilha da
montanha por onde caminhava o viajante é a representação
de nós, seres humanos, trilhando os altos e baixos do caminho de
nossas vidas. Vagamos pelos caminhos quando, repentinamente, nos damos
conta de que há uma fera logo atrás a nos perseguir. Esta
fera é nada mais que o karma que cada um de nós carrega,
nossos inúmeros atos praticados no passado. Nós, seres humanos,
buscamos com todo o esforço livrarmo-nos de más ações
praticadas no passado e, por um momento, conseguimos ter a sensação
de que conseguimos. É como o viajante sentindo-se salvo ao pendurar-se
no cipó. Entretanto, logo abaixo, o que o espera é uma grande
serpente, com sua enorme mandíbula aberta como se fosse um caixão
de tampa aberta apenas aguardando pelo defunto. Nesses momentos, a tendência
é pensarmos: Não quero morrer! Tateamos na esperança
de encontrar um local seguro que permita a continuidade de nossa vida,
mas acabamos nos deparando com as quatro cobras venenosas que representam
os quatro elementos: terra, água, fogo e vento, ou seja, os elementos
que constituem toda e qualquer matéria, e a quebra no equilíbrio
desses quatro elementos pode causar sofrimento e temor ao ser humano,
além de poder até extinguir a vida, quando em forma de catástrofes
como terremoto, inundação, incêndio e ventania.
O cipó
de glicínia é o fio da vida, o tempo de vida de cada indivíduo.
Os ratinhos preto e branco que roem a base do cipó são representações
da sucessão da noite e do dia... o passar dos anos... os dias de
vida se esvaindo. Em meio a todas essas circunstâncias cheias de
temor e sofrimento, por mais incrível que pareça, o ser
humano consegue não se mostrar abatido, motivado pelas gotas de
mel que caem na boca... são os cinco desejos: bens materiais, luxúria,
sede e fome, status social e sono. Busca-se lucro e mais lucro para saciar
o desejo de bens materiais... esbanja-se de comida e luxúria...
espera reconhecimento e status sem sequer se esforçar. São
estes desejos que fazem parte da natureza humana e, aceitando-os ou não,
fazem parte do viver. Entretanto, motivados em excesso para saciar seus
desejos, muitos acabam se perdendo em seus caminhos, não percebendo
a rentável poupança que é acumular más ações
que, na verdade, são os karmas negativos.
O essencial
é a forma como agimos ao encararmos uma situacao extrema ou sem
esperanças. Para todo efeito, existe uma ação e,
por isso, precisamos nos valer de equilíbrio, sabedoria e bom senso
para discernirmos de forma correta. Como conseguimos!? Um dos meios é
a prática de zazen meditação... envolvidos
pelo silêncio... corpo e mente encontram a serenidade e o caminho
do equilíbrio.
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