(Texto:
Venerável Mestre Hsing Yün | Foto: Divulgação)
Ao longo da
história, existiram grandes homens e grandes mulheres que perdoaram
seus inimigos por entender e apreciar a beleza da magnanimidade. Com generosidade
e bondade, preferiram o perdão ao ressentimento. Assim, não
podemos criticá-los, alegando que ignoraram a diferença
entre o certo e o errado, o que é bom e o que é mau. Ao
contrário, devemos nos esforçar para ser como eles, livrando-nos
do ódio e substituindo-o pela compaixão.
Herança
Durante a
Segunda Guerra Mundial, os soldados japoneses assassinaram impiedosamente
a população de Nanjing, no decurso do que ficou conhecido
como o Massacre de Nanjing. Cinqüenta anos se passaram, mas, mesmo
assim, muitos chineses ainda guardam alguma hostilidade em relação
aos japoneses por sua relutância em formalizar um pedido de perdão.
As exposições sobre a II Guerra Mundial no Museu da Tolerância,
em Los Angeles (EUA), apresentam uma cruel recordação de
como o ódio de um homem pode levar à perda de 6 milhões
de vidas.
É inegável
que o ódio tem sido a principal causa de conflitos não resolvidos
e guerras por todo o mundo, tanto no passado quanto no presente. Se pelo
menos um grama de perdão estivesse disponível em algum momento
e algum lugar, a paz certamente poderia substituir a animosidade no curso
da história humana. A magnanimidade é capaz de dissolver
a frieza do ódio, assim como o sol da primavera derrete a neve
do inverno.
No entanto,
hoje, poucas pessoas se dispõem a praticar a arte do perdão
em consideração à beleza da magnanimidade. Ao contrário,
preferem lançar sua raiva sobre vítimas inocentes ou punir
severamente aqueles que lhes causaram algum mal. Se um pai não
for capaz de perdoar o erro de um filho, como poderá haver amor
na família? Se um professor não puder reagir de maneira
apropriada ao erro de um aluno, como existirá respeito na sala
de aula? Se um juiz não for capaz de decidir com justiça
e prontidão, como manter a confiança do povo no sistema
judiciário? Se um policial não for justo e honesto, como
poderá haver confiança na polícia?
Receita
para viver melhor
Como, então,
dissolver o ódio e a animosidade? Somente por meio da bondade amorosa
e da compaixão podemos encontrar espaço em nosso coração
para perdoar os outros. Será na disposição para nos
livrar do ressentimento que iremos encontrar o caminho para a magnanimidade.
Mas só com palavras não se realiza mudança alguma.
Apenas com coração tolerante e indulgente haveremos de inspirar
os demais a seguir nossa conduta e perceber a beleza do perdão.
Para que uma
pessoa possa redimir seus erros e transformar sua vida, é preciso
dar-lhe uma segunda chance. Sem a indulgência da lei e das pessoas,
é tudo inútil. Somente quando nos dispomos a aceitar seu
pedido de desculpas e a perdoar sua ação maléfica
é que podemos verdadeiramente guiá-la na direção
correta e dar-lhe a chance de uma vida nova. Assim, ao ser magnânimos,
não trazemos benefícios só para os outros, mas também
para nós mesmos.
Aqueles
que não relevam pequenas questões, comprometem grandes empreendimentos
esse é um velho ditado que deveríamos guardar no
coração. Para que a sociedade tenha paz e harmonia, cada
um precisa praticar a virtude da tolerância e aprender a apreciar
a beleza da magnanimidade. Não devemos guardar rancor em relação
a ninguém; não devemos transformar qualquer situação
em caso de polícia. Se pudermos ter um coração indulgente
em relação a nossa família e amigos, nossos patrões
e empregados, nosso governo e sociedade, o mundo será um lugar
maravilhoso para se viver, um espaço de bondade e cordialidade.
Ainda que a
decisão de perdoar e esquecer possa ocorrer num simples
pensamento, ela tem enorme poder de transformar o negativo em positivo.
Sendo magnânimos, podemos transformar violência em paz, hostilidade
em amizade e divergência em acordo. Custe o que custar, precisamos
pôr toda a nossa energia no cultivo da virtude da magnanimidade
e inspirar os outros a que façam o mesmo. Sem isso, o mundo ideal
de afeição e da afinidade genuínas jamais se tornará
realidade.
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