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Opinião - 19/04/2013 - NippoBrasil
Adaptando-se ao jeito brasileiro de ser

Kunihiko Chogo*

Que Brasil e Japão são nações muito próximas (obviamente não fisicamente), não é nenhuma novidade. Desde 1908, com a primeira onda de imigração, o relacionamento, pessoal e de negócios, entre os dois países foi cada vez mais estreitado e reconhecido. Já nas décadas de 1950 e 1960, uma série de empresas japonesas, entre montadoras, fabricantes têxteis e importantes marcas chegavam ao país. Atualmente, é possível dizer que estamos passando por uma terceira onda. Desta vez com a chegada de empresas de tecnologia e manufatura ao país.

Entre os principais atrativos estão a recente estabilização da economia brasileira, a participação no grupo BRICS e o fato de abrir mais portas para o investimento em toda a América Latina. Essas características, somadas à busca por novos mercados - uma vez que a Ásia já foi atingida pelos japoneses - e a uma relação mais estável e segura entre os países, têm sido refletido num maior volume de investimentos entre os dois. Em razão da forte e consolidada comunidade japonesa no Brasil, com uma cultura já conhecida e respeitada, torna-se mais fácil a aceitação nacional dessas empresas, gerando mais confiança nos executivos e melhor adaptação dos estrangeiros à região.

Especificamente no mercado de tecnologia, o interesse dos brasileiros por novidades tecnológicas, tanto como consumidores de novos produtos quanto como desenvolvedores de lançamentos para esse mercado, cria um bom público-alvo e profissionais mais capacitados para atender esse setor. Ainda há muito espaço a ser explorado e o mercado tem se mostrado cada dia mais sofisticado, elevando as demandas a outro nível de investimento.

No entanto, não são somente elogios e vantagens que permeiam essa relação. As principais barreiras encontradas pelas empresas japonesas com interesse em investir no Brasil são a burocracia e a dificuldade em compreender a legislação e a cobrança de impostos nacional. Para empresas que já estão instaladas no país, o desafio é fazer com que os executivos da matriz japonesa compreendam o motivo das cobranças e a necessidade de recursos para realizar a adaptação ao local. Já para as que ainda estão apenas sondando o setor, o susto tomado com os altos custos e burocracias fiscais e legais pode gerar uma mudança no foco de mercado.

Ainda assim, é possível perceber que os japoneses estão monitorando as grandes organizações, fazendo os primeiros investimentos. Alguns grandes negócios já estão sendo fechados e nota-se que as empresas médias também estão se aproximando. Algumas atitudes podem ajudar os empresários a melhorar a relação com o Japão e atrair e atrair mais investidores. Devido à distância geográfica entre as duas nações, as informações que chegam ao Japão sobre o Brasil são, na maioria das vezes, negativas ou distorcidas, em especial as relacionadas à segurança pública, clima, alimentação. Não é difícil encontrar um executivo japonês que tenha como referências do Brasil, "carnaval e futebol", e que veja o brasileiro como um povo que gosta mais de se divertir do que de trabalhar. Por esse motivo, é importante que as empresas e o governo se empenhem em enviar informações corretas e otimistas, que gerem maior interesse nos investidores.

Outro ponto que pode ser trabalhado tem relação com o idioma. A maior parte dos japoneses nunca ouviu a língua portuguesa e tem grandes dificuldades em aprender. O compartilhamento de mais informações de negócios em inglês, como documentos, sites e dados, pode ser um grande diferencial para atrair a atenção das empresas asiáticas aos interesses nacionais.

Já do lado dos investidores japoneses, algumas dicas devem ser levadas em conta: paciência com as regras é o primeiro passo para o sucesso. É essencial buscar um entendimento profundo dos processos brasileiros para que não haja divergências. Planejar e analisar todas as oportunidades e possíveis riscos envolvidos no processo são atitudes também muito importantes nas quais a cultura organizacional japonesa, conhecida por sua acuidade e atenção aos detalhes, pode ajudar.

Por fim, também é - tão relevante quanto os outros conselhos - saber ouvir outras opiniões e buscar uma aproximação com empresas de confiança já instaladas no país. Essa é a melhor forma de entender a cultura, os negócios e ter contato com o mercado. Os empresários locais estão sempre interessados em ajudar companhias que podem agregar valor ao setor. Afinal, se a intenção é adaptar-se às características brasileiras, é bom começar pelas melhores: a abertura à colaboração e o trabalho em equipe.


Keiko Ota, Deputada Federal

* Kunihiko Chogo é diretor de Desenvolvimento de
Negócios Globais, da empresa japonesa
NTT DATA no Brasil.
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