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       Opinião 
        - Edição 577 - 
        Jornal NippoBrasil 
       
        Natal gordo 
      Teruo Monobe* 
        A 
        menos de um mês do Natal e com a perspectiva das empresas liberarem 
        parte do 13º salário, a expectativa é que as compras 
        comecem a deslanchar definitivamente. Está certo que ainda não 
        se pode notar o espírito de Natal, embora as lojas, 
        principalmente dos shoppings, estejam enfeitadas com a árvore e 
        os adereços típicos desta época do ano. Mas é 
        o dinheiro mesmo quem dá o tom, pois a data se tornou bastante 
        comercial. Obviamente, ficar só olhando as vitrines não 
        tem graça nenhuma, mata qualquer tática de marketing dos 
        lojistas.  
      Uma notícia 
        de um mês atrás falava que o bom desempenho das vendas do 
        Dia da Criança fez com que todas as expectativas dos lojistas fossem 
        superadas, tornando a data o maior recorde de vendas de todos os eventos 
        deste ano. É natural que o comerciante agora mire o Natal (e o 
        Ano Novo) com bons olhos já que este evento é de longe o 
        maior do ano, não havendo diferença de idade, gênero 
        ou classe social. Até quem não é religioso ou cristão 
        não deixa de comprar nesta época do ano, já que o 
        dinheiro está disponível e os apelos de compra são 
        irresistíveis. 
      O leitor que 
        quiser testar sua paciência pode checar o movimento da rua 25 de 
        março, só para ver como o comércio fervilha. O último 
        feriado do ano (dia 15 passado) já foi muito movimentado. Fala-se 
        em cerca de 700 mil a 800 mil pessoas, em apenas um fim de semana, circulando 
        pela região com o objetivo de comprar, ou no mínimo, checar 
        os produtos e os preços para adquirir depois. Isso tudo entusiasma 
        o varejista, porém, o mesmo não se pode falar do empresário 
        do ramo de máquinas e equipamentos que não está nada 
        satisfeito.  
      Todos sabem 
        que os produtos nacionais estão perdendo espaço para os 
        concorrentes estrangeiros. Hoje, de acordo com pesquisas, 20% de tudo 
        que é consumido internamente é importado. A tendência 
        de compra de produtos de outros países já havia sido detectada 
        há algum tempo, mas, neste ano, devido à valorização 
        do real, o ritmo de substituição do produto nacional pelo 
        importado cresceu muito. Principalmente nestes últimos meses. Enquanto 
        a moeda estiver em alta, existem poucas chances de reversão dessa 
        tendência. 
      Quando se fala 
        que os produtos importados estão substituindo os nacionais, todos 
        pensam nos chineses. Não é bem isso. Os Estados Unidos já 
        têm superávit no comércio com o Brasil, coisa que 
        não ocorria há muito tempo. Para sair da crise, os norte-americanos 
        começaram a promover intensamente seus produtos por aqui, e já 
        estão com saldo acentuado da balança comercial. É 
        óbvio que a China ainda vende muito para o País, principalmente 
        produtos baratos, mas as importações têm nacionalidades 
        diversas. Não só de lâmpadas de Natal.  
      As autoridades 
        ficam contentes e descontentes ao mesmo tempo neste período do 
        ano. Contentes porque a invasão de produtos importados breca a 
        inflação. Mas, no longo prazo, o prejuízo é 
        muito grande, principalmente porque a indústria nacional perde 
        espaço no mercado, fazendo com que empresas percam competitividade, 
        levando a indústria à estagnação. Pior, a 
        tendência de crescimento das importações tem sido 
        crescente e contínua nestes últimos sete anos, tornando 
        o cenário preocupante.  
      Chegou-se a 
        um nível de preocupação idêntico ao do início 
        do governo Lula, embora naquela ocasião, o dólar estivesse 
        valorizado no Brasil. O que é pior é que as exportações 
        não têm acompanhado o ritmo das importações. 
        Alguns analistas falam que talvez em 2011 haja reversão de expectativas, 
        fazendo com que as exportações sejam muito maiores do que 
        as importações. Por enquanto, é só um sonho. 
        É sonho porque nada indica que o real vá perder valor. Porém, 
        o câmbio pode não ser o pior dos males: ainda existe a infraestrutura 
        inadequada, a elevada carga tributária e o baixo investimento em 
        pesquisa e desenvolvimento. 
      Para quem for 
        comprar nestes próximos dias, a recomendação é 
        planejar os gastos. As lojas estão fazendo todo o tipo de promoção 
        como o início do pagamento só em março de 2011. Muita 
        gente aceita esse tipo de oferta sabendo que janeiro é um mês 
        complicado, pois vence o IPVA, começa o IPTU e os eventuais exageros 
        de fim de ano. Tem também as férias. Poupar neste período 
        soa estranho, mas é preciso planejar as finanças. É 
        importante um Natal gordo, mas é bom precaver-se para não 
        haver um pós-Natal magro  ou duro. 
       
         
          
           
          *Mestre em Administração Internacional e doutor pela USP 
       
        
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