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Opinião - Edição 587 - Jornal NippoBrasil

Inflação

Teruo Monobe*

Primeira página dos jornais e manchetes de noticiários de rádios e TVs, a inflação voltou mesmo com tudo, como havia sido previsto. Já atento a esse fato, o Comitê de Política Monetária havia se antecipado e aumentado os juros. O complemento da notícia é que a inflação de janeiro foi a maior desde 2005. No caso, foi o IPCA que atingiu 0,83%, elevando as previsões para uma taxa mais alta para 2011. O ministro da Fazenda tenta acalmar os ânimos, mas não consegue, já que parece que neste primeiro trimestre do ano a luta está inglória.

As razões do aumento da inflação são transporte coletivo e alimentos. A alta de preços de material escolar vai ficar para fevereiro. Imagine o leitor se os reajustes de salários (de mais de 60%) dos políticos entrassem no cômputo do custo de vida (afinal somos nós que pagamos os salários deles; portanto, é um custo), a inflação estaria nas alturas, só comparado com o período pré 1994. Aliás, os aumentos dos serviços públicos, exceto os de transportes, não entram no custo de vida. Exemplos são as taxas para atender a burocracia brasileira.

Voltando à questão da inflação, dizem os analistas que provavelmente o índice anualizado (12 meses) no meio do ano chegue a ser superior a 6,5%, para depois cair, caso não ocorra nenhum fato atípico. Por isso, o que se convencionou chamar de “centro da meta” (4,5%) não tem mínimas chances de ser alcançado. Nem em 2012. Repare o leitor que a diferença entre as previsões de um ano atrás e a realidade atual é de quase 50% para cima. E não adianta o ministro da Fazenda dizer que se trata de alta sazonal e passageira e que não é preocupante.

Os analistas dizem que o que é preocupante é o próprio governo não estar preocupado, o que provoca reação contrária dos agentes econômicos. Alguns fatores externos continuam provocando pressões inflacionárias, como é o caso das commodities agrícolas. Para nós, o que preocupa é o remédio que o Banco Central tem usado: a elevação dos juros, cujo patamar até meados do ano pode chegar a 12,75%. Também é preocupante o aumento da inadimplência nestes últimos tempos, embora as autoridades digam que “tudo está sob controle”.

Em sua coluna, Celso Ming rejeita as explicações escapistas típicas das autoridades quanto à inflação. Assim, ele diz que “a inflação é o produto de três causas que se conjugaram: despesas excessivas do governo federal, disparada também excessiva do crédito e atraso do Banco Central em começar a agir”. Lembra o comentarista o que já explicamos há algum tempo: que, com o incentivo ao crédito, a demanda cresceu mais rapidamente do que a capacidade das empresas de ofertarem os produtos. Os ganhos salariais também agravaram as coisas.

Outro fato, que já comentamos também nesta coluna, é que no Brasil a poupança popular é baixíssima se comparada com a verificada no exterior: 17%. Com o nível de investimento de 20%, o país depende da poupança externa, o que faz com que o Banco Central ofereça juros altos para atrair o investidor (que na realidade acaba confundindo-se com o especulador). Celso Ming também faz referência ao crescimento dos postos de trabalho e de salários acima da produtividade, o que acabam elevando o consumo e piorando a situação.

A partir do exposto, fica a velha pergunta: como combater a inflação? Dez entre dez analistas vão repetir que o governo tem de diminuir as despesas públicas para baixar a renda e o consumo. Baixar a renda não dá, mas reduzir o crédito, sim; está é uma medida um tanto antipática, já que não faz tempo o próprio governo incentivava o crédito. O pior dos remédios, embora necessário, é elevar os juros. As consequências são rápidas: a entrada de dólares em janeiro foi a segunda maior da história. Tudo o que se falar sobre isso vai ser redundante.

Notícia alvissareira foi que o governo prometeu corte o recorde de R$ 50 bilhões para frear o consumo e a inflação. Embora o valor seja considerado pelos analistas como insuficiente para atingir a meta de superávit primário em 2011, é um grande passo que o governo dá para mostrar maior responsabilidade fiscal. Reduzindo o consumo, a previsão de crescimento passa a ser de 5% (de acordo com o governo), ou de 4,6% (de acordo com o mercado). Está começando a desconstrução dos últimos anos do governo anterior. Felizmente.




*Mestre em Administração Internacional e doutor pela USP

 

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