Junji
Abe*
Entre
1940 e 1960, o Brasil ancorou-se na indústria automobilística
como propulsor da economia em todos os sentidos. Sem visão
estadista, autoridades políticas fizeram questão
de esquecer a gigantesca dimensão territorial deste País.
E pior: daquele período até a década 90,
fizeram tudo para abandonar o sistema ferroviário. Sucatearam
até o aniquilarem integralmente. Aqui em São Paulo
(para não citar outros estados), a interiorização
do desenvolvimento se fez através de estradas de ferro.
Sorocabana, Paulista, Rondon, Mogiana, Santos-Jundiaí,
Central do Brasil e outras foram responsáveis por cidades,
como Sorocaba, Presidente Prudente, Marília, Araraquara,
Campinas, Ribeirão Preto, São José dos Campos,
Taubaté, Cruzeiro, etc.
Sofremos
eternamente de imediatismo. A poderosa indústria automobilística
multinacional cegou a visão de governantes despreparados
e ávidos por simpatia popular e retorno político.
Há anos, é a principal responsável pela geração
de tributos, empregos, rendas e riquezas. Mas, precisavam ter
acabado, por exemplo, com a histórica Ferrovia Central
do Brasil, que transportava milhões de passageiros, com
qualidade e preço acessível, entre São Paulo
e Rio de Janeiro? Repolho, tomate, batata, abóbora e batata-doce
de Mogi das Cruzes embarcavam, todo dia, em dezenas de vagões
para alimentar os fluminenses.
A soja
americana transportada pelas ferrovias até os portos marítimos
tem custo de U$$ 17 por tonelada; a argentina sai por U$$ 13/tonelada;
e a brasileira melhor do mundo, produzida no Centro-Oeste
chega aos portos custando U$$ 100/tonelada, porque tudo
aqui viaja em caminhões, desafiando estradas de terra,
quebrando asfalto e congestionando cidades portuárias.
E o
deslocamento diário de milhões de passageiros? Literalmente,
uma calamidade pública. Governantes com visão tacanha
não têm tido a grandeza e coragem de acelerar o resgate
do transporte de qualidade sobre trilhos metrôs e
trens. Continuam enriquecendo o bolso de megaempresários
corporativistas. Preocupam-se só com a ampliação
das linhas de ônibus e consequente aumento de frotas. A
nefasta consequência é a repulsa legítima
dos usuários, descontentamento dos condutores de automóveis
e revolta total da população pela falta de mobilidade
urbana, cada dia pior.
Neste
cenário, onde o poder público não tem mínimas
condições de investimentos, sacrificamos, inclusive,
importantes programas de ciclovias. Apesar de fundamentais, sofrem
antipatia e desrespeito de uma parcela da população.
Temos
solução? Evidente que sim. A sociedade está
cansada, mas ela é a única que pode reverter a situação,
mudando a visão de insensíveis homens públicos
que mandam e desmandam. Ou trocando-os, porque ainda vivemos e
respiramos a bendita democracia.
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