Walter
Ihoshi *
Quando
acesso meus emails ou redes sociais, não tenho dúvidas
do quanto a internet mudou nossas vidas. E mesmo utilizando-a
diariamente, ainda me surpreendo com o seu poder de mudar comportamentos
e rotinas de forma tão avassaladora e singular.
A internet
é uma tecnologia que nos encanta e atrai cada vez mais.
Seu impacto vai além do que conseguimos mensurar. Além
de facilitar o cotidiano, ela gera milhões de empregos
e movimenta bilhões em negócios em todo o planeta.
A rede também se tornou palco de manifestações,
ações políticas de toda natureza e, há
alguns meses, motivo de crises diplomáticas entre nações
aliadas.
A denúncia
do ex-técnico da Agência Nacional dos Estados Unidos,
Edward Snowden, de que diversos países têm seus dados
violados e rastreados pelo governo americano, causou desconforto
e insegurança. Mais do que isso: deixou evidente a necessidade
de se estabelecer uma governança global da internet, ou
seja, definir regras internacionais para casos de ataques à
liberdade de expressão e aos direitos humanos, conflitos
cibernéticos entre países, invasão de privacidade,
disputas jurídicas transnacionais, entre outros itens.
A urgência
desse acordo foi ressaltada pela presidenta Dilma Rousseff, em
setembro passado, na 68ª Assembleia-Geral das Nações
Unidas, em Nova Iorque, após descobrir que o Brasil foi
um dos alvos de espionagem dos Estados Unidos. Dilma declarou
repúdio a esse tipo de ação, e defendeu veemente
o direito à privacidade como condição para
o exercício da democracia. Seu discurso recebeu o apoio
de mais de 60 entidades da sociedade civil de todo o mundo e a
ratificação de outros chefes de Estado. Primeiro,
porque expressava o sentimento daqueles que se sentiram invadidos
e desrespeitados, e depois, porque a segurança virtual
se transformou numa preocupação em comum.
Para
tentar colaborar, e até mesmo acelerar o diálogo
em busca de uma solução a respeito deste assunto,
o governo brasileiro se prontificou a organizar uma conferência
multissetorial a fim de discutir princípios e propostas
para o futuro da governança da internet. A NETmundial acontecerá
nos dias 23 e 24 de abril, em São Paulo, e reunirá
governos, empresas, academia e sociedade civil. A ideia é
encontrar e já estabelecer resoluções concretas
que possam tranquilizar a comunidade internacional.
O Marco
Civil aprovado pela Câmara dos Deputados no final de março
será apresentado no evento como exemplo a ser seguido.
O Brasil quer mostrar que já está fazendo a sua
parte ao tentar proteger sua economia e, sobretudo, seus cidadãos
de abusos cibernéticos. Neutralidade na rede e punição
para crimes na rede, inclusos no texto brasileiro, também
são pontos que especialistas julgam importantes a serem
inseridos no tratado global.
Somos
três bilhões de usuários de internet no mundo,
mais de 100 milhões somente no Brasil. Esses números
crescem de maneira desenfreada, e as empresas de tecnologia correm
para dar conta de tanta demanda. Em fevereiro, conheci ideias
inovadoras e aparelhos fascinantes no Congresso Mundial de Telefonia
Móvel, na Espanha. Assisti à apresentação
da rede 5G, conheci aplicativos interessantíssimos, e tive
noção da importância - assustadora - do smartphone
e da banda larga na vida das pessoas.
O planeta
está cada vez mais conectado e, num futuro próximo,
a internet exercerá ainda mais influência sobre nós.
Portanto, tanto o Marco Civil brasileiro quanto um tratado de
governança global serão fundamentais nesse processo.
A espionagem é apenas uma questão de muitas que
vão aparecer. Nesse sentido, estados e cidadãos
devem estar protegidos, e apenas leis claras que garantam tal
segurança podem amenizar os ataques que a tecnologia pode
nos causar.
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