Opinião
- Edição 584 -
Jornal NippoBrasil
Brasil caro
Teruo Monobe*
O
leitor deve estar curioso pelo título deste artigo. Isto porque
o termo caro tem duplo sentido: primeiro, ser querido,
prezado, e outro de preço alto. Embora tenhamos
o País na mais alta estima, o caro do título
acima é de preço alto mesmo. Aliás, já tínhamos
a intenção de escrever a respeito quando chegamos de volta
por aqui no final do ano passado, depois de uma visita ao Japão.
Claro, ficamos encantados com as maravilhas do país dos nossos
avós, e, igualmente, surpresos pelos preços de comida, roupas
e demais mercadorias.
Interessante
foi ver em Economia & Negócios, de O Estado de S. Paulo, o
título Comer em SP é mais caro que em NY. A
reportagem de Márcia De Chiara dizia que São Paulo
é hoje uma das cidades mais caras do mundo para comer fora. Quem
viaja para o exterior se assusta com as diferenças de preços.
Num restaurante de classe média da capital paulista, 270 gramas
de filé mignon grelhado, sem acompanhamento e taxa de serviço,
custa R$ 41,80. Por esse valor se faz uma refeição completa
e de qualidade em Paris, Nova York, Buenos Aires e Pequim. Vamos
acrescentar a esta lista: Tóquio, Osaka, Quioto, Hiroshima, Nara,
o Japão inteiro.
A discrepância
reportada na matéria do jornal mostra que a alta dos preços
nos restaurantes paulistas é causa e efeito da inflação.
Em doze meses, a taxa medida pelo IPCA subiu 5,91%; nem é preciso
ter boa memória para ver que os preços da comida foram reajustados
mais do que isso. O argumento dos restaurantes é que subiu o preço
da carne, o custo da mão de obra e os aluguéis. Agora, com
as chuvas, sobem os preços de hortaliças e verduras. Os
restaurantes vegetarianos seriam, então, a bola da vez. E as vítimas,
os consumidores.
As notícias
são de que a grande preocupação deste governo no
início do mandato é a inflação. Especialistas
apontam que a elevação dos preços, já verificada
no final do ano passado, vai exigir ação rigorosa do governo
em termos de política monetária e no controle dos gastos.
Se de um lado, os preços dos alimentos têm pressionado os
índices de inflação, principalmente no ano passado,
por outro lado, paradoxalmente, são os preços de commodities
no mercado internacional os responsáveis pelo grande superávit
agrícola do Brasil.
De acordo com
dados do mercado, a soja subiu quase 65% e o milho, mais de 75% nos últimos
cinco anos. A questão é que esses alimentos entram como
insumo na produção de ração animal, o que,
em contrapartida, refletem no preço da carne suína e do
frango. Por outro lado, o trigo e o arroz tiveram aumento de cerca de
65% e 85% (39% só em 2010), respectivamente, também nos
últimos cinco anos. A explicação para o fato é
que o consumo aumentou mais do que a oferta. Também é verdade
que existe um componente especulativo, pois já há algum
tempo o especulador vem direcionando o dinheiro para outros ativos não-financeiros.
A grande questão
é que o governo não tem o que fazer com essa alta, a não
ser mexer na política monetária e no controle de gastos.
No primeiro caso, o Banco Central está se fazendo de vilão
e aumentou os juros para conter o consumo, na esperança de conter
a inflação. O problema é controlar os gastos. A gastança
desenfreada do governo passado é a herança que deixou para
os contribuintes, e vai ser difícil fazer qualquer coisa a curto
prazo. Mesmo assim, os analistas recomendam que se inicie um enxugamento
de despesas logo para que este governo mostre um mínimo de comprometimento
com o controle da inflação.
A inflação
não é privilégio do Brasil. Como se sabe, os BRICs
(Brasil, Rússia, Índia e China) passaram praticamente ilesos
à grande crise de 2008. Só que agora sofrem os efeitos da
alta da inflação. Dados indicam que, embora se fale a toda
a hora que as commodities agrícolas são uma das grandes
vilãs da inflação, outras commodities não-agrícolas
já começam a preocupar. Trata-se do preço de produtos
primários como petróleo, minério de ferro e cobre.
Com exceção do petróleo, todos eles estão
com os preços no nível de 2007, quando a inflação
era um problema para todos. Está muito cedo para a História
se repetir.
Os analistas
dizem que a preocupação dos países do BRIC, agora
com a inclusão da África do Sul, México, Coréia
do Sul, Turquia e Indonésia (e denominados mercados em crescimento)
é que muda as prioridades: ao invés de consolidar a recuperação
da atividade, fica valendo o combate à inflação.
Essa nova prioridade deve alterar o cenário econômico global
para 2011. No caso do Brasil, vai ser ainda mais desafiante: conter os
gastos, evitar ainda mais a valorização do real, realizar
a reforma tributária, iniciar as obras dos estádios da Copa
do Mundo de 2014, etc, etc. Mas, não se pode começar com
inflação alta.
*Mestre em Administração Internacional e doutor pela USP
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