(Fotos:
Reprodução/Divulgação)
Os
quimonos sempre se constituíram em um dos principais ícones
da cultura nipônica e como tal espelharam com singular fidelidade
os padrões estéticos instituídos no Japão
através das épocas. Observar de perto todo o refinamento,
variedade e beleza do desenho komom é viajar rumo ao passado,
já que a estampa representa um dos mais tradicionais designs
tipicamente japonês, através das próprias
peças de diferentes épocas.
O estilo
komom é elaborado com detalhes muito pequenos e meticulosos,
constituídos principalmente por pontilhados e listras,
formando ilustrações diversas, abstratas ou figurativas.
De longe não se percebem as minúcias e até
parece que o tecido não possui nenhum adorno, mas ao se
aproximar descobre-se um mundo de infinitesimal beleza.
Katagami
é a técnica de pintura em tecido através
de moldes e teve sua origem no período Nara (710~784).
As ilustrações eram entalhadas em alto relevo na
madeira e depois carimbadas no pano. Processo esse semelhante
à xilogravura. Contudo, esse método não satisfazia
os artesãos da época, que buscavam meios de conseguir
um desenho mais delineado. Ainda demoraria um pouco o seu aprimoramento
porque esse tipo de estampa não era muito apreciado naqueles
anos e não havia demanda. O que estava em voga eram os
desenhos influenciados pela cultura chinesa, bem definidos e vistosos,
geralmente figuras de elementos da natureza. Somente no período
Kamakura (1185~1333) é que surgiu o molde feito em papel.
Descobriu-se uma maneira de beneficiar o washi (papel japonês)
com tanino de caqui verde para dar-lhe resistência.
Vale
citar que do mesmo modo confeccionam-se os célebres guarda-chuvas
de papel com armação de bambu, hoje um dos principais
artigos comprados como souvenires pelos turistas ocidentais que
visitam o Japão. Essa técnica foi fundamental, pois
permitiu recortar no papel as finíssimas listras, os minúsculos
pontos e outros detalhes que destinguem o komon. A região
de Ise, atual província de Mie, tornou-se um importante
centro na confecção desse refinado artesanato, em
grande parte devido ao incentivo e apoio do clã Kishu,
chefe daquele feudo.
Entre
os samurais
O komon
primeiramente foi adotado entre a classe dos samurais, sendo usado
principalmente no quimono kamishimo, um conjunto de duas peças
cuja parte superior, à guisa de colete, possuía
ombreiras largas, e a inferior, contituída de uma espécie
de saia-calça.
O kamishimo
era uma roupa para uso em ocasiões formais e pode-se vê-lo
freqüentemente nos filmes e novelas de época transmitidos
na tevê. Quando os samurais passaram a dominar o Japão,
a partir da época Kamakura, o komon também passou
a ser cada vez mais usado e não só em roupas formais.
É interessante saber que além do quimono, existiam
algumas peças do vestuário que eram usadas por baixo
das armaduras com o komon estas, bem caracterizadas.
Conforme
iam se firmando no poder, os samurais passaram a exibir, orgulhosos,
uma estética própria e a moda têxtil com desenho
tingido ficou mais popular do que o do desenho tecido. Contudo,
entre as mulheres a realidade foi outra. Elas ainda preferiam
os adornos tridimensionais e sólidos e não os de
apenas duas dimensões e ausentes de perspectivas típicas
do estilo komon.
A partir
de meados da era Edo, o modelo de estampa preferido dos samurais
gradativamente se popularizou. Se as mulheres nobres não
aceitaram o komon, o contrário aconteceu entre a ala feminina
do que seria hoje a classe média da época, formada
por comerciantes e artesãos especializados, e depois adotada
sem restrições também por ambos os sexos
da classe baixa. Foi assim que surgiu um senso estético
bastante peculiar do povo da cidade de Edo, antiga Tóquio,
batizado de iki, que por vezes é traduzido por elegância,
mas que na verdade denota um padrão de beleza em que, por
trás de uma aparência comedida, se deixa entrever
detalhes diametralmente opostos.
Depois
do período Meiji (1868~1912) até os dias de hoje,
o estilo ocidental de se vestir, bem como suas técnicas
de confecção e estampagem, que foram introduzidos
no Japão, praticamente extinguiu as oficinas artesanais
do precioso komon, restando atualmente apenas algumas dezenas
de profissionais que dominam a difícil técnica de
preparação dos moldes e tingimento.
O mais
impressionante, e que poucos japoneses sabem, é que os
primeiros estrangeiros que se depararam com o komon, por ocasião
da reabertura das relações internacionais, na era
Meiji, levaram para seus países exemplares de roupas desse
estilo e até muitos moldes, o que veio a influenciar a
arte têxtil ocidental.
|