Fotos:
Divulgação / Arquivo NB
Diferentemente do ano-novo marcado pelo calendário, as
empresas, repartições públicas e escolas
japonesas normalmente consideram o mês de abril como sendo
o início do ano para as suas atividades. Devido a isso,
nas entidades educacionais, nos meses de março e abril
é que se comemora a formatura e o início da atividade
escolar. O que nos chama a atenção nessa época
do ano nas ruas da cidade são as estudantes que se dirigem
à cerimônia de formatura trajadas de hakama (vestimenta
típica japonesa). O que agita a mídia também
nesse período é a polêmica de entoar ou
não o hino nacional, bem como de hastear ou não
a bandeira nacional durante a cerimônia questões
familiares para nós, brasileiros. O que estaria por detrás
destes dois estranhos cenários?
Hakama
e as estudantes
HAKAMA - sinônimo de cultura e carreira
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Atualmente,
é muito forte a imagem do quimono, a famosa vestimenta
japonesa. Entretanto, hakama é um traje tradicional do
Japão que já existia antes do quimono. Não
se sabe ao certo a origem desta vestimenta, mas as mulheres
japonesas utilizavam, até a primeira metade do século
VIII, uma vestimenta chamada mo, uma espécie de saia
franzida, introduzida da China, para a qual o hakama servia
como roupa de baixo. Na segunda metade da Era Heian, (794~1185),
o estilo de vida japonês de sentar-se sobre o tatame foi
sendo consolidado até mesmo nos palácios, passando
a ser traje comum para as serviçais do palácio
utilizar hakama sobre kosode (atual quimono).
Após
o século XIV, tornou-se comum a utilização
de faixa sobre o kosode, resultando no atual quimono. Desde
então, o hakama deixou de ser utilizado. Após
a Era Meiji (1868~1912), a presença do tatame no cotidiano
deu lugar às cadeiras, e a vestimenta também se
transformou de quimono a hakama, cujo uso é mais prático.
Posteriormente, as estudantes da classe nobre, bem como as mulheres
possuidoras de uma profissão, raras para a época,
passaram a utilizar o hakama como roupa de trabalho. Foi daí
que a vestimenta passou a ser moda e sinônimo de status
de mulher culta ou profissional de carreira. Com a difusão
da roupa ocidental, o hakama deixou de existir como uniformes
de colégios, mas até hoje é utilizada como
traje oficial na ocasião da formatura.
Por
que o hino e a bandeira nacional podem ser problemas?
No Brasil, terra onde o hino e a bandeira nacionais são
tão familiares, talvez cause estranheza o fato de no
Japão serem estes costumes considerados problemas. O
que se torna problemático é que o Hinomaru (a
bandeira nacional japonesa) e o Kimigayo (hino nacional japonês)
foram utilizados como símbolos de uma época de
invasões militares e ideologia militarista da segunda
guerra mundial, o que traz profundas revoltas por parte dos
países asiáticos e também o fato de o hino
japonês ser um louvor ao poder centralizado pelo imperador,
não sendo considerado apropriado para uma época
de democracia. A idéia principal do hino é: Que
dure eternamente o reinado vosso, por dezenas de milhares de
anos, até que pequenas pedras se juntem, com o tempo
formando um grande rochedo e, por fim, musgos se formem ao seu
redor. Essa letra consta na coletânea Kokin Wakashu,
uma compilação de poemas por ordem imperial de
autor desconhecido.
A
época em que foi escrita não tem nenhuma relação
com o militarismo, mas, após a Era Meiji, houve orientações
no sentido de entoá-lo em espaços públicos
e educativos para enaltecer o poder centralizado pelo imperador.
Também a orientação e a educação
durante a guerra, nas quais se incluía a entoação
do Kimigayo, foram fatores que sustentaram o militarismo no
Japão. Em 1999, foi legalizada a entoação
do hino nacional nas cerimônias em escolas públicas,
o que não extinguiu o movimento em busca de um novo
hino nacional, fazendo surgir as discussões nesta
época do ano. Esta discussão parece estranha aos
olhos dos brasileiros, mas há pesquisas até para
verificar se no momento do hasteamento da bandeira todos se
colocam de pé, se a intensidade da voz no momento da
entoação do hino é suficiente, etc., sendo
as escolas orientadas quanto a isso. Não causaria isto
estranheza também?