Navio
da frota de Perry impressionava os japoneses (acima);
Ii Naosuke, o homem mais poderoso de seu tempo e o último
defensor do xogunato de Tokugawa (a baixo)
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Fotos:
Divulgação / Arquivo NB
No dia 3 de março de 1860, coincidindo com o dia da festa
sazonal das bonecas, aproximadamente às 9 horas de uma
manhã de nevasca, um tiro de revólver ecoou nas
proximidades do Portão Sakurada, área externa
do Castelo de Edo. A emboscada conhecida como Sakuradamon gai
no hen foi fruto da ação de 18 samurais errantes
contra uma liteira protegida por 60 seguranças, num atentado
que tirou a vida do homem mais poderoso do governo feudal de
Tokugawa, o ministro-chefe Ii Naosuke. Para eles, acostumados
desde o início da Era Edo com a política de isolamento
do país, era inimaginável que, com a abertura
dos portos ao estrangeiro, estrangeiros passassem a ingressar
no Japão para fins de comércio.
Qual
foi o contexto do acontecimento?
Em 3 de junho de 1853, ancoraram no alto mar de Uraga (atual
província de Kanagawa) os navios a vapor Susquehanna
(2.450 t e 300 tripulantes) e Mississippi, juntamente com navios
a vela Plymouth e Saratoga, da frota Índico-Oriental
dos Estados Unidos, sob comando do almirante Matthew Calbraith
Perry. As autoridades da magistratura de Uraga solicitou que
a frota se dirigisse ao Porto de Nagasaki, o que foi recusado
por Perry, que pretendia entregar a carta autógrafa do
presidente norte-americamo Millard Fillmore, ameaçando
um bombardeio com canhões, se não fosse atendido.
O povo de Edo sentiu-se acuado, como está expresso neste
poema: somente quatro navios a vapor destroem o sonho
da grande paz; não é possível sequer dormir.
A frota, enorme e negra, parecia-lhes como um dragão
atravessando o oceano. Por fim, no dia 9 de junho, o governo
feudal Tokugawa recebeu a carta autógrafa do presidente
dos Estados Unidos. Perry prometeu aguardar a resposta na primavera
seguinte, seguindo rumo aos Estados Unidos, após fazer
uma demonstração de poder pela Baía de
Edo.
A
assinatura do tratado de comércio e amizade com os países
O mundo buscava, na época, após passar pela Revolução
Industrial, a ampliação do mercado para o comércio
exterior. Especialmente o governo feudal de Edo, que sabia da
situação humilhante por que passavam a Índia
e a China, espoliadas como colônias da Inglaterra, pretendia
adotar a postura de abrir os portos e manter a independência.
Por isso, em 19 de junho de 1857, a bordo do navio Powhatan,
no alto mar da província de Kanagawa, o tratado de comércio
e amizade entre Japão e Estados Unidos foi assinado pelo
cônsul-geral dos Estados Unidos, Townsend Harris, e pelo
magistrado Inoue Kiyonao, responsável pelos assuntos
exteriores do governo feudal. Infelizmente, até mesmo
no tocante aos impostos alfandegários, a vantagem recaiu
sobre os Estados Unidos. Posteriormente, o tratado foi firmado
também com Holanda, Rússia, Inglaterra e França.
O
imperador e o contra-ataque dos defensores do isolamento
O imperador Komei recusou-se a sancionar estes tratados de comércio.
Com relação a isso, o ministro-chefe Ii prendeu
e executou 75 pessoas, dentre eles ideologistas que defendiam
a manutenção do isolamento do país. Este
ato foi denominado execução em massa da
Era Ansei. Muitos grupos agiram em retaliação
a esse ato, ocorrendo divisão e uma situação
de guerra civil entre os que defendiam a abertura e os que queriam
o isolamento. Isso levou à queda o governo feudal de
Tokugawa e a história caminhou para restauração
do regime imperial (restauração de Meiji). Após
a restauração de Meiji, optou-se por igualar-se
às grandes potências mundiais por motivos de sobrevivência.
Yoshida
Shoin
Yoshida Shoin, um patriota dos fins do governo feudal pertencente
ao feudo de Choshu, foi a Edo para estudar sobre o Ocidente
junto com Sakuma Shozan. Quando a frota de Perry aportou em
Shimoda, ele tentou sem sucesso empreender um embarque clandestino.
Foi preso, mas posteriormente abriu em sua terra natal a escola
Shokasonjuku, para orientar jovens. Sempre com visão
voltada para a situação mundial, Yoshida considerou
que, para a independência do Japão, seria necessário
abrir os portos e estabelecer relacionamentos comerciais internacionais.
Posteriormente, foi executado na prisão. Mishima Yukio,
conhecido mundialmente por praticar suicídio partindo
o próprio abdômen no exército de autodefesa,
preocupando-se com o futuro do Japão, teria encarado
Yoshida Shoin como um modelo.