(Fotos:
Reprodução / Divulgação)
Quando
vai chegando o final de março grande parte dos japoneses
voltam suas atenções para a televisão, para
saber especificamente sobre a cerejeira. Durante um mês
a mídia publica boletins freqüentes sobre o surgimento
de bulbos, sobre o florescimento e queda das flores de sakura
(cerejeira) de norte a sul do país. A árvore de
sakura não tem a mesma solenidade do matsu (pinheiro),
nem a dignidade do ume (ameixeira) ou a graça do yanagi
(salgueiro) mas suas flores a queda só duram cerca de uma
semana. E esta efemeridade é que atrai os japoneses.
Suas flores remetem a lembranças pessoais e agradáveis.
A flor
da cerejeira é a flor nacional e para os japoneses falar
em flor é falar da cerejeira. Da mesma família das
rosáceas não possui o perfume ou a amabilidade da
rosa. Alguns estrangeiros dizem que a flor de cerejeira parece
com o japonês. É pequena quando está só,
mas em conjunto demonstra grande atividade e impressiona quem
está ao redor.
A flor
da cerejeira talvez tenha algum tipo de magia, ligada ao presságio
ou profecias. Os antigos diziam que podiam prever a colheita do
ano conforme o florescer das cerejeiras.
O Hanami
(observação das cerejeiras) tornou-se popular só
na Era Edo, até então era uma atividade apreciada
pela Realeza ou Nobreza. A popularização só
ocorreu após o fim de uma longa guerra, com o surgimento
do Shogunato de Tokugawa, devido a estabilização
política, econômica e social. As festas com dança,
canto e muita animação aos pés das cerejeiras
não é algo tão recente. O tema cerejeira
é freqüente nos ukiyoe (estilo de arte, tradução
literal seria desenho do mundo flutuante) e no byôbue
(desenhos feitos no biombo) onde se podem ver pessoas em intensa
atividade aos pés da cerejeira seja tocando koto ou shamisen,
dançando, cantando, tomando chá, jogando gô
ou shogi etc. Todos se divertiam ao redor das cerejeiras.
As
ilustrações de pessoas admirando a cerejeira carregada
de flores ou de pessoas passeando em meio a chuva de sua pétalas
denotam uma época de paz. Os artistas devem ter sido atraídos
pela beleza da queda das flores.
A cerejeira,
símbolo nacional, é do tipo someiyoshino, diferente
das cerejeiras que podem ser vistas em São Paulo que são
do tipo Okinawa Sakura ou Taiwan Sakura.
Desde tempos remotos a cerejeira tem sido cantada em poemas e
poesias.
No
Kokonshû (coletânea de poesias compiladas desde o
século 10 por ordem do Imperador) há um poeta que
em seu poema diz que se não houvesse cerejeiras poderia
passar tranqüilamente a primavera pois não teria de
se preocupar em saber quando cairiam as flores de cerejeira. Yo
no naka ni taete sakura no nakariseba haru no kokoro wa nodoke
karamashi, Narihiro Ariwarano.
Na
mesma coletânea uma mulher de extrema beleza tem uma canção
em que conta que observando uma chuva que se prolongava por dias
e dias viu as flores passarem da maturação e se
descolorirem, o tempo decorreu solitário e sua silhueta
também se descoloriu, estabelecendo uma relação
entre a natureza e seu sentimento de paixão. Hana
no iro wa utsuri ni kerina itazura ni. Wagami ni furunaga meseshima
ni, Komachi Onono.
Já
Houshi Saigyou, o grande poeta japonês, diz que se pudesse
escolher o momento de sua morte, gostaria de estar aos pés
de uma cerejeira na primavera. Negawakuba hana no shita
ni te haru shinamu sono kirazaki no motizuki no koro, Houshi
Saigyou.
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