Ohaguro - dente preto
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On irebadokoro - Consultório odontológico
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(Fotos:
Fundação Japão / Divulgação)
Dia
4 de junho no Japão é o Dia de Prevenção
das Cáries. A data não foi escolhida aleatoriamente,
pois 6 lê-se mu e 4, shi, e juntos formam a palavra mushi,
que significa inseto, verme. A alimentação mudou
radicalmente, e a ingestão de gêneros alimentícios
que contêm açúcar, tal como biscoitos e doces,
e de refrigerantes em geral, tem feito com que o número
de cáries aumente. Ainda há a hipótese de
que a preferência por alimentos mais maleáveis esteja
contribuindo na proliferação da cárie. Nesse
dia, todas as crianças, da primeira à sexta série
do Ensino Fundamental, recebem orientações sobre
a importância da higiene bucal, da correta escovação
dental e de uma alimentação saudável. Além
disso, em cada cidade de cada província, os idosos de asilos
recebem a visita de um dentista.
A empresa
Lion, uma das maiores fabricantes de produtos de higiene bucal,
realizou uma pesquisa, em abril deste ano, com homens na faixa
dos 30 a 40 anos, nas cidades de Tóquio e de Nova Iorque.
A esmagadora maioria considerou que uma dentição
saudável traz vantagens num ambiente de trabalho, mas quando
indagados se tinham confiança em seus dentes, o resultado
foi outro. Sessenta e nove por cento dos homens de negócio
de Nova Iorque disseram ser confiantes, e 2 % disseram não
ter confiança nenhuma. Já em Tóquio, 8% confiam
em sua dentição, contra 46% que não demonstram
confiança. Os japoneses mostraram uma grande preocupação
com o hálito, com o enfileiramento dos dentes e com as
manchas. A média de escovação diária
quase não apresentou diferenças; 2,1 dos americanos
contra 2,4 dos japoneses. No entanto, 74% dos nova-iorquinos visitam
o dentista mais de uma vez por ano, contra 24% em Tóquio,
um número relativamente inferior. No país há
cerca de 85.518 dentistas, uma média de 6,8 dentistas para
cada cem mil habitantes (dados de 1996, segundo a Associação
de Odontologia do Japão). Já o número de
consultórios era de 61.615, cerca de 48,8 para cada cem
mil japoneses (dados de 1998 da mesma associação).
O número
de tratamentos e correções dentárias no Brasil
é bem superior ao do Japão. Pode-se dizer que os
dentes hoje fazem parte da moda a nível mundial.
No
Japão antigo, um dos quesitos de beleza feminina era o
ohaguro, que consistia em tingir os dentes de preto. Na Corte
Imperial essa atividade era conhecida como Fushi no Mizu, entre
os nobres e samurais era chamada de ohaguro e entre a plebe de
kanetsuke ou tsukegane. Registros sobre o Japão, encontrados
na China, revelam que esse costume já era praticado nos
séculos III e IV. Já no século VIII era comum
entre a nobreza esse tingimento dos dentes, para homens e mulheres.
Durante
o Seijinshiki (cerimônia em que se celebra o ingresso para
maturidade) era comum que as garotas usassem o ohaguro. Na Era
Edo, o costume chegou aos populares e um conjunto de apetrechos
para o ohaguro era um dos itens básicos no enxoval das
noivas. Era básico para as mulheres casadas. Os samurais
deixaram o costume mas permanecia entre os nobres e na Corte Imperial.
Na Era Meiji, muitos países ocidentais criticavam o costume
que acabou sendo proibido. Mesmo assim continuou até o
ano 20 da Era Meiji (1945).
Nos
dias de hoje causaria estranheza os dentes tingidos de preto,
mas cada época tem o seu padrão de beleza. Para
os antigos, talvez tingir os dentes de preto ressaltasse a beleza
da face e pele branca como a neve.
Havia
uma vantagem nesse costume. Os componentes usados, principalmente
o óxido de ferro, ajudam na prevenção das
cáries. A tinta era feita usando um vaso onde eram colocados
saquê, chá, vinagre, bala, misturados com água.
Depois agulhas, pregos velhos e outros pedaços de metais
eram aquecidos no fogo até ficarem vermelhos e então
emergidos na substância para fermentar. Após dez
dias, fervia-se o líquido preto devido à ferrugem.
Passava-se o líquido então uma vez ao dia ou uma
vez por semana.
A extração
de dentes devido às cáries é hoje um procedimento
raro, mas no passado não havia outra maneira a não
ser arrancar e substituir por um postiço. Nos séculos
V e IV a.C., os habitantes da Antiga Etruria usavam dentes bovinos.
As dentaduras e pontes só surgiram no séc. XVI.
Estas feitas com ossos de animais e presas de elefantes. No Japão
os dentes postiços surgiram somente no meio do século
XVII.
Os
ambulantes foram os primeiros a comercializar esses dentes e rodaram
o país com suas malas para suprir a demanda. Na mesma época
começaram a surgir em Edo, Osaka e Kioto lojas conhecidas
como On Irebadokoro, consultórios odontológicos
primitivos. Havia ainda o kishougishi, que usavam o tsuge, um
tipo de madeira condensada, esses mestres só existiram
no Japão. Atualmente se prefere um método chamado
de implantation aos dentes postiços.
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