Fotos:
Divulgação
No dia 17
de outubro, haverá, no Parque do Ibirapuera, em São
Paulo, uma demonstração de kodo (arte de apreciar
fragrâncias) por um especialista do Japão. A história
de kodo teve início com a introdução do Budismo
no Japão no século 6, por meio da oferenda de fragrâncias,
que servia para purificar o ambiente, em frente do santuário.
Partes de árvores aromáticas eram queimadas ou transformadas
em pó e misturadas com mel para queimar diante do altar
budista. Posteriormente, no século 8, os aromáticos
eram utilizados pelos nobres para finalidades práticas,
como perfumar o aposento ou as vestes. Foram atribuídos
nomes de flores para cada fragrância, de onde surgiu a brincadeira
de adivinhar o nome dos perfumes sentindo os aromas. A partir
do Período Muromachi, o ato de apreciar as fragrâncias
passou a ser visto como uma forma de arte, sendo então
chamado de kodo. A partir do século 18, lhe são
acrescentados ingredientes do sado. Por um lado, surgiu entre
os nobres o Oieryu, que coloca como ponto principal a fragrância
e a literatura e, por outro lado, o Shinoryu que prezava a cerimônia
entre os samurais. A arte difundiu-se também entre os populares,
sendo continuada até os dias de hoje. Foram editados vários
livros a respeito de kodo, desde introdução a essa
arte até teses de pesquisadores.
Aromas
São
chamadas de árvores aromáticas as que produzem os
perfumes, sendo conhecidos o sândalo e o aloés. Podemos
destacar ranjatai, a madeira especial de 1,5m e 12 quilos guardada
em Shosoin, Nara (Shosoin: abriga coleção de objetos
que pertenceram ao Imperador Shomu, oferendas de silk-road e demais
objetos de valor), que fora apreciada por imperadores e shoguns
ao longo da história, tendo marcas de centímetros
de cortes efetuados nela. As árvores aromáticas
são, na sua maioria, importadas da China ou Sudoeste Asiático.
O
jogo
Chamava-se
kumikoo o jogo de adivinhar os nomes dos perfumes resultantes
da mesclagem de várias madeiras aromáticas. Como
esses nomes eram escolhidos dentre as obras de literatura clássica,
a participação no jogo exigia conhecimentos de literatura.
Primeiramente, o anfitrião acendia o incenso e o incensário
era passado de mão em mão, entre os convidados.
Ao receber o incensário em mãos, o procedimento
é endireitar a postura, abaixar o queixo, serenar a mente
e colocar o incensário sobre a mão esquerda , cobrindo-o
com a mão direita. Com o dedo indicador e polegar da mão
direita deve-se formar um orifício, por onde se deve aspirar
profundamente o perfume para senti-lo. Repete-se o ato por três
vezes. Depois, passa-se o incensário para a pessoa seguinte,
sem retê-lo por muito tempo, e escreve-se no papel o nome
do perfume. Por fim, os nomes dos perfumes são revelados
e faz-se a pontuação. Era uma espécie de
jogo, mas, ao mesmo tempo, era uma forma de encontrar-se solitário
passeando pelo mundo do incenso, mantendo a harmonia com o grupo.
A
prática
A prática
teve o seu auge na Era Genroku (1688 1704), Período
Edo, mas atualmente não é tão utilizada quanto
o ikebana ou a cerimônia do chá. O motivo é
o alto custo de madeiras aromáticas e a extinção
das atividades sociais das classes altas. Porém, na atual
abundância material mas de alta competição,
devido a estresses psicológicos e à constante ameaça
de crise econômica, a procura pelo kodo, que acalma a mente
e faz as pessoas viajarem pelo mundo da meditação,
parece estar voltando entre as pessoas que buscam um melhor modo
de viver.
Apreciar fragrâncias
de plantas, de incensos está se popularizando no Brasil
com a aromaterapia, mas a arte do kodo ainda não se difundiu
de forma oficial. Que tal resgatar a tranqüilidade de espírito
passeando pelo mundo de kodo?
|