Fotos: Divulgação
/ Arquivo NB
O
livro A nobre derrota (The nobility of failure: tragic
heroes in the history of Japan), do pesquisador de literatura
japonesa Ivan Morris, é muito conhecido por descrever a
diferença entre a figura do herói japonês
e do ocidental. Segundo ele, os ocidentais só desenham
a figura de Napoleão como herói vitorioso, não
o reconhecendo como tal após sua derrota e exílio.
Pela sensibilidade dos japoneses, justamente a derrota realça
a imagem do herói vitorioso. A característica fundamental
do herói japonês está na devoção
à verdade, desprezando atos e pensamentos que buscam o
lucro. O importante é a pureza com que o herói defende
a sua ideologia.
No
dia 14 de dezembro, é realizado o festival gishimatsuri,
em memória dos leais guerreiros, no Templo Sengaku, em
Tóquio, quando as pessoas visitam os túmulos dos
47 heróis que praticaram seppuku (suicídio em defesa
da honra) após vingarem-se da morte de seu senhor. O local
se enche de fumaça e fragrância de incenso.
A
história
Este
acontecimento se resume no seguinte: O senhor do feudo de Akoo,
Asanotakuminokami Naganori, atacou Kirakoonozukenosuke no interior
do castelo de Edo, sendo por esse motivo condenado à prática
de seppuku pelo governo de Tokugawa. Além disso, o feudo
foi destruído, o que provocou a revolta dos samurais que
a ele pertenceram. Estes, em número de 47, sob liderança
de Ooishi Yoshio, invadiram o palácio de Kira em 14 de
Dezembro de 1702, onde consumaram a vingança do seu senhor.
Todos eles foram condenados a praticar seppuku em 4 de fevereiro
do ano seguinte, o que provocou nos populares sentimento de admiração
e aplauso por terem eles se dedicado ao seu senhor com sinceridade
até o fim.
O governo
feudal não reconheceu este ato como um genuíno ato
de vingança. Isto porque o fato de empunhar a espada no
interior do Castelo de Edo era proibido, constituindo uma infração
ao direito público. Entre os cérebros do governo
feudal também as opiniões se dividiram entre os
que são a favor e os contra. Na escritura Hagakure (1716),
considerada a bíblia dos espírito samurai, há
a famosa frase que diz: O ideal do samurai consiste em morrer.
O autor desta obra, Yamamoto Tsunetomo, se opôs a este ato
argumentando que ele é impuro. Isso porque Kira já
era um sexagenário, cuja morte era imprevisível.
Mesmo assim, o ato foi planejado durante um período de
aproximadamente dois anos até se desfechar com sucesso,
o que comprova um ato calculado e impuro. A intenção
de vingança deve ser expressa imediatamente e, após
o ataque, deve, em seguida, praticar seppuku.
A
causa
Diz-se
que o fato gerador deste acontecimento é que, por não
ter Asanotakuminokami pago suborno ao Kira, que possuía
a função de instrutor quando foi designado para
um cerimonial pelo governo feudal, não recebeu devidamente
suas orientações e, por isso, passou por uma situação
vexante. Justamente recusou-se a pagar tal suborno porque o ato
contraria o ideal de samurai. Parece que o suborno oferecido aos
altos funcionários públicos existe em qualquer época.
O
evento
Após
a ocorrência, o ato foi dramatizado em kabuki, jooruri (teatro
de bonecos), entre outros, sob título de Chuushingura,
fazendo muito sucesso. Mesmo hoje, transcorridos 300 anos, continua
sendo uma apresentação imprescindível no
mês de dezembro.
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