Olha
o som de matsumushi*: trim, trim, trim, trim....
Também suzumushi** começou a trinar: trim, trim,
trim, trim...
Como são divertidos os sons dos insetos
Que passam cantando as longas noites de outono
Matsumushi: espécie de grilo
(xebogryllus marmoratus)
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Suzumushi: também uma espécie de grilo
(homoeogryllus japonicus)
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Esta canção faz parte da seleção
de músicas do Ministério da Educação
de 1911, sendo ainda hoje amplamente cantada. Ao final do verão
de intenso calor, quando começam a soprar as brisas refrescantes
do outono, os insetos começam a tocar sua sinfonia ao
anoitecer.
Ouvindo
esses sons, as pessoas da Antigüidade compunham canções,
tocavam instrumentos, elaboravam contos, envoltos num profundo
sentimento ao comparar a fugacidade da vida das pessoas com
a brevidade da vida dos insetos. Consta nos registros do século
11 que naquela época havia o hábito de se colocar
insetos nas gaiolas para apreciar seus sons.
Diz-se
também que no Período Edo havia criações
de insetos.
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Poluição
sonora abafa os sons dos insetos
Hoje
em dia, com a urbanização, o ambiente onde se apreciava
sons de insetos sofreu grandes mudanças e, para nossa surpresa,
as crianças obtêm seus insetos adquirindo-os nas
lojas de departamentos. Mais surpreendente ainda é que
há pais que lavam esses insetos com detergente, achando
que são sujos. Com o aumento da poluição
sonora, os sons dos insetos estão imperceptíveis,
causando maior distanciamento entre o homem e a natureza.
Nos
últimos tempos, tem aumentado o número de japoneses
insensíveis aos barulhos e ruídos.
Há
um pesquisador que estuda a sensação de familiaridade
aos sons dos insetos como decorrente da diferença da forma
de captação deles por parte do cérebro.
Sons
da natureza ativam lado esquerdo do cérebro
Em
1972, o dr. Tsunoda Tadanobu, professor da faculdade de medicina
da Universidade de Tóquio, realizou testes de reação
cerebral à sensibilidade auditiva, envolvendo japoneses
e estrangeiros. Pelo resultado obtido, descobriu-se que para os
japoneses os sons de frequências desarmônicas, como
risos ou choros de pessoas, os sons da natureza, como o dos insetos,
e o barulho das águas ativam o lado esquerdo do cérebro.
Pesquisando franceses, brasileiros, espanhóis, alemães,
raças asiáticas e africanas, descobriu-se o mesmo
padrão somente entre os habitantes de Samoa e um povo chamado
Tonga, que utiliza o idioma polinésio.
Os
nisseis brasileiros estão localizados num ponto mediano
desta escala. Diz a respeito de outras raças que o
núcleo linguístico e o núcleo das atividades
lógicas situam-se no hemisfério esquerdo e o núcleo
emocional, no hemisfério direito. Os sons de máquinas,
instrumentos musicais e da natureza são tratados como sons
sem significação.
O cérebro
dos japoneses reage muito às emoções e sensibilidades
não lógicas. Dessa forma podemos explicar parcialmente
o seu gosto pelos sons da natureza na literatura como haiku e
poesias japonesas, e nas artes como pintura ou caligrafia. Quem
tiver interesse no assunto pode ler O cérebro japonês,
de Raul Marino Júnior, publicado pela Aliança Cultural
Brasil-Japão em 1989.
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