Higuchi Ichiyo foi considerada a escritora número
1 da Era Meiji (1868-1912): emoção ao descrever
personagens oprimidos
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Fotos: Divulgação
/ Arquivo NB
O
governo japonês planeja colocar em circulação
novas cédulas a partir de 2004. Foi anunciado que na
nova nota de 5 mil ienes figurará a imagem feminina de
Higuchi Ichiyo, que é uma literata. No Brasil, já
foi utilizada a imagem da poeta Cecília Meireles, mas
no Japão esta é a primeira vez que se utiliza
uma imagem feminina em uma cédula. Busca-se também,
com isso, estimular o ânimo econômico nesta fase
de recessão mundial.
A vida de Ichiyo
Nasceu em 23 de novembro de 1872, em Tóquio, numa decadente
família de samurais. Cursou somente o ensino primário,
depois estudou poema tradicional japonês e foi uma autodidata
na área de literatura, assimilando as técnicas
por meio da leitura dos romances modernos e contemporâneos
das bibliotecas. Aos 18 anos, perdeu o pai, vítima de
tuberculose pulmonar. Como não era possível depender
de seus dois irmãos mais velhos, trabalhou como arrimo
de família, tocando uma minúscula venda de utensílios
domésticos e doces. Enquanto isso, publicou inicialmente
poemas em estilo tradicional japonês e depois, romances.
Em 1895 publicou Takekurabe (Comparando a
estatura), que foi a obra que provocou muitos e intensos
elogios por parte dos críticos literários e literatos,
chegando a ser chamada de A Murasaki Shikibu ou Seisho
Nagon do século 21 (ambas literatas do início
do século 11). Entretanto, Ichiyo faleceu aos 25 anos,
em novembro de 1896, vítima de tuberculose.
A imagem da escritora estará nas cédulas de 5
mil ienes a partir de 2004
Mesmo
na pobreza, em sua casa havia um ambiente como de um sarau.
Possuidora de um espírito forte, dizem que Ichiyo tinha
facilidade em lidar com as pessoas, possuía um pensamento
pessimista, chorava com facilidade, sendo até comentado
que na sua vida não tinha espaço para amores.
Transmitia a sensação de amadurecimento precoce
em relação à sua idade. Dizem também
que tinha alto grau de miopia, mas recusava-se terminantemente
a usar óculos. Na casa da moeda, há os que manifestam
preocupação de que a jovialidade e ausência
de rugas no rosto podem facilitar a falsificação
da cédula.
A Literatura de Ichiyo
Takekurabe
: Conta a vida de três meninos que moram em Yoshiwara
(zona de prostituição). Um deles é Shinnyo,
filho de um monge budista; o outro é Masataro, filho
de uma família de agiotas; a terceira, uma menina chamada
Midori que tem como destino ser cortesã, como sua irmã.
Shinnyo, que está de partida para uma viagem, deixa secretamente
uma flor artificial de lírio dágua no portão
da casa de Midori. Uma linguagem repleta de romantismo é
utilizada para descrever a delicada sensibilidade de adolescente.
Jusanya
(Décima terceira noite): Oseki, cansada de
ser agredida pelo marido, foge de casa e retorna à casa
dos pais. Entretanto, persuadida pelo seu pai, decide voltar
para perto de seus filhos. No caminho de volta, quando toma
uma condução, percebe que o condutor é
um amigo de infância, Rokunosuke. Fica, então,
sabendo que por sua causa Rokunosuke havia se arruinado. Ambos
se surpreendem pela fugacidade do destino, mas sem outro jeito,
ela retorna ao seu lugar.
Ichiyo
Nikki (O diário de Ichiyo): Por não
pressupor a existência de leitores, expressa sentimentos
profundos do seu pensamento. De uma forma geral, há abundantes
contemplações e ponderações de si
mesma, de uma forma objetiva. É também muito valorizada
a minuciosidade das suas observações em relação
aos fatos. Dizem que o diário e suas obras perfazem a
frente e o verso do mesmo corpo.
Nascida
na Era Meiji com fortes resquícios do feudalismo, numa
época em que a posição socioeconômica
de uma mulher ainda não tinha a liberdade de hoje, a
escritora sujeitou-se aos conceitos de virtude social da época,
sem revoltar-se contra a sua realidade e sem clamar pela liberdade
feminina. Por ter vivenciado dificuldades, seu romantismo repleto
de emoção ao descrever personagens oprimidos,
especialmente a complexa psicologia feminina, faz dela a escritora
número 1 da Era Meiji, devido à pureza que confere
às suas obras. Mesmo hoje, ainda é uma das autoras
citadas por apreciadores de literatura.
Praticamente
todas as suas obras estão traduzidas para o inglês.
Infelizmente, em português somente uma obra: Wakaremichi(A
despedida), editada pela USP. Confira em: [Contos
da Era Meiji], Geny Wakisaka, organizado pelo Centro de
Estudos Japoneses da USP.