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Koromogae, trocando de estação e de roupa

Quimono awase, com forro, para o inverno
 
Fotos: Divulgação / Arquivo NB

No Brasil não há uma distinção tão clara entre as estações do ano quanto ocorre no Japão, de forma que as vestimentas seguem também critérios individuais. Já no Japão, por conta da grande diferença da temperatura entre o verão e o inverno, há duas datas denominadas koromogae (1º de abril e 1º de outubro) que marcam a divisória entre as duas estações. Nessa época, é realizada a troca de uniforme nas escolas, nas repartições públicas e nas empresas privadas, substituindo o de inverno pelo de verão ou vice-versa, mesmo que ocorra, ainda, alguma incompatibilidade da temperatura com a vestimenta. É uma regra determinada pela sociedade que é respeitada com rigor.

A ORIGEM DE KOROMOGAE
Esta regra é praticada desde o final do século 8, quando ficou determinado que no Palácio Imperial seriam usados trajes de verão entre 1º de abril e 30 de setembro, e trajes de inverno entre 1º de outubro e 31 de março. Os nobres recebiam seus trajes do imperador. Este costume foi adotado posteriormente pelo governo militar, perdurando até a Era Meiji, na segunda metade do século 19. A população também aderiu ao costume.

Koromogae não só significou a troca da vestimenta, mas determinou também a troca de utensílios do palácio. Na época, não havia divisórias corrediças de ambiente como as de hoje. Havia anteparos chamados de kichoo, dos quais trocava-se o tecido por um artigo mais fino. Era uma forma de atenuar o desconforto de um verão com umidade alta.


Verão-inverno: troca de uniformes nas escolas e repartições públicas

OS TIPOS DE QUIMONO
Havia três tipos básicos de quimono: sem forro, chamado hitoe; forrado, chamado awase; e o forrado com enchimento de algodão, denominado wataire. Também, os kosode hadagi, que seriam as roupas íntimas de hoje, os hakama, que correspondem às atuais calças, e até as faixas para quimono em duas versões: com e sem o forro. As pessoas adaptavam as vestimentas à temperatura, sobrepondo peças de algodão e de seda ou retirando-as para protegerem-se do frio ou do calor. O famoso juunihitoe era um conjunto de 12 peças de quimono vestidas sobre um quimono e hakama sem forros. No frio, usavam roupas com enchimento e também tabi (espécie de calçado de tecido). Pelas determinações do governo Tokugawa, não era usado o tabi no período entre 1º de abril e 8 de setembro.

No verão, as pessoas usavam roupas sem forro, e para as crianças havia o chamado kazami, que era um tipo de roupa íntima para absorver o suor. Posteriormente, as mulheres da nobreza também passaram a usar kazami com grandes aberturas nas laterais e com um comprimento maior por cima das roupas íntimas, e há registros de que brincavam prendendo vaga-lumes dentro dele.

A FESTIVIDADE DA TROCA DE VESTIMENTA NOS SANTUÁRIOS
Como preparativo para realizar diversas atividades dedicadas ao Deus Xintoísta, vestia-se quimono após uma purificação física, o que se transformou depois em uma atividade sazonal. Ao trocar as vestes, orava-se ao espírito divino para que pudesse passar a próxima estação com saúde. Esta atividade é realizada ainda hoje nos santuários Ise Junguu, Meiji Jinguu, Atsuta Jinguu e Dazaifu Jinja em Fukuoka, e em vários outros em todo o país. Mesmo no Budismo, a atividade é realizada em Kooyazan e outras localidades.

“PRIMEIRO DE ABRIL” É SOBRENOME
Sabe como se lê a data “primeiro de abril” escrito em ideograma? É watanuki (retirada de algodão), e ainda hoje há pessoas com esse sobrenome. Isto se deve ao costume de retirar nessa data o algodão que servia de enchimento das vestimentas.


Quimono hitoe, para o verão

KOROMOGAE
COMO KIGO
(TERMO INDICATIVO DA ESTAÇÃO DO ANO EM HAICAI)
Em haicai (poema japonês), koromogae passou a ser usada como palavra-chave para marcar a passagem da estação do ano.

“Echigo-ya ni koromo saku oto ya koromogae”, por exemplo., de Kikaku, significa: “Em época de koromogae, de Echigo-ya, ouvem-se sons de partir tecidos”. (nota do tradutor: Echigo-ya era uma conhecida loja de tecidos e que tinha o movimento acentuado na época da mudança de vestimenta).


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