Fotos: Divulgação
/ Arquivo NB
Parece que a procura pelo Dicionário Prático
Japonês-Português Michaelis, editado na semana
passada pela Aliança Cultural Brasil-Japão em
conjunto com a Editora Melhoramentos (preço: R$ 60,00)
está ocorrendo sem contratempos já que hoje é
fácil encontrar um exemplar em qualquer livraria, mas
nem sempre foi assim. Vamos abordar hoje o primeiro dicionários
japonê-português, que foi editado pelos jesuítas
em 1603, e o dicionário utilizado pelos primeiros imigrantes
japoneses no Brasil.
NIPPO
JISHO
Os jesuítas, Os jesuítas, que recebiam confissões,
precisavam entender os fiéis japoneses
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O
mais antigo dicionário japonês-português
já editado é o Vocabulario da lingoa de
japan com a declaraçao em portugues(com edição
suplementar em 1604). Dizem que deste dicionário só
restam quatro exemplares em todo o mundo. O dicionário
em questão foi confeccionado em papel japonês de
boa qualidade, impresso com tinta de igual qualidade no método
de impressão ocidental de calcografia. Sua réplica
foi reproduzida a partir de micro fish da Biblioteca Bodleian
da Universidade de Oxford e editada pela Benseisha e também
pela livraria Iwanami em tamanho original.
De
acordo com a explicação de Doi Tadao extraída
da edição Iwanami, este dicionário foi
editado tendo como fim a divulgação do cristianismo
no Japão pelos padres e freiras da companhia de Jesus.
Especialmente os jesuítas que recebiam as confissões
precisavam ouvir e compreender corretamente os fiéis,
inclusive entendendo os dialetos (os que diferiam da linguagem
de Quioto) e a linguagem dos incultos; e os que realizavam pregações
necessitavam dominar a linguagem refinada e elegante para explanar
diante da classe alta e culta. A quantidade de verbetes ultrapassam
32 mil. Não está grafado em kanji. Há outras
publicações que tratam de kanji e gramática,
mas, naturalmente, as explicações estão
voltadas à visão linguística sob ponto
de vista cristã e no conhecimento gramatical do latim,
tendo pontos de difícil compreensão para os modernos.
Exemplificando, o termo koi e kou (amor sensual
e enamorar-se) é considerado algo indecente,
distinguindo este tipo de amor entre pessoas com o amor de Deus.
O
ano de 1603 foi o ano em que Tokugawa constituiu o governo feudal,
e correspondeu a uma era de grandes mudanças da Idade
Média à Moderna. Infelizmente, não há
dicionários confeccionados por japoneses que tivessem
registrado a linguagem dos populares desta época. O mundo
vivia a era das grandes navegações, e era crescente
o interesse por terras desconhecidas para a ampliação
do território e difusão do cristianismo. Em 1543
os portugueses naufragados chegaram à Ilha Tanekojima
e em 1549 teve início o trabalho de divulgação
do cristianismo pelo frei Francisco Xavier. Há que admirar
a dedicação fervorosa dos jesuítas e a
sua postura científica nas pesquisas linguísticas
que levou à conclusão de um dicionário
português-japonês deste porte em menos de 50 anos.
Dicionário
dos imigrantes
O dicionário de Otake Wazaburo foi o mais utilizado
nos primeiros anos da imigração
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Segundo
Katsunori Wakisaka, coordenador da edição do dicionário
prático japonês-português, lançado
pela Aliança Cultural Brasil-Japão e Editora Melhoramentos,
dentre os dicionários japonês-português até
hoje editados, o que mais foi útil para os imigrantes
japoneses no Brasil foi aquele editado por Otake Wazaburo. Por
um acontecimento circunstancial, Otake, que tinha bom domínio
do inglês, conheceuo Príncipe Augusto Leopoldo,
neto de D. Pedro I, que estava a bordo de um navio de guerra
brasileiro aportado em Yokohama, e chegou ao Rio de Janeiro
no mesmo navio em 1890, portanto, 18 anos antes de Kasatomaru.
Ele ingressou escola naval do exército e depois de participar
de uma insurreição da marinha, foi expulso e retornou
ao seu país.
A
partir do ano 1897 até a Segunda Grande Guerra Mundial
trabalhou na consulado brasileiro no Japão. Percebendo
a importância do português no estreitamento das
relações diplomáticas e comerciais com
o Brasil, editou em 1918 o dicionário português-japonês
e em 1925 o dicionário japonês-português.
Wazaburo
faleceu em 1944, antes de concluir a revisão do dicionário
português-japonês. Dedicou sua vida à elaboração
de tais dicionários visando o benefício de seus
compatriotas cujas dificuldades com o idioma português
era grande. Wakisaka diz ainda que tais dicionários ainda
hoje podem ser utilizados e faz apelos para que seja reservado
ao autor um espaço dentro do Museu da Imigração
Japonesa para prestar-lhe a devida homenagem.