Em um artigo anterior, dissemos que o haicai tradicional japonês
tem três características: a forma (teikei), o corte (kire)
e a palavra de estação (kigo). Vamos exercitar a composição
de haicais através do estudo destas características, a começar
pela forma, que no haicai corresponde a três segmentos de 5, 7 e
5 sons, sem rima nem título. Na língua portuguesa, isso
é representado por um poema de três versos (linhas), com
5, 7 e 5 sílabas poéticas. Não entraremos em detalhes
sobre a contagem de sílabas poéticas (que é diferente
da contagem de sílabas gramaticais) nesta série de artigos.
Por ora, como lição de casa, leia o capítulo sobre
versificação de um bom livro de gramática, como a
Nova Gramática do Português Contemporâneo, de Cunha
e Cintra (ed. Nova Fronteira).
Sobre o que compor? Para facilitar o entendimento, podemos dizer que
qualquer haicai, mesmo o mais sublime dos clássicos, começa
de uma descrição muito objetiva, como uma fotografia. Portanto,
voltemos nossos olhos à paisagem ao redor, como fotógrafos,
procurando cenas interessantes. Por exemplo, podemos observar o fim de
ano, que é uma época de confraternização e
muitas festas. Em uma delas, alguém toca seu violão. As
pessoas em volta acompanham a música, cantando junto. Poderíamos
descrever a cena objetivamente, com a frase Todos cantam junto com
a moça que toca violão durante a festinha de fim de ano.
Vamos dividir esta frase arbitrariamente em três linhas (versos),
aproveitando para contar as sílabas poéticas:
Todos cantam junto (5 sílabas)
Com a moça que toca violão (9 sílabas)
Durante a festinha de fim de ano. (9 sílabas)
A contagem de sílabas ficou irregular, diferente do modelo tradicional,
de 5-7-5 sílabas. Entretanto, o haicai pode ser salvo. Veremos
isso na próxima edição.
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