O corte (divisão do haicai em duas seções) é
uma característica fundamental e obrigatória do haicai tradicional
japonês. Podemos explicar de outra maneira dizendo que, com o corte,
buscamos colocar duas imagens lado a lado, contrastantes, ou simplesmente
passar de um plano geral para um close-up. E o importante
é que serão exatamente duas imagens, nem uma nem três.
Para o estudante que escreve em português, é mais fácil
compor o haicai em duas orações e distribuí-las por
três linhas. No entanto, é possível manter o corte,
mesmo construindo o haicai em uma única oração:
À beira da estrada
Com as abelhas divido
Meu caldo de cana!
Neste haicai de Teruko Oda, uma câmera imaginária parte
de uma situação geral (beira da estrada) e termina focalizando
a autora numa situação divertida.
Nas folhas rasgadas
Da bananeira de inverno
Como é livre o vento
Este haicai de Eunice Arruda inicia-se com o melancólico close-up
da bananeira de folhas rasgadas e, em seguida, registra o vento que perpassa
o cenário, presente na reflexão da autora.
Num jornal de ofertas
Chega às ruas da favela
O Papai Noel.
Este haicai de Teruko Oda começa com o foco no jornal de ofertas
de uma loja qualquer, farta e gratuitamente distribuído nas suas
redondezas. Entretanto, a partir do segundo verso, a cena abre-se para
uma favela, onde a figura estampada de Papai Noel serve apenas para alimentar
os sonhos irrealizáveis de seus habitantes.
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