O corte é uma característica tão fundamental do
haicai japonês que, para muitos autores, define a fronteira entre
o haicai e seu gênero-irmão, o senryû, com o qual compartilha
o formato de 5-7-5 sílabas. Isto é, se o poema tem kire
(corte), trata-se de haicai. Se não tem, trata-se de senryû.
Nos haicais em português, muitos autores usam o travessão
() para indicar o corte. Mas seu uso deve ser criterioso. Vejamos
o exemplo abaixo:
Quando finda o dia
Ao som dos sinos da igreja
Pássaros gorjeiam.
O travessão é usado de maneira errada. O terceiro verso
é uma oração de sentido completo, mas o primeiro
e o segundo verso são dependentes do terceiro. Um travessão
aqui equivale a colocar um ponto final, o que é errado. O haicai
é corrigido simplesmente ao eliminarmos o sinal:
Quando finda o dia
Ao som dos sinos da igreja
Pássaros gorjeiam.
Por outro lado, uma pequena modificação nas palavras deixaria
o corte mais evidente:
Quando finda o dia
O som dos sinos da igreja
Pássaros gorjeiam.
Aqui, o primeiro e o segundo versos podem ser lidos como uma oração
de sentido completo, à qual sobrepomos o terceiro verso, também
de sentido completo, formando um contraste entre pássaros e sinos,
separados pelo travessão.
Lembramos que, no lugar do travessão, pode ser usado um simples
ponto final (.) ou mesmo reticências (...). O estudante também
deve ter em mente que, em caso de dúvidas no uso da pontuação,
é melhor não usar nenhuma. Neste caso, a falta é
melhor que o excesso.
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