História
do Haicai |
Arakida Moritake (14731549) |
tobi-ume ya
karogaroshiku mo
kami no haru |
Tradução:
Voa o papel
Junto às flores de ameixeira
Primavera dos deuses. |
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Ao vislumbrar uma ameixeira no santuário
de Ise, Moritake, ele mesmo sacerdote xintoísta, teria se lembrado
da curiosa lenda da Ameixeira Voadora (tobi-ume). Sugawara-no-Michizane
(845903), intelectual e político, foi desterrado por causa
de falsas acusações. Havia, no jardim de sua casa, uma ameixeira
que ele muito amava e à qual dedicou um poema de despedida: Ao
soprar o vento leste,/ Exalem seu perfume,/ Oh, flores da ameixeira!/ Mesmo
longe de seu mestre,/ Não se esqueçam da primavera.
Diz a lenda que a ameixeira voou de Quioto até Dazaifu (atual Fukuoka)
para reencontrar seu dono. No haicai de Moritake, a expressão primavera
dos deuses (kami no haru) denota o início da estação
em um santuário xintoísta. Também há o recurso
ao trocadilho, no qual a palavra kami pode ser lida como deus
ou papel. Assim, a imagem da ameixeira que voa conduz à
idéia da leveza (karogaroshiku) das folhas de papel (kami) que o
vento traz junto com as flores, ou à leveza da própria primavera
que chega ao santuário por obra dos deuses. O haicai sustenta-se
por este trocadilho, servindo como um modelo das técnicas da época. |
rakka eda ni
kaeru to mireba
kochô kana |
Tradução:
Uma flor que cai
Ao vê-la tornar ao galho,
Uma borboleta! |
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Este haicai tem dois kigos referentes à
primavera: flor caída e borboleta. Entretanto, como, dentro dos versos,
apenas a palavra borboleta tem existência real, é ela que caracteriza
a estação do poema. Nele, uma flor (provavelmente de cerejeira)
desprende-se do galho e desce placidamente em direção ao chão,
até que, talvez soprada pelo vento, passa a subir e, inesperadamente,
volta ao mesmo galho de onde saiu. Observando melhor, descobre-se que se
trata, na verdade, de uma borboleta. Este haicai poderia ser entendido como
o resultado de um exercício de observação atenta. Entretanto,
lembramo-nos de uma frase da famosa peça de teatro Nô de Zeami
(1363-1443), Yoshitsune em Yashima, que diz: Uma flor caída
não retorna ao galho. Moritake simplesmente inverteu o sentido
dessas palavras, originando daí a graça do poema. Trata-se
de um haicai muito famoso no Ocidente, talvez ombreando em popularidade
com o haicai da rã, mas cujo valor poético tem sido discutido.
Para seus críticos, trata-se de um poema de humor calculado e pouco
conteúdo que, ainda que seja uma descrição perfeita,
é incapaz de provocar emoção, ou seja, de evocar poesia. |
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