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Nishiyama Sôin (1605-1682) |
kabashira
ni
ogakuzu sasou
yûbe kana
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Tradução:
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Pó de serragem
Contra o enxame de mosquitos
Anoitece agora.
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Nos dias abafados de verão, enxames de
mosquitos, nascidos nos charcos e canais dos arredores da cidade, aproximam-se
das casas e tomam a forma de uma coluna, quando vistos ao lusco-fusco do
anoitecer. Vem daí o significado literal da palavra kabashira, coluna
de mosquitos. Para conter esta desagradável invasão,
o único recurso da época era queimar pó de serragem.
Na ausência de vento, a fumaça resultante, também formando
uma coluna, ia de encontro ao enxame de mosquitos, afugentando-os. Pode-se
dizer que, à moda jocosa de Sôin e da escola Danrin, coluna
e serragem, por serem palavras comuns ao ofício do carpinteiro,
são relacionadas como engo. Porém, na tradição
clássica, o engo é um recurso estilístico que denota
palavras aproximadas por significado e por fortes associações
culturais e poéticas. Por sua vez, o vocabulário de Sôin
é o das pessoas comuns e remete à vida cotidiana dos habitantes
das cidades da Era Edo, em especial a ascendente classe dos mercadores,
onde o mestre ia buscar seus discípulos. A estação
é verão e o kigo é kabashira (enxame de mosquitos). |
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nagamu
tote
hana ni mo itashi
kubi no hone
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Tradução:
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Cerejeira em flor
De tanto olhar até doem
Os ossos do pescoço.
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Com o olhar continuamente voltado para o alto,
a fim de admirar a florada das cerejeiras, o pescoço do poeta acaba
acusando o mau-jeito. Este haicai baseia-se em um waka de Saigyô (1118-1190),
publicado na antologia imperial Shinkokinshû: nagamu tote hana
ni mo itaku narinureba chiru wakare koso kanashikari kere, que diz
mais ou menos o seguinte: De tanto contemplar, agora sou íntimo
demais destas flores. Enfim, quando caem ao chão, como é triste
a despedida!. A palavra itaku (muito, demais) do waka é substituída
por itashi (doer) no haicai. Ainda que trocadilhos e paródias de
poemas antigos fossem comuns também na escola Teimon, é a
audácia de rebaixar o clima de elegante melancolia do clássico
de Saigyô até o limite da vulgaridade que caracteriza a nova
escola Danrin, fundada por Sôin. Não poupando de sua irreverência
nada que fosse clássico ou venerável, servia de antítese
ao humor bem-comportado e moralista da escola rival Teimon. Também
inovou ao retratar em seus versos as atividades diárias das pessoas
comuns. É famosa a frase de Bashô: Se não fosse
por Sôin, ainda hoje estaríamos lambendo a baba de Teitoku.
O kigo é hana (flor de cerejeira) e a estação é
primavera. |
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